Quais as tendências e desafios do segmento Mice para 2025? Operadores opinam
Especialistas da Copastur, Costa Brava, Teresa Perez e outras empresas dão suas opiniões sobre o tema
Como forma de aproveitar a participação na IBTM em Barcelona, feira que é considerada um dos mais importantes eventos globais da indústria Mice (Encontros, Incentivo, Congressos e Feiras), e posterior participação em famtour pela Catalunha, a PANROTAS entrevistou diversos profissionais que participaram do evento, para saber deles as principais tendências e desafios do segmento Mice no próximo ano.
Confira, abaixo, a opinião dos especialistas:
Daniela Oshiro – Copastur
"Hoje a Copastur tem diversas marcas, que fazem parte da nossa biosfera, e o Mice tem um papel muito importante dentro desse portfólio de negócios, considerando que alguns clientes começam a ser atendidos no corporativo e depois passam a ser atendidos também em eventos. Nesse sentido, um dos desafios é conscientizar esses clientes de que a forma de atendimento de Mice é diferente do corporativo. O SLA nesse segmento não é tão ágil quanto no corporativo, por conta da complexidade, dos detalhes envolvidos nas solicitações e também nas negociações com os fornecedores.
Além disso, vivemos hoje uma era marcada pela velocidade da informação, por conta do avanço tecnológico, e todo mundo tem acesso instantâneo a dados, conteúdos, tudo em tempo real. O que é extremamente positivo, mas eu acho que é importante que a gente fique atento também na qualidade da informação.
Há uma quantidade enorme de informação, disponível mas às vezes ela pode ser absorvida de forma fragmentada, e isso pode levar a uma tomada de decisão equivocada. Então, eu acho que a agilidade no acesso à informação é importante, mas é mais importante que haja uma atenção ali, um olhar mais criterioso com os dados, fazer uma análise mais profunda, considerando vários fatores relevantes. Por exemplo, para uma viagem de incentivo ou para a organização de um evento, é importante cruzar os dados e o conhecimento técnico, levando em consideração as necessidades e as expectativas do cliente.
Por fim, um ponto de atenção de todos os que fazem parte do setor e um desafio especificamente aqui da Copastur para a área de Mice é intensificar um pouco mais a divulgação da marca Mice, porque às vezes a Copastur acaba sendo um pouco mais conhecida por outras marcas, como o corporativo ou a Goya, quando a gente fala de produtos high-end, então acho que um dos desafios para TMC é fortalecer um pouco mais a divulgação da marca Mice no mercado".
ESG e IA como tendências para o segmento Mice
"Em relação às tendências de mercado, eu acredito que ESG e IA são pontos bastante importantes. ESG não no sentido de greenwashing, né, mas na prática, de forma genuína. A gente vê exemplos na IBTM ou, por exemplo, na IMAX também, que eles utilizam bastante papelão nos eventos, tanto na parte de A&B ou bancos que são utilizados nos estandes. Vários são fabricados de papelão, o que já contribui e reduz bastante o impacto ambiental.
Em relação à IA, eu fiz a ressalva anteriormente de que a gente precisa analisar os dados de uma forma um pouco mais criteriosa, mas eu entendo que a IA contribui muito para a agilidade da comunicação. Então, achei interessante uma solução de IA que foi utilizada em um dos painéis na IBTM, em que os palestrantes ficavam no centro do palco e a tela atrás deles, com a apresentação, e de um lado tinha transcrição em espanhol e do outro tinha em inglês. Ao conversar com um fornecedor de audiovisual que era responsável pelos serviços desse painel, ele falou que essa tecnologia tem sido bastante utilizada, e eu entendo que é uma inovação bem relevante, considerando que não é necessário um espaço para colocar as cabines de tradução e ter ali os tradutores fazendo as escalas.
Além disso, eles disponibilizavam também um QR code que permitia o acesso à transcrição em vários outros idiomas, o que eu achei interessante, pois acaba sendo mais inclusivo e você consegue otimizar a comunicação durante o evento, abrangendo um público ainda maior por conta dessa desses outros idiomas que eles disponibilizam. Achei uma solução bastante interessante, que a gente pode replicar para os eventos que realizamos aqui no Brasil."
Patricia Blanco – Costa Brava
"Hoje a Costa Brava é uma empresa 360º, completamente voltada para Mice e corporativo, e o Mice cresceu muito com a globalização. No pós-pandemia o segmento teve um crescimento muito grande e ele tem sido usado de forma estratégica para networking, para fortalecer parcerias, fechar negócios, novos clientes, ou seja, tem sido usado cada vez mais com esse intuito, de crescimento, de posicionar a marca no mercado. Em 2023, éramos em torno de sete pessoas na área de incentivos e hoje somos 14. Em 2025 teremos duas novas incorporações, então iremos para 16 pessoas.
Temos clientes com perfil de demanda mais nacional e isso influencia muito a verba, pois hoje, com o euro e o dólar subindo muito, alguns clientes já vêm com a proposta pedindo opções nacionais, não só no Nordeste, mas no Brasil inteiro. Outros clientes, por sua vez, já optam por fazer algo internacional, mas às vezes na América do Sul, por conta de budget, e tenho recebido também muitas solicitações para a Europa. Neste ano fizemos China, Japão, e há clientes que arriscam mais, buscando um destino mais exótico".
Grandes projetos com prazo curto são um desafio
"Um grande desafio para 2025 que já temos visto em 2024 são os prazos. As empresas têm solicitado projetos grandes com prazo bem curto, há concorrências envolvendo muitas empresas, solicitando muitos destinos, o que acaba dificultando um pouco o projeto. São muitas empresas fazendo o mesmo projeto".
Relações sustentáveis são uma tendência
"Temos visto a questão da sustentabilidade com um foco diferente, já não tão ligado à redução de carbono ou plástico, mas no sentido de relações sustentáveis, de usar parceiros locais, produtos regionais, envolvendo a comunidade local. Outra tendência são as experiências diferentes e a personalização. As pessoas querem atividades personalizadas e relacionadas à sua empresa.
O wellness também continua forte no próximo ano. A questão do bem-estar, por meio de alguma atividade física. Vi na IBTM um espaço para yoga, descanso, hoje as pessoas buscam um local pra trabalhar com um ambiente mais tranquilo. Em algum momento do dia é preciso incluir esse tipo de atividade no programa. Além disso, vemos a preferência por destinos menos conhecidos e pela participação de comunidades locais na atividade, com o intuito de conhecer melhor uma cultura. Atividades como cooking class são um exmplo para sair do tradicional, ou visitar uma comunidade local. As pessoas querem uma vivência mais autêntica".
Lu Carmo - WE Viagens e Eventos
"O Mice representa 100% dos negócios da nossa empresa, e o maior percentual é voltado a viagens de negócios e experiências, com 80%, enquanto 20% são eventos corporativos. Estamos fechando todo planejamento de 2025 e olhando para 2026 para entregar cada vez mais viagens e experiências que sejam altamente customizadas para os clientes, mas levando em consideração a tecnologia, a sustentabilidade e o envolvimento das pessoas, trazendo cada vez mais resultados aos nosso clientes e para esse segmento. é um desafio saber como combinar a produtividade da tecnologia mantendo a alta personalização nos serviços que serão entregues".
Pessoas engajadas e mundo hiperconectado são desafios
"Nosso mercado Mice é direcionado para educação corporativa, nós desenvolvemos os empresários e conectamos pessoas, entregando experiências altamente customizadas, treinamento e conhecimento. O maior desafio para os empresários, independentemente do setor de Mice ou outros setores que nós atendemos no Brasil e no Exterior, ainda são as pessoas. Por meio delas construímos experiências memoráveis, e ter essas pessoas engajadas na personalização, dentro do trabalho, é um desafio para qualquer setor, não apenas para o Mice.
O segundo desafio é que vivemos em um mundo altamente hiperconectado, as pessoas têm senso de pressa e de que sempre estão perdendo algo. Muitas vezes, nessa ânsia, os clientes acabam demandando muitas coisas para as agências, com muitas cotações, orçamentos ,e temos que direcioná-los. Nosso papel é fazer essa curadoria para que a gente possa direcionar o cliente e mostrar onde ele terá mais resultados. A sensação do FOMO (Fear of Missing Out) faz com que empresas demandem muito mais das agências do que seria necessário para realizar um grande projeto"
IA, sustentabilidade e wellness reinam nas tendências
"Quando olhamos as tendências mercadológicas, vejo três grandes vertentes:
- A utilização da IA, não substituindo as pessoas, mas transformando processos e tirando fricções dentro de grandes eventos, por meio da utilização das ferramentas de forma correta;
- A sustentabilidade, principalmente Brasil. Vejo isso acontecendo em outros países, mas não na mesma proporção que acontece no Brasil. As empresas passarão a comprar e fazer negócios com outras empresas que tenham a mesma proposta de valor, olhando a questão da sustentabilidade do início ao fim dentro dessa cadeia de viagens e eventos;
- Por fim, o mundo inteiro clama e olha para o mercado de bem-estar. Quanto mais pudermos concatenar o wellness dentro das atividades das viagens de trabalho e incentivo, melhor".
Rafael Gomes – Quickly Travel
"O departamento de Mice vem ganhando muita potência, inclusive tem tomado fôlego para ser um dos carros chefe da empresa. O corporativo ainda tem muita potência, mas no Mice conseguimos bater a meta de todos os meses e isso é um bom indicativo. Acho que departamento de Mice tem um potencial maior pelas possibilidades, porque trabalha com diversos tipos de eventos, experiencias e viagens de incentivo".
Tempo de solicitação dos orçamentos é um problema
"Antes tínhamos um tempo muito maior, de um ano a um ano e meio, e íamos falando com cliente, estruturando a viagem, e juntos conseguíamos os melhores preços. Hoje as demandas têm vindo para quatro ou cinco meses, tempo muito curto, e isso acaba deixando o projeto mais engessado, é preciso entregar muito rápido ou o que tem disponível, e acabamos perdendo um pouco das possibilidades e da disponibilidade dos espaços. Mas isso acaba se tornando um potencial, porque sabendo disso, já conseguimos deixar as coisas pré-organizadas, entendendo perfil do cliente e criando essa demanda, sem esperar ele trazê-la".
ESG é uma forte tendência
"Um dos pontos que vêm ganhando cada vez mais força e ditando a forma como vamos criar roteiros são os conceitos de ESG. O tema da IBTM deste ano foi People, Power, Potential, e está forte a questão do social, de olhar para o outro com mais cuidado e carinho.
E isso não só entre fornecedores, mas com clientes também. A partir do momento em que há esse atendimento one a one, mais humano, que enxerga o outro e consegue passar esse cuidados nas experiências do roteiro, os convidados se sentem especiais, o cliente se sente ouvido e é um ganha-ganha.
Nesse sentido, priorizamos experiências que tragam uma sensação legal para os convidados, ao mesmo tempo em que conseguimos ajudar comunidades locais. Essa tendência está cada vez mais forte. Além disso, o conceito de luxo vem mudando muito, antes era mais ostentação e hoje em dia ele está muito mais relacionado à experiência".
Áquila Mattos – TP Corporate
"A Teresa Perez é conhecida pelo Turismo de luxo. A TP Corporate era mais uma unidade de projetos especiais e, desde o ano passado, ganha sede, corpo e importância, não só dentro do Grupo Teresa Perez, como também no mercado. Todo o relacionamento e conhecimento que o Tomás e a Teresa Perez têm no Turismo de luxo, no atendimento personalizado, nós trazemos para o corporativo, com o conhecimento do Gustavo Bernhoef, que tem uma história em eventos uma carreira no corporativo.
Entender como podemos trazer a personalização para o corporativo tem dado tão certo, que nossa aposta é a Aurum Incentives, que acabou de estrear e é a nova unidade focada em Mice. Ela é uma parceria entre a TP Corporate e a MCI Brasil.
Há vários gargalos na área de Mice e já passamos por algumas questões. falamos muito sobre experiências e o desafio de torná-las palpáveis e compreensíveis, além dos desafios práticos operacionais. O desafio da TP, entrando no Mice, é separar essa ideia de que a Teresa Perez é só luxo. Quando falamos de corporativo, a gente não fala de luxo, mas sim de personalização da experiência.
A Teresa Perez tem a expertise de apresentar destinos não tão convencionais para os viajantes e o desafio é trazer isso para o corporativo. Por que fazer uma convenção em São Paulo se posso fazê-la na Espanha, com toda a experiência, e ter resultados diferentes? Nosso objetivo é fazer o casamento perfeito entre destino, experiência e marca. Como diz o Gustavo Bernhoef, é preciso criar a viagem dos nosso sonhos e dá-la de presente para os nosso clientes."
Rodrigo Maldonado – Contactos
"Em nossa empresa, desenvolvemos o segmento Mice com viagens de incentivos e eventos corporativos. Hoje o segmento Mice representa cerca de 70% do nosso negocio, sendo os outros 30% representados por uma agência de viagens e um operador de excursões de terra, que temos como empresa adicional. Esses 70% de Mice se dividem entre incentivos e eventos corporativos"
Desregulamentação do setor é um problema
"Quando falamos do setor de Turismo na Colômbia, não há regulação de setores especializados. É preciso que o setor seja reconhecido com requisitos que garantam ao consumidor que contrata uma empresa a qualidade para operar eventos. Congressos exigem muita responsabilidade e geram grandes investimentos".
Eventos presenciais e personalização ganham força
"Outra tendência é a força que vêm ganhando os eventos presenciais. Quando a pandemia veio, as pessoas pensaram que os eventos virtuais eram uma tendência futura e hoje vemos como o presencial é um aspecto importante nos eventos. Cada vez mais as pessoas querem fazer negócios de maneira presencial, principalmente quando se trata de interação comercial.
Além disso, a personalização é uma tendência forte, assim como o uso de IA. E a sustentabilidade também ganha destaque, não só do ponto de vista ambiental, como também social. Hoje é preciso incluir as comunidades como parte da experiência. E temos que ser cuidadosos e respeitosos ao realizar eventos nas cidades, para que os eventos não causem transtorno aos moradores. As empresas estão mais conscientes de contribuir com as comunidades locais e estão dispostos a investir e levar recursos para contribuir com organizações sociais"