Artur Luiz Andrade   |   24/06/2024 11:20
Atualizada em 24/06/2024 11:30

Edição Especial LGBTravel: leia o editorial - Sexo na cabeça

Revista PANROTAS 1.581 traz uma edição especial sobre a indústria do Turismo no segmento LGBTQIA+

Grande parte do preconceito e das barreiras que a sociedade cria em relação à população LGBTQIA+, incluindo os viajantes que querem ser eles mesmos em qualquer lugar do planeta, vem dos tabus pessoais de cada um e da associação das relações entre pessoas apenas à parte sexual. Quando, na realidade, essa é a parte que nem deveria importar, pois o que cada um, seja qual for a orientação, faz entre quatro paredes é um problema ... deles e de ninguém mais. É como ser contra o casamento homoafetivo... em que isso vai te afetar? Você que vai casar? Ah, mas a minha religião... Então você já deveria ter abandonado sua religião diante de escândalos, a maioria sexual, envolvendo padres, pastores, médiuns e tantos outros que usam a fé para a exploração sexual - incluindo de menores de idade. Mas se isso não abala sua crença na religião por que o que duas pessoas que você sequer conhece fazem te incomoda tanto?

Quando um casal hetero (homem cis e mulher cis) faz check-in em um hotel, a normalidade que nos ensinaram trata de tornar tudo sem especulações ou questionamentos – não importando fantasias e elocubrações sobre o que eles vão fazer nesse quarto (e não importa mesmo). Mas se duas mulheres ou dois homens ou uma mulher mais velha com um homem mais novo ou uma pessoa trans e uma outra cis se apresentam, o preconceito vem turbinado pela questão sexual. E vira “pecado” na cabeça de muitos... “Pecado” dos outros e que não afeta em nada quem está toda semana de joelhos pedindo perdão por seus próprios “pecados” – como julgar os outros.

Outro receio é sobre o que as crianças podem ver e assimilar. Crianças precisam aprender sobre respeito e não sobre sexualidade (isso deveria ser ensinado mais adiante – o que também não é). Qualquer casal se comportando de maneira inadequada (segundo os padrões do estabelecimento ou do destino) na frente de crianças deve ser advertido. Não só os LGBTQIA+. Então o que as crianças devem aprender é sobre essa adequação – para qualquer gênero, para qualquer patente. A Geração Z (ou seja, os jovens ainda chegando ao mercado de trabalho) já é a que mais se identifica como LGBTQIA+ (cerca de 30%, contra 8% das gerações mais velhas) e isso é fruto de uma sociedade mais tolerante. De educação. De respeito. Um novo mundo que não volta ao passado de rótulos e ditaduras.

Religiosos precisam apenas praticar a tolerância e o respeito que suas religiões pregam. Conservadores precisam aprender sobre democracia e viver em sociedade – sim, e nas suas casas só receberem quem eles quiserem. Não precisa chamar pra jantar, apenas respeitar. Ninguém estará obrigando um homem macho alfa a se casar com outro só porque é permitido pela lei. Assim como, para dar outro exemplo, nenhum hetero top precisa se casar sequer com uma mulher cis se ele não quiser. As pessoas fazem o que quiserem, dentro do que permite a lei. E ter de casar com uma mulher não é lei, apenas pressão da sociedade. Libertem-se dessas amarras... Já o Turismo, precisa receber bem a todos. Ter regras claras sobre inclusão e diversidade. E se não quiser receber esse ou aquele turista (e se a lei permitir essa seleção duvidosa) – que deixe tudo transparente e não subentendido ou camuflado. Sabendo que diversidade do viajante cada vez mais declarada e evidente não tem volta. Assim como dos colaboradores.

Ninguém quer fazer sexo em cima do balcão da recepção ou entrar pelado em um restaurante. Ninguém precisa saber dos gostos de gays, heteros ou beatos na hora do sexo. Ninguém quer ser julgado negativamente e ser alvo de preconceito. Todos querem ser bem-vindos em destinos e empresas de Turismo, não importa a cor da pele, a orientação sexual, a idade, a religião, a região de onde vêm, a posição política...

E lembre-se: você até pode ser contra os membros da comunidade LGBTQIA+, porém tem grandes chances de virar o alvo em alguma rede de ódio no mundo atual. Afinal, você não gosta de gays, mas outros podem não gostar de velhos – e alijá-los cada vez mais do dia a dia da sociedade (quantos anos você tem?). Ou muitos podem odiar gordos (você se encaixa nos padrões de beleza ditados pelos homens brancos e velhos? Está com quantos quilos?), judeus, árabes, pessoas com doenças mentais ou de pele, mulheres solteiras com filho, nordestinos, gaúchos, portadores de necessidades especiais, homens baixos, homens muito altos, homem que cheiram mal ou homens pobres... há ódio para todos os gostos, para todas as lógicas tortas e se você não quer ser alvo de algum deles, trabalhe contra todo tipo de ódio. Inclusive o ódio à comunidade LGBTQIA+, que viaja mais que a média, gasta mais que a média nas viagens, é fiel a marcas e destinos que bem recebem a todos e está criando um novo conceito de família.

Sua decisão de bem recebê-los fará a diferença, e a lei que pune a discriminação é apenas o primeiro passo para um Turismo e uma sociedade inclusivos e respeitosos. Não espere a lei para agir e não aja contra a lei. Aja pelo Turismo mais inclusivo e diverso e pelo respeito a seus clientes, colaboradores e amigos. E familiares, que podem ser alvos de qualquer tipo de preconceito. Qualquer tipo de ódio que decida agir. E não queremos esperar sermos atingidos para fazermos o que é certo. Certo?

Boa leitura e Happy Pride

O editorial foi retirado da Revista PANROTAS 1.581 - Edição Especial LGBTravel. Leia todo o conteúdo na edição digital a seguir:

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