Rodrigo Vieira   |   16/06/2020 12:57
Atualizada em 17/06/2020 11:30

Azul prevê relação duradoura e ampliada com Latam

CEO da companhia, John Rodgerson dá vários detalhes sobre o acordo; veja no Portal PANROTAS


Emerson Souza
John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas
John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas
A Azul vai atender 200 cidades brasileiras com o codeshare assinado hoje com a Latam. Uma parceria duradoura, motivada pela crise e estratégica para dela sair. É assim que a companhia do CEO John Rodgerson está encarando o acordo com uma de suas maiores concorrentes. Anunciado hoje, o compartilhamento de códigos deve começar a vigorar em agosto. E a Azul acredita que mais para frente a parceria evoluirá, inclusive para fora do País.

ENTREVISTA EXCLUSIVA: COMO O CEO DA LATAM AVALIA A PARCERIA

"Estamos animados. A parceria vai nos ajudar a resgatar nossa malha, nossos voos, nos ajudar a retomar. Tem muitas pessoas no Brasil desabastecidas em termos de destinos voados, e qualquer ação que dê a elas proximidade e conexão significa para nós mais demanda, e com mais demanda, vendas", resume o CEO.

Rodgerson confessa que se aproximar das concorrentes já foi um tema conversado na Azul, mas estava longe de ser uma prioridade. A crise acelerou a necessidade e daí a escolha pela Latam. "Latam porque a malha deles têm menos sobreposição com a nossa", respondeu, ao ser questionado pela opção pela nova parceira e não pela Gol. "A malha da Latam complementa a nossa no doméstico, e eles têm mais cidades atendidas fora do País."

O vice-presidente de Receitas da companhia, Abhi Shah, reconhece a possibilidade de a parceria avançar as fronteiras nacionais. "Em primeiro momento o intuito é abastecer as demandas sub-regionais. Depois, é natural que se avance para a demanda regional, seguida das capitais e, posteriormente, cidades da América do Sul. Temos oportunidade para criar uma oferta muito mais abrangente para todos os clientes", afirmou.

"Quando chegarem essas próximas etapas, é claro que falaremos com nossos parceiros", continua Abhi Shah, em relação às norte-americanas Delta e United, parceiras de Latam e Azul, respectivamente. "Eles [os parceiros internacionais] também querem conectividade no Brasil. Acredito que para eles, quanto mais destinos, melhor. Vamos consultá-los, mas o codeshare é bom para todo mundo, principalmente para o consumidor."

JUNTOS, MAS NÃO MISTURADOS
Abhi Shah também ressalta que as políticas de planejamento de malha e precificação continuam totalmente separadas. O acordo proíbe que informações nessas áreas sejam compartilhadas entre as aéreas.

Emerson Souza
Abhi Shah, vice-presidente de Receitas da Azul
Abhi Shah, vice-presidente de Receitas da Azul
No ano passado, a Azul trocou farpas com Latam (e Gol) nos desdobramentos das disputas pelos slots deixados pela Avianca Brasil em Congonhas, e no meio dos embates a companhia deixou a Abear. John Rodgerson esclarece que "uma coisa não tem nada a ver com a outra".

"A briga pelos slots em Congonhas foi natural. Outras empresas também estavam na disputa. Isso não interfere em nada no acordo", afirma. "Vamos nos manter fora da Abear. A associação beneficia Gol e Latam, e assim continuará", completa o CEO.

MAIOR ALCANCE
Segundo John Rodgerson, mais de 44 milhões de brasileiros podiam viajar via aérea regularmente pré-pandemia e agora estão sem voos. Um dos maiores trunfos da Azul é justamente sua pulverização graças à sua frota diversificada. Então por que se juntar a uma concorrente em codeshare?

"Mesmo que fôssemos a aérea de maior alcance, ainda há destinos não atendidos. Não voamos para Rio Branco, por exemplo, e agora será possível sair de Campinas e ir à capital do Acre com conexão em Brasília, via Latam. Outro exemplo é Porto Alegre. Nós atendemos cidades do interior gaúcho exclusivamente, mas não voamos de Congonhas a Porto Alegre, rota que a Latam faz nove vezes por dia", aponta Shah, dando outros exemplos que incluem Recife, Belém, Cuiabá, Goiânia e Curitiba.

Vale lembrar que recentemente a Azul anunciou a compra da TwoFlex. "O intuito é o mesmo. Ligar cada vez mais brasileiros e ter um alcance cada vez maior, graças à nossa frota com aeronaves de todos os portes."

CHAPTER 11
No fim de maio, a Latam entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, e isso "não tem relação nenhuma com o codeshare", segundo o CEO da Azul.

"Qualquer oportunidade que exista para conectar os passageiros no Brasil vai ajudar ambas as empresas. Como fortalecer nossas malhas? Como conectar mais cidades do Brasil? Essas são as perguntas a se fazer e, se respondidas favoravelmente, ambas vão se beneficiar."

SITUAÇÃO FINANCEIRA
A Azul pede colaboração geral para atravessar a maior crise global da história do setor aéreo. Governo, lessores, fabricantes, aeroportos, clientes, funcionários.

"A melhor coisa para todos os stakeholders envolvidos é ter uma Azul saudável, então todos têm de ajudar. Embraer, Viracopos, tripulantes, lessores, governo federal...", aponta. "Em relação ao governo, a arrecadação que vem por meio da Azul e das outras aéreas é importante. O que estamos pedindo são empréstimos, e não investimentos, como em outros países. Em Portugal, por exemplo, a Tap recebeu um aporte de 1,2 bilhão de euros. Um país pequeno, uma companhia menor que Gol, Azul e Latam: nosso governo precisa aprender com esses exemplos."

APROVAÇÃO DO CADE
Rodgerson afirma que a Azul está à disposição do Cade para resolução de qualquer entrave, afirma que acredita em uma parceria de "muitos anos" e aponta que a Latam é mais um codeshare para fortalecer a malha Azul.

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