Pedro Menezes   |   28/09/2024 17:06
Atualizada em 28/09/2024 17:07

Advogados antiéticos e clientes mal intencionados inflamam judicialização

Iata, FBHA e Abav Nacional debateram os processos que fream o desenvolvimento do Turismo no Brasil

PANROTAS / Pedro Menezes
Marcelo Oliveira, da Abav, Lilian Cavalheiro, da FBHA, Marcelo Pedroso, da Iata, e João Evaristo, da Abav-MS
Marcelo Oliveira, da Abav, Lilian Cavalheiro, da FBHA, Marcelo Pedroso, da Iata, e João Evaristo, da Abav-MS

BRASÍLIA (DF) - Imagina um Brasil com menos voos, menos conectividade aérea e menos agências de viagens. Por outro lado, imagina um País com passagens aéreas, diárias em hotéis e pacotes turísticos cada dia mais caros. E se a gente informar que tudo isso já é uma realidade? Culpa da judicialização.

Neste sábado (28), último dia de Abav Expo, a Arena Especialização recebeu um debate justamente sobre a judicialização no Turismo. Participaram o diretor da CMO Advogados e assessor jurídico da Abav Nacional, Marcelo Oliveira, o diretor de Relações Externas da Iata, Marcelo Pedroso, e a assessora jurídica da FBHA, Lilian Cavalheiro, com mediação do presidente da Abav-MS, João Evaristo.

"A pessoa nem viajou ainda, mas já tem o slogan na cabeça: 'tomara que dê algo errado para que eu consiga pensar num processo e ganhar minha próxima viagem. Mas o que mais me incomoda é quanto o nosso próprio setor de advogados vem comprometendo todo um sistema. Eu vejo colegas hoje impulsionando este negócio (judicialização). Isso é insano e não é a melhor atividade advocatícia. É algo antiético, com direito a planos ofertados no mercado"

Marcelo Oliveira, assessor jurídico da Abav Nacional

Marcelo Pedroso, da Iata, lembra que esta é uma dor de todo o setor, já que 98% das ações cíveis contra as companhias aéreas acontecem no Brasil, que gastam R$ 1 bilhão em judicialização todos os anos, além de R$ 36 bilhões em despesas e pagamentos. Se somar todos os entes e gastos judiciários, o valor chega a R$ 100 bilhões.

"Isso num país em que 88% dos voos decolam e pousam no horário. O excesso de judicialização é uma trava para o setor aéreo brasileiro. O Brasil responde por 2,7% dos voos de todo o mundo e por 90% das ações judiciais. A judicialização é um grande desafio aéreo, que constrange e dificulta a atração de novos players. Desde 2017, o Brasil autoriza a operação de companhias aéreas brasileiras com 100% de capital estrangeiro e até hoje não surtiu efeitos"

Marcelo Pedroso, diretor de Relações Externas da Iata

A assessora jurídica da FBHA, Lilian Cavalheiro, lembrou que o Brasil tem 1.783 processos por um milhão de habitantes. Nos Estados Unidos, são 700!

"A judicialização é o nosso grande problema para o desenvolvimento. E os processos não vão acabar porque o direito judiciário é uma democracia, mas temos uma forma de minimizar isso que seriam os precedentes normativos vinculantes. Além disso, o judiciário está olhando para dentro por conta do tamanho dos processos. E uma das soluções e usarmos a inteligência artificial, pegando todos os processos em termos repetitivos para serem julgados de uma mesma maneira. Já tem legislação institucional para isso, o que precisamos é coragem! E isso passa também, no caso dos bares, restaurantes e meios de hospedagem, por aprimorar o atendimento profissional para que possamos diminuir os motivos de possíveis ações na justiça"

Lilian Cavalheiro, assessora jurídica da FBHA

Agência de viagens ainda paga a conta no final de tudo

PANROTAS / Pedro Menezes
Marcelo Oliveira, assessor jurídico da Abav Nacional<br/>
Marcelo Oliveira, assessor jurídico da Abav Nacional

Marcelo Oliveira afirma que a agência de viagens tenta ajudar a diminuir a judicialização, mas lembra que elas não são proprietárias de nada e acabam assumindo riscos por conta de seus fornecedores.

"Não somos proprietários de nada. Fazemos tudo certo, assistimos, informamos e realizamos as viagens e ainda pagamos a conta no final pelo 'caldo desandar'. Pelo menos este é um tema já escalado em Brasília, envolvendo um cenário compromissado em achar uma solução, como o próprio Governo Federal via MTur. A sensibilidade é que o agenciamento não é proprietário dos serviços que comercializa. O agenciamento não tem autonomia, porque as regras são dos fornecedores. Logo, assumimos um risco gigantesco. Tem muitas agências pagando X vezes mais do que ganha"

Marcelo Oliveira, assessor jurídico da Abav Nacional

Qual é a culpa da companhia se o tempo fechou?

PANROTAS / Pedro Menezes
Marcelo Pedroso, diretor de Relações Externas da Iata
Marcelo Pedroso, diretor de Relações Externas da Iata

Marcelo Pedroso, por fim, destacou que não adianta punir as companhias aéreas, em caso de atrasos de voos ou cancelamentos, se a culpa não é da companhia aérea. Além disso, ainda há os sites abutres. Recentemente, a OAB derrubou 45 deles, mas, como disse Pedroso, é como enxugar gelo. E isso é impulsionado também pelas redes sociais.

"Existe uma lógica de proteção efetiva do consumidor nos serviços de maneira geral, quando se aplica o Código de Defesa do Consumidor. Mas ainda que haja punição, atrasos e cancelamentos vão continuar existindo para preservar o fator numero 01 da aviação que é a segurança. Temos 82% dos voos saindo no horário, enquanto nos EUA são 74%, com uma regularidade que beira os 100%. Isso não significa que atrasos e cancelamentos não irão ocorrer, já que as companhias aéreas dependem de terceiros, de gestores de aeroportos e de questões meteorológicas. São elementos destes cosmos que atuamos, em conjunto com operadores privados, governo e companhias aéreas, que fazem com que o resultado da operação possa ser atribuida exclusivamente a companhia aérea. Nosso problema não é nem o volume de ações na Justiça, mas relacionada a aplicação do dano moral não presumido e não comprovado que tem tido um resultado na justiça que faz com que nosso mercado perca competitividade. No final todo mundo perde com menos conectividade e passagens mais caras"

Marcelo Pedroso, diretor de Relações Externas da Iata
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