Marcelo Bento (Aena) fala do futuro de Congonhas e possível fusão Azul-Gol
Esses e outros assuntos são abordados pelo diretor da concessionária em entrevista ao Portal PANROTAS
O modelo de gestão aeroportuária passou por uma revolução no últimos anos no Brasil. Em pouco tempo, foi de um país em que praticamente todos os aeroportos eram estatais para um dos mercados mais dinâmicos do mundo neste segmento, com a maior quantidade de operadores. Este avanço chamou atenção de Marcelo Bento Ribeiro que, com 30 anos de aviação somando Varig, Transbrasil, Gol e Azul, se interessou por uma proposta da Aena Brasil, a concessionária com o maior número de terminais administrados no País, onde está há três anos como Relações institucionais e Comunicação.
- Os aeroportos de Congonhas, Recife, Maceió e João Pessoa são os maiores terminais entre os 17 administrados pela empresa de origem espanhola no Brasil (veja a lista completa ao fim da notícia).
- Desses, o mais movimentado é o da capital paulista, e Congonhas é também o que será submetido à maior transformação da Aena Brasil.
- Entre 2019 e 2028 a Aena Brasil terá investido R$ 12 bilhões no País.
- Marcelo Bento falou com o Portal PANROTAS sobre esses e vários temas, incluindo o que pensa da plausível fusão entre duas de suas antigas empresas, Gol e Azul.
- No Fórum PANROTAS 2025, que acontece em 12 e 13 de março, Marcelo Bento está confirmado como painelista
Veja os principais tópicos da entrevista a seguir:
PORTAL PANROTAS - Como você vê a possível fusão entre Azul e Gol?
MARCELO BENTO - Cada fusão é muito particular no setor aéreo. Essa em específico é diferente da média, pois a sobreposição de malha entre Azul e Gol é pequena. Além disso, ambas têm operação saudável, ambas são rentáveis. As dificuldades estão no pagamento de dívida, sobretudo a acumulada durante a pandemia. Isso faz a fusão ser menos problemática. Entendemos, portanto, que á uma fusão mais voltada para sinergia de custos. Tornando-se uma companhia mais forte e mais robusta, teria mais facilidade de captação de investimento e capital, o que é crucial para quitar as dívidas.
PANROTAS - Então não é uma grande preocupação para o setor aeroportuário?
BENTO - Nesse caso não, pois realmente esperamos que, se concretizada a fusão, não haja redução no número de voos. Para uma administradora aeroportuária, quanto mais companhias aéreas no mercado melhor. Mas, reitero, esse negócio em específico não nos preocupa muito. Estaríamos preocupados se as duas tivessem um grande hub em um aeroporto nosso, mas elas são muito complementares para a Aena. A Azul é um grande cliente nosso no Recife, e a Gol em Congonhas.
PANROTAS - Atualmente, quais são os maiores desafios da Aena no Brasil?
BENTO - Nosso desafio mais imediato é o de começar 11 obras ao mesmo tempo, o que é extremamente complexo. Tem toda questão de projeto, contratação de fornecedores, de construtora, licenciamento, lidar com prefeituras, burocracias... Estamos dando a largada nessas 11 obras, das quais dez têm de ser entregues em um ano e meio. Apenas Congonhas tem mais tempo para ser entregue, em três anos e meio, mas é a mais complexa das obras. A maior concessionária aeroportuária do mundo se tornou também a maior concessionária aeroportuária no Brasil, e obviamente isso é desafiador.
PANROTAS - Mudanças em Congonhas sempre atraem todos os olhares na aviação brasileira. Fale sobre as atualizações no terminal paulistano.
BENTO - Realmente. Entramos em Congonhas em 2023 e as pessoas já queriam ver medidas em dezembro. Mas o público tem de entender que qualquer mudança precisa ser muito bem planejada. Qualquer peça em que se mexa em Congonhas tem de haver muito critério, pois o local tem várias áreas tombadas pelo patrimônio histórico, o que torna o processo mais demorado. Isso sem contar o imenso tráfego de pessoas do aeroporto.
PANROTAS - Mas quais são os avanços até aqui e quais são as perspectivas para Congonhas na entrega?
BENTO - Estamos quase terminando a reforma de todos os banheiros. Fizemos uma alteração enorme nos canais de inspeção, para poder criar filas rápidas, projeto que já está em soft opening em parceria com Bradesco e vai deixar a circulação mais lógica com um corredor. A experiência para o usuário já está bem diferente ali.
Menciono ainda mais alterações imediatas que já transformarão o aeroporto: na próxima semana, junto com a inauguração de uma grande sala vip, terá um boulevard comercial e uma sala vip um pouco menor. Essa área ocupa um espaço oco que tinha no segundo andar, onde fizemos interligação. Com isso a sala de embarque se amplia tremendamente. É uma nova área que retira pessoas da sala de embarque e assim melhoramos o fluxo.
Outro ponto sensível é a sala de embarque remoto, que terá o dobro do tamanho da atual e será entregue no máximo no início de abril. Essas duas novidades imediatas ampliam o espaço da área de Congonhas em 40%. É uma ampliação muito grande.
Essas e outras coisas são todas para um terminal que daqui três anos e meio será descontinuado. Digo, o terminal continua existindo, mas na área de desembarque. A área de embarque será totalmente migrada. Ou seja, estamos fazendo um enorme investimento para dar conforto ao passageiro em uma área temporária. Isso demonstra o compromisso da Aena Brasil com o cliente.
PANROTAS - Nos aeroportos regionais e de menor porte, quais são os maiores desafios?
BENTO - Sempre é captar mais voos. E aí entramos em como tornar as cidades mais atrativas seja sob o ponto de vista turístico ou sob a ótica de um ambiente de negócios mais dinâmico para que se possa ter crescimento de voos.
PANROTAS - E nos terminais maiores?
BENTO - Nesses, a grande dificuldade é lidar com a imprevisibilidade para ter o planejamento aeroportuário adequado. Muitas vezes ficamos à mercê das companhias aéreas, que podem demandar de um dia para o outro vários voos em horários próximos, ou cancelamento múltiplos. Não ter o controle da operação das aéreas é complicado, pois nós nos mobilizamos para lidar com determinada quantidade de passageiros.
PANROTAS - Mais aeroportos estão em mira no Brasil?
BENTO - A Aena é o maior operador aeroportuário do mundo, e o Brasil é a maior operação internacional da Aena. Em nossa matriz, na Espanha, temos um departamento focado no desenvolvimento internacional. Eles são responsáveis por analisar toda oportunidade que surge no globo e estão, sim, de olho no Brasil. Temos interesse em expansão, mas sempre dando passos muito seguros. Por exemplo, quando o aeroporto de Natal relicitou, decidimos não participar, porque naquele momento estávamos envolvidos em melhorar o que já tínhamos.
PANROTAS - Qual é o papel que uma concessionária pode desempenhar para ajudar com o Turismo de um país, e como isso é feito pela Aena Brasil?
BENTO - Em primeiro lugar é seguir investindo em infraestrutura para termos capacidade de absorção de um possível incremento de tráfego. De 2019 a 2028 teremos investido R$ 12 bilhões no Brasil só em outorgas e investimento em infraestrutura, fora salário de funcionários, etc.
Também trabalhamos com políticas de incentivo para as companhias aéreas, premiando com dinheiro conforme crescimento de passageiro de uma temporada para outra. E ativamente estamos em busca de negociar com companhias brasileiras e estrangeiras para operar aqui. Recife-Porto com a Azul, por exemplo, nos deixou muito contentes. A capital pernambucana é nosso equipamento com maior atratividade internacional.
Estar junto de órgãos de Turismo públicos também nos interessa e estamos constantemente em busca dessas parcerias.
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