36 anos de Festuris: Marta Rossi conta trajetória da feira de Gramado (RS)
Em 1989 nascia o Festuris, que começou como um desejo da empresária e sua sócia e amiga Silvia Zorzanello
Nesta sexta-feira (8) está oficialmente aberto o Festuris de 2024. A feira que fecha o ano, e é realizada desde 1989 em Gramado, na Serra Gaúcha, chega neste ano na maior edição da história, com a participação de 53 países e um público esperado superior a 15 mil participantes.
Superação, recuperação, esperança e retomada são algumas das palavras que podem ser ditas a respeito do evento que teve sua cerimônia (emocionante) de abertura ontem (7), depois de meses muito difíceis para o Estado gaúcho por conta das fortes chuvas que devastaram cidades e desabrigaram milhares de pessoas.
Mas resiliência é a palavra-chave de Marta Rossi e Eduardo Zorzanello e de toda a organização por trás do Festuris, desde o início. Por que? Leia a entrevista com Marta a seguir e veja os motivos deste 36º Festuris ser especial e como a feira se reinventou desde então.
Festuris: 36 anos mostrando Gramado para o mundo
Há 36 anos nascia o Festuris na garagem do hotel Serrano (hoje Wish Serrano Resort), em Gramado, no Rio Grande do Sul. O que começou como um desejo de Marta Rossi e Silvia Zorzanello de desenvolver o setor de eventos da Serra Gaúcha e reposicionar o Estado no mapa turístico, se transformou em uma das principais feiras de Turismo do calendário nacional – a que fecha o ano –, consolidando o destino na rota dos importantes motores da indústria.
Muita coisa mudou de lá para cá. A Feira Internacional de Turismo passou a ser chamada cada vez mais apenas de Festuris, cresceu, se internacionalizou e de feira de negócios se transformou em um verdadeiro hub de conexões e relacionamento, trazendo não somente estandes das marcas expositoras, mas palestras, áreas de conteúdo, ESG, arte e cultura.
Perguntada se imaginava que o evento em Gramado seria este sucesso que é hoje, que chegaria aonde chegou, Marta, fundadora ao lado de Silvia e CEO da Rossi & Zorzanello Feiras e Empreendimentos, conta que à época elas desenhavam um cenário grande, mas que não esperava o tamanho que a feira se tornaria.
“E pensar que, em 1988, os europeus não sabiam nem onde era o Rio Grande do Sul, como íamos mostrar Gramado? Nunca imaginamos o crescimento do Festuris, mas, principalmente, a responsabilidade que ele nos trouxe quanto empresárias no setor. Até hoje me preocupo no sentido de fazer ainda melhor, de entregar cada vez mais, pois é uma responsabilidade muito grande. Lá no início, queríamos ser grandes. Ficávamos com medo, mas dizíamos que não tinha mais como voltar atrás e assim fomos tocando o projeto. Seria mais fácil ter delimitado o crescimento”, brinca Marta
Receita para o sucesso
Entre os fatores que a empreendedora acredita que contribuíram para o sucesso do evento, um dos principais seria a cara, a personalidade, a alma do Festuris. A empresa por trás (Rossi & Zorzanello) está junto dos clientes, do começo ao fim do processo. E quando ela diz “estar junto”, ela se refere a ela mesma e ao Eduardo Zorzanello, filho de Silvia, e também CEO da companhia, que toca a feira ao lado de Marta.
“Sem contar o time que conseguimos formar, que não somente veste a camisa no corpo, mas na alma. E, aí, conseguimos fazer a entrega com excelência. Claro que durante o processo acontecem falhas, mas há uma equipe preocupada, tentando solucionar os imprevistos que ocorrem”, pontua.
E com o crescimento e reconhecimento da feira, veio junto sua transformação, que muito foi impactada pelo surgimento das novas tecnologias. Desde os processos internos de gestão e administrativos, até a forma de acesso e conexão dentro do próprio Festuris. Com a aceleração digital, os expositores mudaram, chegaram novos segmentos, assim como o buyer também se transformou.
“Os últimos 15 anos no Turismo sofreram uma mudança bárbara. Embora continue uma feira, onde comercializamos o espaço, fazemos as áreas de conteúdo, isso sozinho já não vende mais. Quem trabalha no Turismo tem a obrigação de fazer reciclagem e buscar conhecimento diário. Temos de conhecer o que o mercado tem de novo e como trabalhar o setor, além da segmentação turística”, afirma Marta Rossi.
Perda de Silvia e entrada de Eduardo
O falecimento precoce de Silvia Zorzanello em 2010, vítima de um câncer, foi uma das grandes perdas do Turismo, principalmente em um momento em que o Festuris caminhava para a sua 22ª edição, mostrando toda a potencialidade de Gramado e do Rio Grande do Sul como um todo. Foi também um dos momentos mais difíceis da trajetória pessoal e profissional de Marta, que perdeu sua sócia e grande amiga.
A executiva conta que o início foi difícil e a vontade foi de desistir. Mas era um desejo de Silvia colocar seus filhos, Marcus Vinicius (Marta) e Eduardo (Silvia), para dentro da empresa para que o legado continuasse. Marcus Rossi acabou deixando a Rossi & Zorzanello e atualmente é CEO do Gramado Summit, mas Eduardo Zorzanello vem, desde então, ocupando o espaço de sua mãe com maestria, deixando viva a trajetória criada por ela.
"A vinda do Edu deu dinâmica para o Festuris, trouxe internacionalização. Ele é um parceiro, um grande amigo. Tem o mesmo jeito da Silvia, é sensível. No começo foi desafiador e tivemos alguns conflitos, mas a partir do momento que nos demos conta que, à época, tínhamos uma empresa de 20 funcionários dependendo da gente, que éramos importantes, sim, para a comunidade, que tínhamos uma responsabilidade, tudo começou a fluir melhor”, relembra Marta
Impacto – mais que positivo – para Gramado
Já que o Festuris nasceu com o intuito de mostrar Gramado e toda a região da Serra Gaúcha para o mundo, o destino foi forte e positivamente impactado pela feira e pela fomentação da economia que ela vem gerando há 36 anos. Na edição de 2023, cerca de 2,5 mil marcas participaram, distribuídas em pelo menos 400 unidades de negócios como mesas, balcões, lounge e estandes. No ano passado, 40 destinos internacionais estiveram em Gramado. Para esta edição já estão confirmados 53 países e espera-se um público de 15 mil pessoas.
“Gramado é o que é hoje porque sempre teve lideranças muito fortes que entenderam a força econômica do Turismo, mas que também valorizaram a importância dos meios de comunicação para transformar o destino. O destino e nós, como empresa, conseguimos criar parcerias sólidas para manter uma divulgação forte, para que o Turismo sempre fosse assunto”, diz Marta.
Para além do impacto positivo, o Festuris também enfrentou duas grandes adversidades nos últimos anos – e mostrou sua resiliência. A pandemia de covid-19, em 2020, e, mais recentemente, as fortes enchentes que atingiram todo o Estado do Rio Grande do Sul.
A feira foi o primeiro evento de calendário na América Latina a ser retomado presencialmente, com todos os protocolos de saúde da época, e ficou marcada como o precedente da volta dos encontros presenciais no País. Foram cinco mil inscritos e mais de seis mil reuniões realizadas.
Pandemia superada, maio de 2024 e o Estado gaúcho é afetado por chuvas que deixaram cidades sob a água, milhares de desabrigados, famílias que perderam tudo e fechamento do principal aeroporto (o Salgado Filho). Um cenário sem igual e sem muita perspectiva até então. A dúvida que ficava para o setor de Turismo era: como fica o Festuris, em novembro?
“A gente já estava com mais de 50% dos espaços comercializados. Nos assustamos, porque a tendência natural era o retrocesso, as pessoas cancelando. Discutimos se suspenderíamos, se mudaríamos a data e, conversando com o governador [Eduardo Leite] e autoridades, nos deram expectativas, boas e possíveis, e decidimos não alterar. Tivemos três únicas desistências, que já retomaram”, conta a empreendedora.
Empreender é isso. Jogar com as adversidades, criar coisas novas, buscar conhecimento, fomentar conexões. Teria sido mais fácil sem uma perda como foi a de Silvia, uma pandemia e uma enchente sem precedentes, com certeza. Mas 36 anos não são 36 dias e a resiliência é a palavra que passou a fazer parte da rotina de Marta Rossi, Eduardo Zorzanello e do próprio Festuris.
Revista PANROTAS Especial 50 anos
Esta matéria é parte integrante da Revista Especial de 50 anos da PANROTAS, onde você encontra histórias do Turismo nestas últimas cinco décadas, além de dicas e ferramentas para turbinar seu negócio.