Artur Luiz Andrade   |   20/12/2023 16:47
Atualizada em 20/12/2023 16:51

Veja os insights de Carlos Ferreirinha para as viagens de luxo em 2024

Olhar o Brasil todo e não apenas o Sudeste; ser original e autêntico; e pensar positivo são algumas dicas

PANROTAS / Marluce Balbino
O que o futuro espera de nós?, pergunta Carlos Ferreirinha
O que o futuro espera de nós?, pergunta Carlos Ferreirinha

Eutopia. De origem etimológica grega que significa algo como “o lugar onde você se sente bem”, foi o tema escolhido por Carlos Ferreirinha, consultor para o mercado de luxo, para guiar seus negócios e de seus clientes em 2024: “Eutopia é um bom lugar entre o sonho utópico e o caos distópico”.

Com a dicotomia entre utopia e distopia, Ferreirinha encerrou sua apresentação no lançamento brasileiro da terceira edição do Annual Luxury Travel Report, uma publicação da ILTM e PANROTAS, já em sua terceira edição. O evento foi realizado nesta quarta-feira, 20 de dezembro, no Fairmont Rio de Janeiro Copacabana, em um salão com vista ensolarada para a praia e o Pão de Açúcar, e reuniu mais de 70 representantes do segmento de luxo do setor Viagens e Turismo, entre agentes e consultores de viagens e fornecedores. O anuário com análises e tendências para o mercado de viagens de luxo pode ser lido aqui.

Ferreirinha apresentou vários insights a partir da pergunta “O que o futuro espera de nós?”:

“Desafio não é apenas tentar prever o futuro. Ainda mais em um mundo em que vivemos no limite da incerteza. Algo que falo para meus clientes: se eles conseguirem um planejamento para seis meses, em um mundo de não-previsibilidade, já está ótimo. E por isso é preciso estar aberto para reagir rapidamente ao que vier pela frente", disse.

"Temos que nos tornar tradutores simultâneos (para nossos clientes, para os parceiros, para os colaboradores) de tanta informação, tendência e opções. Como o crescimento cada vez maior do mundo pet, por exemplo, vai impactar o mercado de viagens? Tem gente que quer viajar com animal de estimação e tem gente que não se hospeda em hotel que aceita pet. Um grande desafio que vai cair no colo de vocês, do mercado de viagens. Precisamos traduzir isso para nossos clientes”.

Carlos Ferreirinha
PANROTAS / Marluce Balbino

A seguir, alguns dos pontos abordados por Ferreirinha no lançamento do Anuário de Viagens de Luxo ILTM e PANROTAS 23/24.

Desenvolvimento sustentável. “Quem acelera sustentabilidade não é consumidor. É o mercado de capitais. Empresas e marcas serão penalizadas se não entregarem premissas básicas para o desenvolvimento sustentável. Fica mais difícil conseguir investimentos, o dinheiro vai custar mais caro. É a economia real que vai fazer a sustentabilidade avançar”.

Portanto, preparem-se para as mudanças ligadas a sustentabilidade por força da exigência das grandes corporações e grandes negócios. Meio ambiente, diversidade, inclusão e governança são cada vez mais itens obrigatórios em qualquer negociação. Já há consultorias que não assinam, por exemplo, relatórios de empresas que não têm comprometimento com a igualdade de gênero.

Pensar positivo. “Temos que tomar cuidado com a Síndrome de Hardy”. Ferreirinha lembrou em vários momentos da hiena dos desenhos da Hanna-Barbera que vivia a se lamentar com “oh vida, oh céus, oh azar”. “A geração de riqueza no Brasil aumentou. O País entrega de 14 a 16 cidades fortes para consumo de viagem de luxo, e muitas estão fora do eixo Sudeste-Sul”.

Olhar para o restante do Brasil, que compra apartamentos de luxo em Balneário Camboriú, é olhar para oportunidades. O Brasil deve chegar a sétima economia mundial em dois anos (já é a nona) e pode brilhar também no Turismo – desde que ofereça o que o mundo quer comprar do Brasil: autenticidade, o DNA brasileiro, o Turismo com borogodó.

As viagens e o consumo de luxo em geral vão explodir, os milionários aumentam no Brasil e no mundo, vamos ser a sétima maior economia do mundo... Temos de pensar positivo com tudo isso. Se fôssemos donos de salas de cinema, lembrou ele, aí sim estaríamos falando "Oh vida".

Luxo como inspiração. “Luxo é recorte. Quem decide nadar contra a corrente de massa, que é volume e preço, precisa se esforçar mais. Luxo é prestígio, diferenciação, experiência, emoção, inovação, tradição, excelência. É perpétuo e significativo”.

Luxo é relacionamento, é acompanhar a jornada do seu cliente na vida, por vários anos, por gerações.

“Mesmo quem não trabalha com o luxo, pode olhar e se inspirar como modelo de negócio, como modelo de gestão. O luxo é uma incubadora de boas práticas de geração de valor.”

2024: “Inspiração é o combustível. Temos que repensar, reagir, reiniciar, refletir, respirar. Presunção e arrogância não é o mesmo que segurança e confiança. Há uma linha tênue.”

PANROTAS / Marluce Balbino
Simon Mayle, da ILTM, e Carlos Ferreirinha
Simon Mayle, da ILTM, e Carlos Ferreirinha

Gestão de luxo

Ferreirinha destacou também características de marcas de luxo impecáveis.

Deixam claro seus elementos de escassez: “O que eu tenho, poucos têm. Deixe evidente sua singularidade”.

Obsessão por relacionamentos: “Somos obcecados pela conversão. A hiperconectividade tem nos afastado do outro. Estamos perdendo capacidade de argumentar, de narrativa, repertório. Temos que ser obcecados por relacionamentos, como as marcas de luxo são”.

Obstinação pelo legado: O que eu deixo, onde escrevo minha história”. Ter uma boa história, aliás, é outra obsessão de Ferreirinha e o setor de luxo.

Autenticidade: “Quando estamos na Europa, cheiramos o original, o genuíno e não uma cópia, e não algo fake. O Brasil tem que ser mais consciente e seguro dos nossos códigos de brasilidade. Nós confundimos muito isso com manifestações folclóricas. O mundo quer comprar a bossa brasileira”.

Os destinos e as marcas não copiam uns aos outros, não querem ser melhores que os outros, eles competem pela originalidade.

Expandir a base de clientes: o que não quer dizer trocar de clientes, mas olhar além da sua bolha. Mais uma vez olhar o Brasil inteiro.

Ir até onde o consumidor está (digital e presencialmente).

Sair da transação comercial para a experiência.

“A expansão da base de clientes é uma das obsessões atuais das marcas de luxo. A Louis Vuitton, por exemplo, fez uma intervenção na feira Art Basel. E lançou chocolates com a logomarca LV. Ou seja, não é mais só a posse da bolsa. Você pode comer a marca”.

PANROTAS / Marluce Balbino
Carlos Ferreirinha com José Guilherme Alcorta e Artur Luiz Andrade, da PANROTAS
Carlos Ferreirinha com José Guilherme Alcorta e Artur Luiz Andrade, da PANROTAS

Turismo de luxo

Para Ferreirinha, o Turismo brasileiro pode se beneficiar das boas notícias que estão ao nosso redor:

  • Mais pessoas com dinheiro (milionários mesmo)
  • Busca por produtos que o Brasil tem (da autenticidade à diversidade)
  • Explosão de alguns segmentos, como bem-estar (wellness, que vão de celebrações ao bem-estar físico e mental), viagens com pet, viagens de experiência, viagens sustentáveis (que serão uma obrigatoriedade em alguns casos, como vimos acima), viagens multigeracionais (onde a geração Z já decide para onde a família vai), entre outros
  • Crescimento dos produtos para a diversidade (como a Ferrari, que, depois de dizer que nunca faria carros grandes, tipo SUV, lançou o seu modelo para a família e é sucesso mundial – ou seja, deixou de olhar só o homem por trás do volante e inclui a mulher, as crianças, outros motoristas em potencial)
  • Pessoas vivendo mais e melhor.

E os desafios também são grandes, como as oportunidades. Entre eles, o aumento dos custos dos produtos e serviços em todo o mundo (o que obriga a ser mais eficientes), a inflação, a imprevisibilidade (das guerras à pandemia), o clima cada vez mais frágil e reativo e a diversidade de consumidores e comportamentos, que não podem ser rotulados, ainda mais no luxo.

Colaborou Carla Lencastre, especial para o Portal PANROTAS



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