Karina Cedeño   |   03/09/2024 13:12
Atualizada em 03/09/2024 16:08

Global Travel é acusada de não honrar pacotes dos agentes; operadora nega

Agentes de viagens alegam prejuízos financeiros e morais; proprietário da operadora se diz vítima de golpe


Profissionais prejudicados contam que foram deixados na mão pela Global Travel após venderem os pacotes

A operadora Global Travel está sendo acusada por agentes de viagens e ex-funcionários de não entregar os pacotes vendidos aos clientes. A denúncia, que partiu da agente de viagens Flavia Regina França de Oliveira, CEO da Soul Tour RJ, também foi confirmada por cerca de 60 profissionais, entre agentes de viagens e ex-funcionários da operadora que participaram de reunião por videoconferência junto ao Portal PANROTAS.

Eles relatam que foram deixados na mão pela Global Travel após venderem pacotes. Segundo eles, desde julho a empresa atestou que não conseguiria seguir com as operações. Além dos prejuízos financeiros, alguns agentes também relataram danos morais, pois chegaram a ser ameaçados por clientes. Dizem, ainda, que o proprietário da Global Travel, Renan Machado, debochou da situação e faltou com respeito em reunião on-line. Muitos agentes tiveram que operar os pacotes com recursos próprios para honrar os seus clientes, a fim de evitar maiores danos à imagem de suas agências.

Flavia Regina França de Oliveira, da Soul Tour RJ, conta que vendeu pacotes da Global Travel por três meses, mas começou a desconfiar dos preços divulgados. “Quando a operadora começou a postar pacotes para Foz do Iguaçu e Porto de Galinhas por R$ 990 com quatro diárias, aéreo e transfer, suspeitei da veracidade. Não tem como operar Foz por esse valor, que não paga nem o voo. Nós investimos o dinheiro do cliente e a conta é feita milimetricamente”, conta Flavia.

Quase R$ 30 mil em prejuízo

De acordo com ela, os pacotes tinham datas flexíveis, que podem ser escolhidas pelo cliente. Quando chegou o momento de os clientes viajarem, a operadora só entregou dois pacotes na data estipulada, deixando Flavia na mão nas demais operações. A isso se seguiram mudanças constantes nos contratos e muita dor de cabeça, segundo a agente de viagens, que relata mais de R$ 28 mil de prejuízo. Ela também destaca o fato de haver diversas reclamações sobre a operadora no site Reclame Aqui.

Ao lado de Flavia, dezenas de agentes de viagens que preferem não se identificar fizeram relatos ao Portal PANROTAS, nos quais acusam a Global Travel de não honrar pacotes vendidos. Mais e mais prejuízo. Uma ex-funcionária da Global Travel revela que foi o próprio dono da operadora, Renan Machado, quem deu início às suspeitas.

“O Renan tinha acesso à parte financeira da empresa e, de uns meses para cá, começou a fazer alguns saques bancários abusivos. Pessoas que trabalhavam na equipe dele começaram a questionar esses saques, os quais ele justificava como sendo saques de investimentos. A conta ficou zerada, ele disse que não tinha como repor esse dinheiro e a equipe achou que ele deveria se explicar para os agentes de viagens, já que não concordava com a situação.”

Ainda segundo a ex-funcionária, o proprietário veio, então, a público, dizer que não tinha o capital da operação e que não conseguiria repô-lo. Depois disso, os agentes pararam de fazer as vendas. “Mas o Renan pediu a eles que continuassem vendendo e isso foi a gota d’água]”, relata, acrescentando que os funcionários da Global Travel começaram a se demitir por não concordar com a situação.

Operadora Juntos Pelo Mundo assume pacotes

Diante dos ocorridos, a operadora Juntos Pelo Mundo, que tem como proprietários Caio César Magalhães e Débora Dalvanso (ex-funcionária de Renan Machado), se ofereceu para assumir os pacotes que não foram honrados pela Global Travel. Em acordo direto com as agências lesadas, a maioria delas resolveu migrar para a Juntos Pelo Mundo, trazendo consigo os pacotes que eram da Global Travel para serem operados sem custo extra, dando continuidade às viagens normalmente, o que, segundo depoimentos de agentes de viagens ao Portal PANROTAS, os tranquilizou em relação às viagens de seus clientes.

Ainda assim, há agentes que optaram por não migrar seus pacotes para a Juntos Pelo Mundo, como é o caso de Flavia Regina França de Oliveira, da Soul Tour RJ. Ela tem arcado com os prejuízos do próprio bolso para conseguir entregar as viagens de seus clientes. O advogado da Juntos Pelo Mundo, Ronaldo França, afirma em comunicado que as agências que optaram em não efetivar a alteração da operadora devem procurar diretamente a Global Travel para obter a ativação dos seus pacotes ou o reembolso dos valores desprendidos.

Ronaldo França também afirma que a Juntos pelo Mundo assumiu a operação dos pacotes em solidariedade aos agentes, mediante um estudo financeiro, jurídico, operacional e comercial, visando ao resguardo das agências e dos consumidores finais.

Proprietário da Global Travel se diz vítima de golpe

O proprietário da Global Travel, Renan Machado, também deu seu depoimento ao Portal PANROTAS e, segundo ele, a história é outra. “As ex-diretoras da empresa foram levianas e, em determinado momento, apagaram todos os boletos, cadastros dos vendedores e vendas do sistema. Fizeram tudo pelas minhas costas e decidiram sair da empresa, porque elas não estavam satisfeitas. Decidiram se juntar à Débora [Dalvanso], que era diretora geral, para fazer as operações na Juntos pelo Mundo”, afirma Renan.

“Tanto é que elas estão oferecendo uma suposta portabilidade, o que no Turismo nem existe. Pegaram toda a carteira de clientes para continuar as operações, porque, lógico, os clientes vinham por meio delas. De fato, não estamos fazendo as viagens porque não tem como, elas quebraram a empresa, toda a direção saiu e decidiu montar por conta própria a operação dos pacotes que eram da Global na Juntos pelo Mundo”

Renan Machado, proprietário da Global Travel

Ele confirma que fez os saques de dinheiro da operadora, mas que esses saques eram extraídos dos lucros da empresa. “A Global Travel participava de uma holding, da qual eu era proprietário. Fiz saques, sim, mas estes eram feitos com o lucro que a empresa dava. O dinheiro que foi retirado e o qual eu investi em outras empresas não era do fluxo de caixa da Global Travel, era do lucro. Então, não foram saques indevidos, foram saques do dinheiro ao qual tenho direito, afinal, sou o dono da empresa”.

Ele conta que no ano passado a empresa faturou cerca de R$ 28 milhões, sendo 17% de lucro líquido, e que os saques foram feitos em quantia inferior a essa porcentagem. O proprietário da Global Travel também relata um caso envolvendo as ex-diretoras da empresa. “Elas falaram que a empresa estava devendo para uma consolidadora e que, por isso, tinham que fazer as contas no nome delas. Porém, quando chegou o mês de junho, fui falar com o dono dessa consolidadora e descobri que nunca houve essa conversa sobre dívidas da Global Travel. As ex-diretoras usufruíram da minha confiança para receber valores em suas contas e diziam que era para pagar essa consolidadora”, comenta.

Débora Dalvanso, por sua vez, nega esse fato e diz que os saques feitos por Renan eram das operações da Global Travel. O Portal PANROTAS teve acesso a áudios enviados por Renan Machado aos agentes de viagens, nos quais eles assume ter feito investimentos que deram errado. Machado não confirma essa informação.

Um comunicado emitido pelo advogado da Juntos Pelo Mundo, Ronaldo França, diz que eventuais indícios de crimes cometidos pela empresa Global Travel e seu titular estão sendo comunicados aos órgãos competentes para apuração dos fatos e instauração dos procedimentos cabíveis.

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