Da Redação   |   11/04/2022 14:00

Mariana Aldrigui fala sobre inclusão no Turismo em artigo

Em artigo, a presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP aponta caminhos para um setor mais diverso



Além da premiação dos Melhores do Turismo, a edição especial da Revista PANROTAS com a lista dos melhores distribuidores de viagens apresenta reportagens especiais sobre tendências no Turismo, artigos a respeito de diversidade e novidades da WTM Latin America.

O artigo a seguir, escrito pela professora e pesquisadora em Turismo na EACH/USP; coordenadora da Ong GTTP no Brasil; presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP; e membro do Comitê de Diversidade da WTM Latin America, Mariana Aldrigui, é parte integrante da edição 1.514. O texto de Mariana joga luz sobre os preconceitos enraizados na sociedade e no mercado de trabalho, buscando discutir inclusão e diversidade para traçar um caminho de mudança.

Confira o artigo na íntegra:

PANROTAS / Emerson Souza
Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
O desafio diário da inclusão
Demorou, mas aconteceu. Era ainda o ano de 2009, talvez 2008, e senti na pele (na verdade no estômago, ou talvez no fígado) o efeito do machismo – um indivíduo que trabalha na mesma organização que eu, e com quem mantinha excelente relação, não apenas boicotou a minha participação em um projeto, como reiteradas vezes repetiu a frase “não dê importância ao que ela fala, ela é mulher”. Parecia brincadeira, mas não era.

Até então eu havia trabalhado em diferentes empresas do Turismo, todas com equipes muito diversas, com contatos em diferentes partes do Brasil e do mundo, e nada parecido estava registrado na minha memória de incômodos. Mas bastou esse momento de indignação, perplexidade até, para que eu pudesse, muito lentamente, compreender que episódios assim aconteciam desde sempre e com muita gente. Na universidade, espaço em que idealmente se debatem ideias e se constroem novas abordagens, eu esperaria, talvez ingenuamente, que isso fosse exceção. Mas ao contrário, é regra e acaba por perpetuar uma série de conceitos e pré-conceitos para os alunos que, por sua vez, levam isso para a sociedade. Ainda assim, nos corredores, salas e mesas de discussão se consolidam movimentos interessantes envolvendo diálogos sobre temas tidos como controversos, e que ecoam nos corações e mentes dos jovens ainda não desanimados com a realidade deste Brasil.

Foi por ouvir alunas e alunos sobre as questões raciais, sobre as piadas de (extremo) mau gosto feitas por professores, pelas dificuldades enfrentadas por alunos de diferentes segmentos da sociedade, por muitas lágrimas de jovens vítimas do preconceito LGBT(QIAP+), que entendi a necessidade de sair de uma postura passiva para algo mais pragmático. Com eles aprendi a contemplar alternativas complicadas, muitas vezes com resultados de longo prazo, a avaliar propostas consideradas utópicas, mas que ainda assim foram abraçadas e transformadas em meta, em padrão desejável, em hábito, para que em pouco tempo passem a ser tão naturais que nem precisemos mais falar sobre elas. Parece ingênuo, mas não é.

Discutir diversidade e inclusão passa, necessariamente, por aceitar diariamente todos os nossos preconceitos, e verbalizar o compromisso pela mudança. Reconhecer que estamos errados há muito tempo, talvez involuntariamente, mas que é a por nossa própria vontade e iniciativa que faremos tudo para derrubar qualquer um dos muros que separam os brancos privilegiados do grande grupo que é verdadeira sociedade brasileira.

Cada um de nós sabe a posição em que está e o que pode fazer – do processo seletivo de novos colaboradores à correta adequação do espaço a todas as pessoas, respeitando cada indivíduo no que ele tem de mais importante – a sua existência, completa e integrada.

Não se trata de redigir manual ou listar item a item o que deve ser feito, pois isso já existe e é acessível. O compromisso agora é usar sua voz, suas postagens, suas recomendações para valorizar as iniciativas inclusivas e, se necessário, boicotar a repetição (aquele eterno painel só com homens brancos cis héteros). E como consumidores, de produtos, serviços e informações, que saibamos reconhecer quem trabalha com seriedade por mais diversidade.”



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