Artur Luiz Andrade   |   30/07/2024 19:19
Atualizada em 30/07/2024 19:38

2014 ou 2024? Qual o recorde de gastos de estrangeiros no Brasil? Entenda

Economista da FecomercioSP faz uma análise neutra e isenta sobre os números do País

PANROTAS / Filip Calixto
Guilherme Dietze, da FecomercioSP
Guilherme Dietze, da FecomercioSP

A Associação Rio Vamos Vencer (RVV) e a Embratur trocaram farpas hoje em uma polêmica sobre a entrada de divisas geradas por turistas estrangeiros no Brasil. Enquanto a Embratur fala que os US$ 3,7 bilhões do primeiro semestre são recorde, a RVV diz que se trata de uma manipulação de dados, pois não leva em conta a inflação.

A Embratur chegou a enviar uma nota tentando explicar seus cálculos, mas ainda deixou perguntas no ar.

Fomos então consultar o economista da Fecomercio-SP, Guilherme Dietze, também presidente do Conselho de Turismo da entidade.

1 - Nominalmente, não há dúvidas. Não é preciso ser matemático ou ter mais que dois neurônios para saber que US$ 3,7 bilhões (dado de 2024) é maior que US$ 3,6 bilhões (dado de 2014). O argumento da RVV, no entanto, é que não houve evolução na quantidade de turistas e nem nos gastos, pois a Embratur não considerou a inflação no período.

E segundo o economista da FecomercioSP, a entidade carioca tem razão.

2 - “Se os valores forem corrigidos pelo Consumer Price Index, o IPCA americano, o montante atual é o maior desde 2019 (pré-pandemia) e o melhor primeiro período do ano seria mesmo o de 2014, já que os US$ 3,6 bilhões equivalem a US$ 4,76 bilhões atualmente”, explica Guilherme Dietze.

Ou seja, recuperamos o perdido na pandemia, mas ainda estamos longe do recorde, em dólares corrigidos, de 2014.

3 - Mas se a Embratur quer ter razão e ser feliz, Dietze confirma que, em reais, os números de 2024 são disparados os mais altos da história. Isso se explica pelo câmbio entre o real e o dólar, em patamares bastante altos.

Em reais (e os dólares de estrangeiros acabam convertidos em nossa moeda ao gastarem aqui), os US$ 3,7 bilhões do primeiro semestre de 2024 seriam R$ 18,9 bilhões, o valor mais alto da série.

“Mesmo o dado de 2014, que em dólar seria o mais alto, em reais seria o equivalente a R$ 11 bilhões, pois a taxa de câmbio nominal média que foi de R$ 2,30 para cada dólar, corrigido pelas inflações passa para R$ 3,07 por dólar”, explica Dietze.

Veja na tabela (use a barra ao fim da mesma para rolar e ver todos os dados)

Gastos de Estrangeiros no Brasil20142015201620172018201920202021202220232024
Em Dólar Nominal3.584,12.943,53.155,63.058,73.240,43.076,21.931,61.279,62.389,33.229,33.708,4
Em Dólar - Corrigido pela Inflação (CPI)4.762,43.917,14.156,83.939,64.076,43.803,92.352,41.511,52.604,93.356,33.736,6
Em Reais (Taxa de Câmbio Real - CPI & IPCA)11.012,510.800,913.351,710.871,012.336,412.836,910.146,27.134,612.222,616.559,718.894,5
Taxa de Câmbio Nominal - média2,302,973,713,183,423,844,925,385,085,075,08
Taxa de Câmbio Real (CPI & IPCA) - média3,073,674,233,553,814,175,255,585,125,135,10

Fonte: US Bureau, IBGE, BCB/Calculos: Fecomercio SP

Todos têm razão? Ou ninguém tem razão? Qual sua opinião? Devemos comemorar recordes de gastos ou lamentar que não evoluímos tanto em relação a dez anos atrás? Qual seu ponto de vista? O Turismo receptivo internacional no Brasil evoluiu ou está estagnado?

Confira abaixo a análise completa de Guilherme Dietze:

BALANÇO DE PAGAMENTOS – CONTA SERVIÇOS – TURISMO – RECEITAS

O Banco Central divulga mensalmente o Balanço de Pagamentos que, resumidamente, é a relação econômica de troca que o Brasil tem com o exterior, na área comercial, de investimento, entre outros. Dentre elas, há a conta serviços que possui informações sobre viagens, de receita e despesas, o que pode ser traduzido como gastos de brasileiros no exterior (despesas) e de estrangeiros no Brasil (receitas).

Os dados disponibilizados pelo BCB são nominais, ou seja, sem correção pela inflação no período. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, houve uma entrada de US$ 3,7 bilhões, o maior para o período na série histórica.

No entanto, se os valores forem corrigidos pelo Consumer Price Index, o IPCA americano, o montante atual é o maior desde 2019 e o melhor primeiro período do ano seria o de 2014, de US$ 4,76 bilhões.

Agora, há uma outra análise possível de quanto esses dólares equivalem em reais, até porque os gastos aqui no país foram na moeda local. Para isso, é necessário fazer um outro cálculo, da atualização da taxa de câmbio pelas taxas de inflação americana e brasileira.

Nessa situação, a entrada em reais no primeiro semestre foi de R$ 18,9 bilhões, o mais alto da série. Mesmo o dado de 2014, que em dólar seria o mais alto, em reais seria o equivalente a R$ 11 bilhões, pois a taxa de câmbio nominal média que foi de R$ 2,30 para cada dólar, corrigido pelas inflações passa para R$ 3,07 por cada dólar.

Portanto, é sempre importante que os dados sejam corrigidos pela inflação do período para que a análise seja adequada.”

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