Beatrice Teizen   |   29/10/2021 13:33
Atualizada em 29/10/2021 13:34

IBGE, Abear ou Anac? Quem está certo sobre alta das passagens?

Portal PANROTAS pediu para a Fecomercio-SP analisar a questão do aumento dos preços dos bilhetes

Entenda os dados do IBGE e Anac sobre alta das passagens aéreas com análise da Fecomercio-SP
Entenda os dados do IBGE e Anac sobre alta das passagens aéreas com análise da Fecomercio-SP
Em 13 de outubro, o IBGE informou que, no acumulado de 12 meses, as passagens aéreas tiveram alta de 56,81%, de acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na mesma semana, números da Anac, analisados pela Abear, mostraram que a tarifa média do segundo trimestre deste ano está 20% abaixo do mesmo período de 2019.

Os dados parecem ser conflitantes, mas ambos estão corretos. No entanto, não são comparáveis por serem de períodos diferentes. A metodologia utilizada também é diferente. Além disso, o IBGE analisa o indicador da inflação das passagens aéreas e, a Anac, a tarifa média doméstica.

Portanto, em um dos indicadores (IPCA) é feita uma coleta amostral de preços das passagens na internet. E, no outro (Anac), é considerada a média que, de fato, foi comprada pelo consumidor.

O Portal PANROTAS pediu para a Fecomercio-SP analisar a questão da alta dos bilhetes aéreos para trazer um melhor entendimento.

Leia abaixo a análise na íntegra, feita pelo economista Guilherme Dietze, com coordenação de Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP.

"Numa mesma semana saíram duas notícias sobre o preço das passagens aéreas que, à primeira vista, perecem conflitantes entre si. A primeira foi sobre o aumento das passagens aéreas que subiram 60% em um ano, de acordo com o IBGE. A segunda, sobre a tarifa média do 2º trimestre deste ano que está 20% abaixo do mesmo período de 2019, segundo dados da Anac e análise da Abear.

São comparações com períodos diferentes que podem confundir as interpretações. Além disso, a falta de conhecimento da metodologia por trás delas dificulta ainda mais o que representam estes números.

Os dois os indicadores em questão são estes:

  1. Inflação das Passagens Aéreas – item que compõe o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, índice de inflação oficial do país, elaborado mensalmente pelo IBGE.
  2. Tarifa Média Doméstica – valores das passagens aéreas praticadas pelas empresas aéreas no mercado brasileiro e analisados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

A metodologia do IBGE segue da seguinte forma:

  • A cada semana, o pesquisador do IBGE realiza cotações nos sites das empresas aéreas para uma viagem 2 meses à frente.
  • Ida: sábado e volta: domingo
  • Tarifa de passagem básica com direito a bagagem.
  • Origem destino entre as principais rotas e cidades que compõem o IPCA, atualmente em 16 cidades.
  • É feita uma consolidação com as 4 cotações durante o mês para fechar a variação de preço mensal.
  • A variação de preços verificada para o período de 2 meses à frente é consolidada no mês que seria a viagem. Ou seja, em maio se pesquisa a passagem para viajar em julho. A variação dos preços não entra para o IPCA em maio, mas para o indicador de julho.

Já a metodologia da Anac é distinta:

  • Considera a origem e o destino do passageiro constantes no bilhete de passagem, independentemente de escalas e conexões.
  • São contemplados os dados das tarifas comercializadas de todos os bilhetes de passagem vendidos ao público adulto em geral – cerca de 40 milhões ao ano (2018) – correspondentes a todas as linhas aéreas domésticas regulares de passageiros – atualmente, cerca de 8 mil pares de origens e destinos.
  • A Tarifa Aérea Média Doméstica é um indicador que representa o valor médio pago pelo passageiro em um sentido da viagem, ida ou volta, em razão da prestação dos serviços de transporte aéreo.
  • Este indicador é calculado por meio da média ponderada das tarifas aéreas domésticas comercializadas e as correspondentes quantidades de assentos comercializados.

Então, fica claro que um indicador (IPCA) é feito uma coleta amostral de preços das passagens na internet. E outro (Anac) é a média que de fato foi comprada pelo consumidor.

Vamos aos números. Segundo o IBGE, as passagens aéreas subiram 56% nos últimos 12 meses. Na Anac, a tarifa média no trimestre encerrado em julho foi de R$ 438 contra R$ 308 vistos no mesmo período do ano passado, ou seja, um aumento de 42%. Por mais que sejam coletas diferentes e períodos relativamente similares, a resposta é a mesma, houve aumento nos preços das passagens.


Reprodução/Fecomercio-SP
No final de 2020, no entanto, o IBGE divulgou uma redução de 17,15% na média das passagens aéreas. Para a Anac, a tarifa média caiu 36%. Novamente, embora as variações sejam diferentes, elas apontam para o mesmo sentido.

Portanto, conclui-se que não há indicador certo ou errado. O dado da Anac é mais preciso pela quantidade de informações que são coletadas e diretamente das empresas aéreas. O do IPCA traz mais o sentimento do que o consumidor busca na internet.

São indicadores complementares, que ajudam a interpretar, cada um com a sua maneira, o cenário de preços das passagens aéreas."

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