Da Redação   |   14/01/2025 13:59
Atualizada em 14/01/2025 14:19

Corpo, mente e alma: Os novos pilares das viagens de luxo

Brasileiro também quer viver mais e melhor, e sai pelo mundo afora em busca do luxo


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Six Senses Ibiza oferece diversos programas de bem-estar, rejuvenescimento e saúde
Six Senses Ibiza oferece diversos programas de bem-estar, rejuvenescimento e saúde

Não há crise econômica, guerra ou pandemia que esfrie o cada vez mais aquecido mercado global de Turismo de luxo. Correções de itinerário são feitas quando a realidade se impõe. A quase obsessão atual por bem-estar e experiências personalizadas surgiu em um desses momentos de ajuste. O pós-pandemia elevou o nível de exigência do consumidor de alto padrão. Viajantes querem conforto para corpo, mente e alma e, ainda, autenticidade e imersão cultural. Alternativas sustentáveis e serviços sob medida se tornam fundamentais.

O setor de viagens é um dos maiores do mundo, compondo atualmente cerca de 9% do PIB global. De acordo com dados recentes da consultoria global McKinsey, a demanda pelo Turismo de luxo continuará aumentando mais do que qualquer outro segmento desta indústria. Viagens deluxe movimentaram em torno de US$ 239 bilhões (€ 220 bilhões) em 2023. A McKinsey prevê que, até 2028, este valor pode alcançar US$ 391 bilhões (€ 360 bilhões)

Artigo publicado pela Forbes, em setembro, destaca um aspecto que colabora para o crescimento do mercado: nem todo turista de luxo é milionário. Dados da McKinsey mostram que 35% deles têm patrimônio líquido inferior a US$ 1 milhão. E muitos são jovens cada vez mais inclinados a gastar em experiências de alto padrão do que em acumular bens.

Ainda segundo o estudo da consultoria, estes apenas ricos, e não milionários, quando em um hotel luxuoso, podem optar por um quarto standard em vez de escolher a suíte mais incrível. E preferirem investir em um programa gastronômico bacana ou uma aventura personalizada.

A ênfase em viagens responsáveis atrai um público que valoriza experiências transformadoras enquanto cuida de corpo, mente e alma. Neste contexto, a procura por Turismo de bem-estar se expande exponencialmente. O movimento reflete mudanças nas prioridades. Viajantes de luxo buscam autoconhecimento e relaxamento. Bem-estar não significa apenas um bom spa. Os consumidores esperam oferta ampla, como atividades esportivas; aulas de ginástica, culinária, quem sabe, cerâmica; ménus variados; meditação ou programas de saúde. A lista é longa.

"É impressionante a velocidade com que o novo foco na longevidade está reecrevendo o mercado de bem-estar", diz Beth McGroarty, diretora de Pesquisa da organização sem fins lucrativos Global Wellness Institute (GWI), em reportagem publicada em outubro na Travel Weekly. “As pessoas querem envelhecer de maneira radicalmente diferente de seus pais e avós e estão buscando novas abordagens que possam prevenir problemas”.

Beth McGroarty cita o exemplo do Four Seasons Maui at Wailea, no Havaí. O resort, onde foi gravada a primeira temporada da série da Max White Lotus, na qual o spa e seus tratamentos têm uma participação relevante, fez uma parceria com uma empresa médica americana especializada em longevidade. A Next Health oferece aos hóspedes do FS tratamentos com células-tronco e terapias variadas. Nem todas com comprovação científica, vale ressaltar.

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Carolina Mogames, da Belmond
Carolina Mogames, da Belmond

Já uma propriedade com o wellness no DNA, como a clínica espanhola SHA, abriu um resort no México, ano passado, na Costa Mujeres. Foi um dos destaques da ILTM North America, realizada em setembro nas Bahamas. Em 2026, a SHA chega aos Emirados Árabes Unidos.

Também durante a ILTM NA, Carolina Mogames, diretora de vendas para as Américas da Belmond, fez uma apresentação especial sobre os legendários trens Belmond, enfatizando justamente o foco em bem-estar do Eastern & Oriental Express, relançado este ano:

“Partimos de Singapura para itinerários de três noites na Malásia e agora oferecemos o primeiro spa Dior no Sudeste da Ásia”, anunciou Carolina. “O novo spa sobre trilhos tem tratamentos exclusivos com inspiração asiática e ocupa um dos 16 vagões do trem”.

A visão do mercado brasileiro de viagens de luxo

E no Brasil? Como o consumidor de alto padrão se encaixa nesse movimento global? “Brasileiros estão cada vez mais buscando viagens de bem-estar”, diz Danielle Andreazzi, gerente de Vendas para o país das marcas de luxo e lifestyle da Accor. “Percebemos o aumento da procura por hotéis do nosso portfólio que oferecem programas de wellness”.

PANROTAS / Emerson Souza
Danielle Andreazzi, da Accor
Danielle Andreazzi, da Accor

Estela Farina, diretora-geral da Norwegian Cruise Line (NCL), aponta que a procura por viagens associadas ao bem-estar também se reflete no segmento de cruzeiros de luxo:

“É tendência mundial, e vemos bastante forte no Brasil. A experiência da navegação é comumente descrita como uma sensação de paz. Além disso, os navios oferecem atividades como yoga e meditação, e experiências nos portos com objetivo de bem-estar”.

Para Giovana Jannuzzelli, diretora de Marketing do TP Group, viagens fora da alta temporada e com foco crescente em experiências, exclusividade e privacidade estão em alta:

“Wellness é uma tendência fortíssima para o mercado brasileiro. Houve uma mudança de comportamento do cliente no pós-pandemia que se consolidou. Não estamos falando apenas de ótimos spas, com tratamentos estéticos e relaxantes. A atenção está voltada, também, para a saúde, o autocuidado emocional, a busca por destinos de natureza e desconexão. A Suíça chama a atenção no campo da saúde, com clínicas na vanguarda tecnológica e aliadas à hotelaria de alto padrão. No sentido espiritual, vemos Butão, com os preceitos do budismo, aparecer ao lado de lugares mais tradicionais como Tailândia, Indonésia e Japão. Para contato direto com a natureza, Lençóis Maranhenses, desertos espetaculares como o AlUla, na Arábia Saudita; o de Utah, nos Estados Unidos, ou o do Atacama, no Chile, também se destacam”.

Eby Piaskowy, especialista em luxo da Goya by Copastur, ressalta que, atualmente, os viajantes brasileiros buscam bem-estar, além de visitar um destino:

“Os viajantes estão querendo muito mais do que conhecer um novo lugar. Procuram experiências culturais, por exemplo, que possam ser compartilhadas com família e amigos, ou uma imersão ao encontro com si mesmo. São várias as motivações. As viagens podem ser feitas solo, em casal, com diferentes gerações de família, com amigos. A pandemia mostrou o quanto é importante viver cada momento. As pessoas estão menos preocupadas em adquirir e mais interessadas em sentir. Atenção plena, meditação, terapias de relaxamento, tratamentos com infusões energizantes e de rejuvenescimento, e yoga estão em alta. Lançamos este ano um novo serviço, o Goya Soul, para cuidar do que é mais precioso de forma prazerosa”.

Eby lista alguns resorts e clínicas que estão fazendo o consumidor brasileiro de viagens de luxo sair pelo país e pelo mundo buscando conexão de corpo, mente e alma:

“O Six Senses Ibiza oferece diversos programas de bem-estar, rejuvenescimento e saúde, assim como o Katikies Kirini, em Santorini, na Grécia; o Soneva Fushi, nas Maldivas; o Four Seasons Resort Maui e o 1 Hotel Hanaley Bay, em Kauai, no Havaí. No Brasil, temos spas médicos como o Rituaali, em Penedo (RJ), e o Kurotel, em Gramado (RS). Na Europa, podemos citar a Clinique La Prairie, em Clarens, na Suíça, uma das mais tradicionais; o Palazzo Fiuggi, nos arredores de Roma, e a SHA Wellness Clinic, em Alicante, na Espanha, que este ano abriu na Costa Mujeres, no México. O Catar tem o Zulal Wellness Resort”.

Bem-estar e (muito) além

Bem-estar é uma tendência forte, mas não é a única que faz o viajante decidir para onde vai. Estela Farina, da NCL, observa o aumento de interesse por roteiros por fiordes da Noruega; Ásia, incluindo o Japão, e novos navios, como o segundo da classe Allure, da Oceania Cruises, previsto para ser lançado em meados de 2025 em cruzeiros pelo Mar Mediterrâneo.

PANROTAS / Emerson Souza
Estela Farina, da NCL
Estela Farina, da NCL

“As vendas de 2024 mostram a recuperação do segmento, com números que superam os do período pré-pandemia”, diz Estela. “Novos itinerários e navios, como o da Oceania e o projeto da Regent, o Seven Seas Prestige, fazem com que as expectativas continuem fortes”.

O Regent Seven Seas Prestige, ainda nos estágios iniciais de construção, está previsto para 2026. O navio vai inaugurar uma nossa classe definida pela Regent como “ultraluxuosa”. Giovanna Jannuzzelli, do TP Group, também vê os cruzeiros de luxo em expansão:

“Navegações, com destaque para o Mar Mediterrâneo e a Antártica, e viagens multigeracionais continuarão em alta. A procura por safáris também está aumentando”. Eby Piaskowy, da Goya, concorda:

“Safáris em Botswana e na Tanzânia, ou em Ruanda, para ver os gorilas-das-montanhas, se destacaram em 2024 e seguirão fortes em 2025. Mesmo caso do Japão. O ano de 2024 trouxe uma grata surpresa, com as vendas acima das expectativas. A tendência é de um 2025 muito positivo não somente no volume, mas também no tíquete médio, com os consumidores brasileiros dispostos a gastar mais para ter experiências exclusivas”.

Eby cita alguns destinos que podem se destacar nos itinerários em 2025:

“Estamos apostando nas ilhas de Turk & Caicos e Anguilla, no Caribe; na Costa Rica; em Tucumán, na Argentina; na Noruega e na Albânia, e em Krabi, destino de praia na Tailândia. São tendências que mostram uma vontade latente de fugir de grandes metrópoles que estão estressando muito os viajantes pelo volume massivo de turistas”.

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Eby Piaskowy, da Copastur
Eby Piaskowy, da Copastur

Giovanna Jannuzzelli, do TP Group, chama a atenção para o Brasil:

“O país também ganha muito com os Lençóis Maranhenses, onde temos a Casa Oiá, a primeira iniciativa do TP Group no segmento de hospitalidade. Outros destaques de 2024, foram, como sempre, França, Itália e Estados Unidos. Japão, África do Sul, Espanha, destinos de esportes de inverno, como Courchevel e Valle Nevado, também tiveram alta procura. Vimos à volta da normalidade dos números em 2024 em relação à 2019. As perspectivas para 2025 são as melhores. Há crescimento consistente na Teresa Perez e em outras iniciativas do TP Group, como a TP Air, TP Corporate e Oiá, que devem se expandir em 2025”.

Respeito ao meio ambiente, impacto social positivo e boas práticas de governança

Durante a ILTM North America, a importância dos conceitos de ESG (Environmental, Social and Governance na sigla em inglês) no setor de viagens foi ressaltada por muitos participantes da feira de luxo voltada para o mercado consumidor. Apenas como um exemplo, Stacy Mackler, vice-presidente de Relações-Públicas do Preferred Travel Group, valorizou a adição ao portfólio da associação da Beyond Green, especializada em Turismo regenerativo:

“Todos os 40 membros da Beyond Green eliminaram de suas operações as garrafas de água em plástico de uso único. No total, as propriedades têm 24 diferentes espécies de animais. Nosso objetivo é preservar a natureza, a cultura e as comunidades locais”.

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Giovanna Jannuzzelli, do TP Group
Giovanna Jannuzzelli, do TP Group

Giovanna, do TP Group, vê o mercado consumidor brasileiro também com esta preocupação:

“Vimos aumentar a consciência em torno da sustentabilidade. Hotéis com iniciativas consistentes em ESG e Turismo regenerativo, com destinos que realmente criam ações de cuidado com o meio ambiente ou o desenvolvimento local, saem na frente. Experiências autênticas e surpreendentes continuam crescendo. É o caso do White Desert, um glamping instalado diretamente no gelo na Antártica, e dos safáris na África que, além de toda a emoção e sentido de aventura, também dão atenção muito forte à sustentabilidade”.

Estela, da NCL, ressalta os compromissos da indústria de cruzeiros com estes parâmetros: “Há uma agenda firmada por toda indústria de cruzeiros para minimizar a emissão de gases. Há muito investimento em pesquisas de combustível e ajustes dos motores para se tornarem híbridos. Os novos navios já trazem esta possibilidade. Além disso, reduzimos drasticamente o uso de plástico a bordo eliminando as garrafas de uso único. Os critérios de ESG são também levados em conta em nosso compromisso de fortalecer as comunidades visitadas e capacitar pessoas, além de operar sempre com integridade e responsabilidade.”

Já Eby, da Goya, é um pouco menos otimista, e destaca que ainda podemos melhorar muito: “Os parâmetros de ESG não são decisórios. A Geração X, os millennials e a Geração Z têm mais consciência, porém é um longo caminho. Claro que empresas mais responsáveis têm uma vantagem competitiva. Manter campanhas constantes e ressaltar esse diferencial ajudará que seja relevante na escolha. Mas é um movimento que precisa crescer”.

Por Carla Lencastre, especial para o Anuário de Luxo ILTM & PANROTAS

As matérias na íntegra podem ser consultadas abaixo:

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