O trade turístico do Brasil ainda é predominantemente branco, diz executiva
Há mais de 30 anos trabalhando no setor, Tania Neres viu pouco mudar na questão racial dentro do Turismo
Há mais de 30 anos trabalhando no mercado do Turismo, em empresas dos mais variados portes e estilos, Tania Neres viu pouca coisa mudar, pelo menos no que diz respeito às posições de poder e a presença de profissionais negros nessas funções. "Agradecemos a cada empresa do trade que nos dá um espaço de fala nos eventos, mas ainda não é o bastante", afirma a atual gerente Comercial da Bahiatravel Operadora.
Em um artigo que chega no dia seguinte ao Dia da Consciência Negra, Tania sinaliza que ainda há muito a ser conquistado pelo povo preto no Turismo e cobra: "Além de falar precisamos ter o lugar de escuta de quem realmente pode mover este mercado".
O texto completo pode ser lido a seguir.
"O Trade Turístico no Brasil é branco!
É visivelmente percebido em todos os eventos que acontecem durante todo o ano no Brasil, andando pelas feiras de Turismo que a maioria dentro dos estandes é branca. Os negros continuam sendo maior em número quando o assunto é: garçons, copeiras, faxineiros, entregadores de panfletos, bilheteiros etc.Estou no Turismo desde 1989 e nunca me senti só no meu setor operacional, porque lá somos maioria, mas quando falamos de líderes, gestores, minhas referências ainda são quase zero. Nada mudou até hoje, depois de 33 anos, e quando digo isso muita gente diz que já mudou muito e pra melhor. Se mudar para melhor é ter quatro pessoas negras dentre os 100 mais Poderosos do Turismo é muito, então você pode ter razão, afinal fica até fácil de encontrar estas quatro pessoas num evento já que destoam demais entre as outras pessoas.
Outro fator super relevante, é que temos que ficar atentos a todos os eventos sobre o Futuro do Segmento do Turismo que acontecem no mercado, e sempre temos que contatar as empresas que estão promovendo para fazer a seguinte pergunta: por que não fomos convidados para falar do segmento que mais cresce no mundo? Estamos sempre tendo que pedir para participar, e o contrário seria estarmos em todos com o grau de importância que o tema merece ter.
Outra coisa bem importante é que podemos e queremos participar de todos os temas também, mas quando nos procuram querem que falemos somente sobre racismo e afroturismo. Como se não soubéssemos discutir assuntos como economia do Turismo, mercado de agências, criação de bases de atendimentos, futuro do Turismo sustentável, marketing para o progresso do Turismo e tantos outros temas.
Sou grata pelo PANROTAS estar nos dando maior espaço para que possamos falar sobre o mercado, por me ceder um blog e mostrar para o trade que existimos. Queremos estes espaços nas empresas. Vemos algumas caminhando a passos lentos, mas caminhando e outras se utilizando da "moda da inclusão" para conseguir se destacar no mercado e parecer que existe preocupação mas quando olhamos as fotos de seus staff's de liderança e como sempre não vemos uma diversidade.
Enquanto não houver dentro das frentes de lideranças pessoas negras, continuaremos dando pequenos passos ao mercado econômico, onde todos sabemos que por conta de péssimas notas dos viajantes negros do mundo todo que estão sempre sendo "confundidos" nos espaços onde negros só podem ser vistos no local de servir e não de usufruir.
Na realidade, o Novembro Negro era para que os negros tirassem férias, e os brancos estivessem estudando e aprendendo a ser conscientes em saber que somos a terceira maior população negra fora da África, e que o Brasil não existiria não fosse a força dos negros sequestrados de suas casas para construir um País.
O Afroturismo é o Resgate de tudo que foi apagado. Por ele, pretendemos corrigir um erro histórico de 400 anos em que destinos dentro do Brasil podem se tornar potências econômicas, e para fortalecer o mercado trazendo viajantes e também enviando viajantes para se reconectarem aos seus ancestrais em qualquer lugar do mundo.
Agradecemos a cada empresa do trade que nos dá um espaço de fala nos eventos, mas ainda não é o bastante, além de falar precisamos ter o lugar de escuta de quem realmente pode mover este mercado.
Provérbio Africano
"O eco da primeira palavra fica sempre no coração"
Em virtude do mês da Consciência Negra e do dia nacional, celebrado ontem (20), a PANROTAS publicou uma sequência de artigos refletindo sobre o papel dos profissionais negros no contexto atual do setor. Publicaram também artigos a respeito do tema: