Pedro Menezes   |   12/03/2025 22:30
Atualizada em 13/03/2025 19:34

Judicialização, economia e mais: líderes das aéreas debatem desafios no Fórum PANROTAS

Debate reuniu Abhi Shah, presidente da Azul, Celso Ferrer, CEO da Gol, e Jerome Cadier, CEO da Latam


PANROTAS / Emerson Souza
Celso Ferrer, CEO da Gol, Willian Waack, moderador e jornalista, Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, e Abhi Shah, presidente da Azul
Celso Ferrer, CEO da Gol, Willian Waack, moderador e jornalista, Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, e Abhi Shah, presidente da Azul

Já é tradição! A programação do Fórum PANROTAS sempre é encerrada com o famoso e tão esperado painel das Companhias Aéreas. É a hora que o Golden Hall fica lotado para assistir os líderes de Azul, Gol e Latam abordarem os mais variados assuntos.

Neste ano, é claro que assuntos atuais e pertinentes fizeram parte deste debate, como é o caso da possível união de negócios de Grupo Abra (Gol) e Azul, os crônicos problemas envolvendo a judicialização do setor, o aumento dos custos com a reforma tributária, além, claro, do preço crescente das passagens aéreas.

Assuntos que foram devidamente abordados e debatidos pelo presidente da Azul, Abih Shah, pelo CEO da Gol, Celso Ferrer, e pelo CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, num painel moderado pelo jornalista Willian Waack.

A judicialização que freia a evolução do setor

Por ano, o número de processos contra as companhias aéreas brasileiras aumentou, em média, 60% de 2020 a 2023, de acordo com dados divulgados pela Abear no fim de 2024. Desse montante, 10% das ações foram movidas por apenas 20 advogados ou escritórios, o que sugere a concentração de litígios. Este assunto, claro, foi pauta do debate, que revelou que as companhias aéreas estão sem uma solução para este problema crônico.

PANROTAS / Emerson Souza
Painel das Companhias Aéreas no Fórum PANROTAS 2025
Painel das Companhias Aéreas no Fórum PANROTAS 2025

"Como se lida com isso? Eu acho que todo o passageiro que sentir não está sendo bem atendido tem que ter alternativa para buscar solução do seu caso, e não precisa passar pela justiça. Existe pontos mais simples, rápidos e eficientes. E o risco de chegar em um horário fora do combinado faz parte do risco de voar", disse Jerome.

"Temos três empresas companhias estão entre as 10 mais pontuais do mundo. Oferecemos um serviço de classe mundial, mas mesmo assim temos aqui a maior quantidade de processos de todo o mundo. Como tratar isso? Precisamos encontrar um caminho para o custo não recair sobre os passageiros. Independente do nível de performance, o número de processos vai crescer. A sensação é de estar vendido e não conseguir lutar contra essa onda. Precisamos conversar com poder judiciário para podemos solucionar isso"

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Abhi Shah revelou que a judicialização vai muito além dos custos dos processos. "Tanto é que a Azul foi obrigada a reduzir os voos para Rondônia por conta dos processos jurídicos. Passamos de oito para um voo por dia. Quem mais perdeu nisso tudo foram os próprios cidadãos que moram lá", destacou ele.

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Celso Ferrer, CEO da Gol
Celso Ferrer, CEO da Gol

Já Celso Ferrer revelou que entre companhias estrangeiras, como a parceira Air France-KLM, 95% dos processos judiciais provém do Brasil. "E estamos falando de uma companhia que tem de 3 a 6 voos por dia apenas", disse o CEO da Gol Linhas Aéreas.

"No ano passado, tivemos uma performance excelente em pontualidade, mas o números de ações relacionadas a atraso foi maior do que em 2023, quando tivemos uma menor pontualidade. Ou seja, não existe correlação entre uma boa operação e o número de ações. Há clientes que de fato foram prejudicados. Cabe a nós escutar. E ainda temos a resolução 400 da Anac, com uma legislação muito maior do que em outros países na proteção dos passageiros. E mesmo assim, vai ter um advogado no saguão do aeroporto pronto para comprar sua ação na justiça. Em Rondônia, por exemplo, cada passageiro embarcado custa R$ 400 para a Gol ao contar os custos com ações contra a companhia"

Celso Ferrer, CEO da Gol

Incidentes recentes na aviação e a percepção do consumidor

Willian Waack afirmou que a percepção do consumidor muda com relação aos acidentes e incidentes recentes no Brasil e no mundo. Segundo ele, ainda há a questão da deteriorização de serviços, o que faz com que o cliente ache a passagem muito cara para o que é oferecido.

O presidente da Azul, Abhi Shah, discorda. Segundo ele, o Brasil tem um dos melhores serviços do mundo. Não dá para comparar com as companhias aéreas internacionais. Estamos muito melhores em entretenimento e malha aérea. A aviação promove coisas incríveis e ninguém pensa em um mundo sem aviação. O setor faz parte das nossas vidas. E o nível de qualidade da nossa aviação é muito alta", destacou.

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Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Jerome Cadier, por sua vez, lembrou que poucas pessoas foram adicionadas ao total de passageiros que voam nos últimos 20 anos (de 12 a 14 milhões), que, segundo ele, são os 100 milhões de passageiros que voam anualmente no Brasil (na média 4, 5, 6 vezes). Isso faz com que sejam as mesmas pessoas que acompanham a evolução do serviço ao longo do tempo, mas sem lembrar da queda no preço da passagem

"Essas pessoas acompanharam os serviços se tornarem cada vez mais básicos no Brasil e no mundo inteiro, acompanharam o crescimento da viagem, mas ninguém lembra que pagávamos 5 vezes mais lá atrás. Então ficou mais barato viajar hoje, mas não temos referência de preço. No entanto, era mais legal quando o Comandante Rolim vinha na porta do avião falar com os passageiros. Era diferente, a aviação mudou muito. Isso deixou o passageiro mais duro"

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Celso Ferrer, por sua vez, afirmou que hoje o passageiro tem uma hiper exigência e não consegue esperar, por exemplo, um voo com pouco atraso. "E por mais que tenhamos tecnologia, é o mesmo avião, que precisa de uma série de itens de segurança, logo, ao olhar a jornada do passageiro, essa hiperexigência é apenas em um pedaço do que fazemos. Operar em Congonhas na chuva, coordenar voos, tudo isso a gente tem que explicar possíveis atrasos. Nos EUA, a cultura da segurança na aviação é maior. É algo que precisamos promover aqui".

PANROTAS / Emerson Souza
Abhi Shah, presidente da Azul
Abhi Shah, presidente da Azul

"Quando acontece um incidente, como os casos recentes de American e da Delta, acaba chamando muito a atenção. Mas, olhando os números, não há debate. A aviação é de longe mais segura do que qualquer outro meio de transporte. Incidentes e acidentes chamam a atenção, mas ocorre hoje um incidente a cada 10 milhões de decolagens. Nosso valores são sempre baseados na segurança"

Abhi Shah, presidente da Azul, sobre segurança aérea

Já o CEO da Gol lembrou do dia em que uma aeronave da companhia bateu em uma caminhonete que estava na pista do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, durante a decolagem. "Na Gol, tratamos o incidente como gravíssimo. Por muito pouco não tivemos uma tragédia maior na decolagem", disse ele.

A influência da economia na aviação

PANROTAS / Emerson Souza
Painel das aéreas encerrou programação do Fórum PANROTAS 2025
Painel das aéreas encerrou programação do Fórum PANROTAS 2025

O painel contou com tantos assuntos difíceis e polêmicos que Willian Waack tratou o assunto economia como "leve". Nele, Jerome Cadier e Celso Ferrer falaram das expectativas para 2025.

"Eu tenho uma visão otimista. Superamos as previsões de crescimento em 2023 e 2024 e, para 2025, devemos crescer de 8% a 10% em capacidade. Tem a questão de inflação, do controle de gastos, do câmbio, mas são temas recorrentes, as companhias já nasceram neste ambiente, estão acostumadas. Iremos enfrentar dificuldades em 2025, mas colocaremos mais aeronaves para voar e teremos mais oportunidades tanto no internacional, como no doméstico", disse Jerome.

Já Celso Ferrer afirmou que é preciso, acima de tudo, de estabilidade nas falas. "Se o brasileiro tem certeza que terá seu emprego amanhã, que pode investir, vai ter mercado para voar. É isso que gerademanda. Existe uma microdecisão ligada a expectativa da economia e falas do mercado. É importante as autoridades sempre passarem tranquilidade em suas falas", destacou o CEO.

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