Da Redação   |   01/08/2022 00:01

A indústria do Turismo e o apagão de mão de obra

Estamos sentindo o impacto das demissões ocorridas durante a fase mais aguda da pandemia


Divulgação
Hotel De Russie
Hotel De Russie

A INDÚSTRIA DO TURISMO E O APAGÃO DE MÃO DE OBRA

Por Marina Gouvêa, CEO da PRIMETOUR

Apagão de mão de obra. Com certeza isso tem sido assunto nas agências de vocês também. Esse fenômeno tem atingido em cheio as áreas mais afetadas pela chegada do vírus SARS-CoV-2, como as de entretenimento, eventos e, claro, Turismo. Com o início da retomada possibilitada pela vacinação, estamos sentindo o impacto das demissões ocorridas durante a fase mais aguda da pandemia – quando não só não havia ainda luz no fim do túnel, como também sequer conseguíamos enxergar o próprio túnel. Temos hoje hotéis sem camareiros, companhias aéreas sem tripulação, agências sem consultores. Quando mais precisamos completar o time com profissionais prontos a entregar, menos profissionais prontos estão disponíveis no mercado. Hoje, eu gostaria de falar sobre essa situação organizando as ideias em um eixo que tem como régua o nível de capacitação dos profissionais.

O APAGÃO DE MÃO DE OBRA E O PROFISSIONAL DE TURISMO QUALIFICADO:
UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE
Comecemos falando dos mais capacitados, dos que estavam seguindo carreira dentro do mercado de Turismo. Sabemos: a demissão na nossa área foi imensa, e é considerável a quantidade de empresas que se viram obrigadas a demitir quase toda sua força de trabalho. E o que aconteceu com esses profissionais? Claro: buscaram emprego em outros ramos. Alguns estavam só à espera do retorno das viagens e brevemente se recolocaram. Nós mesmos temos a alegria de termos recontratado quase 20 funcionários! Mas isso não é o cenário completo. Algumas pessoas se encontraram em outras especialidades. Ou estão satisfeitas com o novo cargo. Ou até voltariam, mas seguem ressabiadas – e se houver novo lockdown? Há os que foram atrás de outro sonho ou estilo de vida. Os cenários são tão variados quanto as trajetórias das pessoas, mas o resultado é: mais vagas do que profissionais para as preencher. Uma consequência? O surgimento de vagas de altas promessas e baixa sustentabilidade. Motivados pela necessidade urgente de atender aos clientes que retornaram ansiosos, empregadores que dispensaram suas equipes fazem o que é preciso para atrair pessoas habilitadas.

O que vemos nos preocupa: salários acima do que qualquer empresário sabe ser condizente com a entrega em vendas que um profissional é capaz de fazer. Como solução de curto prazo, pode até parecer uma solução. Mas, o que acontecerá quando o mercado se estabilizar e esses salários inflacionados não condizerem com a realidade? Esses profissionais, acreditamos, estarão em um risco maior de perderem os seus empregos (novamente). E esse é um atalho pelo qual não iremos enveredar. Acreditamos que os geradores de emprego possuem a responsabilidade social de disponibilizar vagas com potencial de segurança financeira e estabilidade (uma meta que importa tanto ao profissional quanto à empresa, que também se beneficia de uma equipe de baixa rotatividade). É parte da resiliência esperada de nós agora o aceitar da realidade. Acreditamos com essa aceitação recuperar o patamar de profissionais altamente capacitados do período pré-pandêmico? O mesmo nível de qualidade, com certeza. O mesmo número? Para já, provavelmente, não. Faremos o que somos capazes de fazer e nos limitaremos ao tamanho que pudermos ter. Com a responsabilidade à frente da pressa.

Divulgação
The Leela Palace New Delhi
The Leela Palace New Delhi

O APAGÃO DE MÃO DE OBRA E A MASSA DE DESEMPREGADOS:
UMA QUESTÃO DE ESTADO
Do lado oposto a esses profissionais que estão retornando e se colocando, há a massa de pessoas em busca urgente por um emprego. Aqui, o ponto crucial é a questão de fundo da formação dos trabalhadores – ou a ausência dela. Falo de questões básicas. O português correto. A própria possibilidade de desenvolver o hábito de estudar. São problemas profundos e que têm se agravado nos últimos anos. Em um país desigual como o nosso, o problema se inicia na infância: muitas vezes, falta até mesmo a nutrição adequada para uma criança ser capaz de absorver o que é ensinado na escola. O resultado é: uma massa de desempregados de um lado e vagas por preencher de outro, em uma conta que não fecha. Falta uma base educacional que forme essas pessoas e as torne capacitadas a ingressar neste mercado.

Em uma palestra a que assisti, a futurista Any Web, profissional renomada que ajuda grandes empresas a prever tendências impulsionadas pelos avanços tecnológicos, fez uma interessante aposta sobre quais deveriam ser as três prioridades do Brasil mirando um futuro melhor: a defesa intransigente da democracia, o cuidado com o nosso bioma e a busca pela igualdade – que só será alcançada com a ampliação das oportunidades de educação para todos os estratos da sociedade. O futuro do Brasil (e do mundo) passa pela escola. Esse é um problema, portanto, social, estrutural, e que demanda uma solução de longo prazo, coletiva e de Estado.

O APAGÃO DE MÃO DE OBRA E A NOVA GERAÇÃO:
UMA QUESTÃO DE INVESTIMENTO

No caminho do meio, vamos olhar para o profissional ainda não colocado, mas que vem sem essa deficiência de base e já traz habilidades – a formação universitária, um inglês intermediário, o domínio do computador e da internet. Um estudante ou jovem profissional interessado, ainda que vindo de outra área, mas bom leitor e habituado à disciplina do estudo, é uma mente treinada a adquirir conhecimento. A alguém assim pode faltar o conteúdo do Turismo, a familiaridade com o funcionamento de uma agência, o entendimento do mercado de luxo: mas isso nós podemos oferecer. Então, para esse perfil, estamos desenhando uma solução que pode ser boa para eles, a sociedade, a PRIME – e outras empresas de Turismo.

Estamos estruturando – junto com os parceiros que toparem entrar nesse diálogo com a gente – um programa de trainees. Temos na nossa bagagem o aprendizado dos programas de trainees que tivemos na empresa em 2011 e 2012. A principal lição: metade do tempo do jovem em formação precisa ser em “sala de aula”. Um grupo com esse perfil poderá complementar seus estudos passando não apenas por diversas áreas de uma empresa, mas por várias empresas do nosso trade. O foco é uma capacitação que nos trará um retorno no médio prazo. A ideia, ainda que ambiciosa, é bastante simples: formarmos um pool comprometido em preparar uma nova geração de trabalhadores para repor a mão de obra eclipsada pela pandemia.

Se quiser saber mais sobra a proposta ou se envolver com ela, procure a PRIMETOUR!

Quer receber notícias como essa, além das mais lidas da semana e a Revista PANROTAS gratuitamente?
Entre em nosso grupo de WhatsApp.

Tópicos relacionados