Filip Calixto   |   05/03/2025 14:16

Brasil pode aprender com Reino Unido a acelerar descarbonização na aviação

Ex-country manager da Iata elenca argumentos para considerar Brasil privilegiado no assunto

PANROTAS / Emerson Souza
Dany Oliveira, ex-country manager da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) no Brasil
Dany Oliveira, ex-country manager da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) no Brasil

O Brasil está diante de uma oportunidade única de liderar a transição para uma economia de baixo carbono, especialmente no setor de aviação, mas precisa agir de forma estratégica e rápida. A avaliação é de Dany Oliveira, ex-country manager da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) no Brasil.

De acordo com o executivo, que escreveu sobre o tema em sua conta no LinkedIn, o País tem muito a aprender com o Reino Unido, que recentemente anunciou um plano para reduzir as emissões de carbono e atingir a neutralidade até 2050.

Oliveira compartilhou suas reflexões sobre o cenário atual da sustentabilidade e descarbonização da aviação, destacando tanto os desafios quanto as oportunidades para o Brasil. A comparação entre o Brasil e o Reino Unido, segundo ele, é relevante não apenas pelas metas ambiciosas do país europeu, mas também pelas semelhanças que o Brasil pode tirar proveito em seu processo de transformação energética.

O executivo lembrou que o Reino Unido lançou o Seventh Carbon Budget, um plano que visa reduzir em 87% as emissões de gases de efeito estufa até 2040, com o objetivo de atingir o Net Zero até 2050. Esse plano é um reflexo do compromisso britânico com a descarbonização, e o Brasil, apesar das diferenças em suas economias e estruturas, pode se inspirar nas soluções propostas e adaptá-las para sua realidade.

Oliveira ressalta que o Reino Unido, ao contrário de muitos países, conseguiu atingir uma redução de 50% das suas emissões desde 1990. Ele cita as áreas chave do plano britânico, como transporte, eletricidade, indústria e aviação, todas com soluções inovadoras e escaláveis. Entre elas estão a expansão das energias renováveis, a eletrificação do transporte, o uso do SAF (Combustível de Aviação Sustentável), o hidrogênio verde e a captura de carbono.

Para o Brasil, o especialista aponta que existem vantagens naturais que podem ser usadas para acelerar essa transição. O país possui um grande potencial para gerar biocombustíveis de segunda geração, o que permitiria uma maior integração de SAF na aviação. Além disso, a região Nordeste do Brasil se destaca como um hub estratégico para a produção de hidrogênio verde, aproveitando seu alto índice de radiação solar e os ventos constantes, características ideais para a geração de energia renovável.

Oportunidade de ouro no mercado de créditos de carbono

Além das alternativas de energias renováveis e combustíveis de baixo carbono, Oliveira também discute as oportunidades que o Brasil tem de se beneficiar diretamente do mercado global de créditos de carbono, uma tendência crescente no cenário global. Em uma análise detalhada sobre a escalabilidade do SAF e a regulação internacional de emissões por meio do CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), Oliveira observa que o Brasil pode se tornar um grande player nesse mercado.

O CORSIA, que será implementado globalmente a partir de 2027, exige que as empresas aéreas reduzam suas emissões de carbono e compensem o crescimento das emissões acima dos níveis de 2019. Uma das formas de compensação é a compra de créditos de carbono, que podem ser gerados por projetos de reflorestamento e conservação, algo que o Brasil tem em abundância. Oliveira alerta que, diante do crescente interesse global por créditos de carbono, o país não pode deixar essa oportunidade passar.

Divulgação
O executivo lembrou que o Reino Unido lançou o Seventh Carbon Budget, um plano que visa reduzir em 87% as emissões de gases de efeito estufa até 2040, com o objetivo de atingir o Net Zero até 2050
O executivo lembrou que o Reino Unido lançou o Seventh Carbon Budget, um plano que visa reduzir em 87% as emissões de gases de efeito estufa até 2040, com o objetivo de atingir o Net Zero até 2050

A tonelada de carbono está atualmente cotada a US$30, mas espera-se que o valor suba consideravelmente nos próximos anos, à medida que mais países e empresas busquem cumprir suas metas climáticas. "O Brasil precisa agir agora para garantir que não perca essa janela de oportunidade", afirma Oliveira. O executivo destaca que o país tem condições únicas para criar uma economia de baixo carbono, utilizando seus recursos naturais e a capacidade de inovação para gerar soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto a economia local.

Momento de agir é agora

O ex-Country Manager da Iata também enfatiza a necessidade de políticas públicas claras e bem estruturadas para garantir que o Brasil possa implementar essas soluções de forma eficaz. Ele lembra que, apesar do potencial do país, as políticas públicas ainda estão aquém das necessidades urgentes de descarbonização. O Brasil precisa de um plano robusto que alinhe sua agenda ambiental com as tendências globais e facilite o desenvolvimento de tecnologias como o SAF, o hidrogênio verde e a captura de carbono.

No caso da aviação, a escalabilidade do SAF é um desafio imediato. O custo elevado do combustível sustentável e as dificuldades na expansão da produção são pontos críticos que exigem mais investimentos e inovação tecnológica.

Contudo, Oliveira aponta que, assim como em outros setores, é possível que a redução dos custos de produção de SAF aconteça nas próximas décadas, impulsionada pela inovação tecnológica e pelo aumento da produção em larga escala. "O investimento adequado pode reduzir os custos de produção do SAF em até 35% a partir de 2030", afirma, citando estimativas do Fórum Econômico Mundial.

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