Karina Cedeño   |   02/10/2024 09:37

Para FecomercioSP, debate sobre exigência de vistos deve ser retomado

Federação diz que debate deve ser retomado com antecedência de pelo menos 6 meses para evitar problemas


Segundo a federação, a exigência dos vistos, mesmo que de forma eletrônica, pode afastar os turistas estrangeiros do Brasil
Segundo a federação, a exigência dos vistos, mesmo que de forma eletrônica, pode afastar os turistas estrangeiros do Brasil

O Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) divulgou um novo posicionamento sobre volta da exigência dos vistos para norte-americanos, australianos e canadenses. A discussão foi adiada, com um decreto do Executivo, em abril, por mais um ano.

Para a FecomercioSP, a retomada do debate se faz necessária, com antecedência de pelo menos seis meses, para evitar ações tomadas de última hora e dificuldade operacional para as empresas envolvidas. Segundo a federação, a exigência dos vistos, mesmo que de forma eletrônica, pode afastar os turistas estrangeiros do Brasil e por isso a entidade busca antecipar a discussão, com duas linhas possíveis e desejáveis: de um novo decreto do governo, isentando os vistos para americanos, canadenses e australianos ou da aprovação do PDL 140/23, no Congresso Nacional, que derruba a volta da exigência dos vistos.

Confira, abaixo, a análise na íntegra do Conselho de Turismo da FecomercioSP:

Exigência de vistos: a necessidade de antecipar a discussão

Há pouco mais de um ano, o trade se via numa situação difícil. Havia o decreto do governo federal com a volta da exigência dos vistos para americanos, australianos e canadenses, porém, nada do sistema ser colocado no ar para verificação dos empresários, até mesmo para comunicar com empresas e turistas, e com inúmeras prorrogações de prazos de iniciação, deixando um clima tenso de imprevisibilidade, principalmente com a alta temporada se aproximando.

As empresas e entidades, como a FecomercioSP, se manifestaram à época – em diversas oportunidades – em duas frentes: da necessidade da previsibilidade e do pedido de isenção dos vistos para esses três países. O Ministério das Relações Exteriores, líder nesse processo de regresso da exigência dos vistos e com a argumentação da necessidade da reciprocidade, não indicava que a decisão seria revertida. Foi então que o Congresso sinalizou para a aprovação do PDL 140/23, do deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), que o governo se antecipou a derrota iminente e decidiu, aos 45 minutos do segundo tempo, pela edição do Decreto nº 11.982, de 9 de abril de 2024, que prorrogou a isenção por um ano.

Mesmo com esse fôlego adicional, a FecomercioSP considera essencial retomar o debate com antecedência devida, de pelo menos seis meses, para evitar uma nova correria de última hora, com muita imprevisibilidade e dificuldade operacional para as empresas envolvidas. Não é da noite para o dia que o sistema da aviação alerta para todos os funcionários das companhias aéreas da exigência de vistos para esses três passaportes.

Além das questões burocráticas, a FecomercioSP reforça todos os entendimentos elencados nos posicionamentos feitos ao longo do ano passado e esse ano. Um deles é sobre a argumentação da reciprocidade, enquanto o desequilíbrio expressivo de fluxo e econômico não está sendo ponderado.

Segundo dados da Embratur em 2023, entraram no país pelas diferentes vias de acesso, 668,5 mil americanos. No sentido inverso, de acordo com o painel do governo americano (NTTO), foram 1,63 milhão de brasileiros que adentram aos Estados Unidos.

Ou seja, uma relação de quase 2,5 vezes, mesmo lá havendo a exigência de vistos e, no Brasil, a isenção para os americanos. Com a exigência dos vistos, mesmo que de forma eletrônica, pode afastar os turistas desses países para virem ao Brasil. Um exemplo concreto nesse sentido foi a decisão, no México, de se exigir vistos para brasileiros a partir de agosto de 2022. De acordo com informações obtidas no painel GlobalData, da recuperação de 122 mil para 301 mil turistas brasileiros que entraram no México, entre 2020 e 2021, passou para nova queda no ano da implementação da regra, voltando para 259 mil em 2022 e de 178 mil para o ano passado.

Para agregar mais números, o site mexicano Expansión publicou, em março de 2023, uma matéria relatando que o México perdeu quase 60 mil turistas brasileiros em cinco meses em decorrência do requerimento de visto, retirando pela primeira vez em uma década o Brasil entre os dez maiores emissores de turistas.

Não se deseja que aconteça o mesmo no Brasil. Ainda mais quando o crescimento da entrada de americanos, australianos e canadenses tem sido num ritmo forte. Segundo levantamento da FecomercioSP, com base no painel de dados da Embratur, foram 390,5 mil turistas – desses três países - que entraram pela via aérea no primeiro semestre deste ano, um avanço de 4,3% em relação a igual período do ano passado. Desses, a maior parte, 82,4% são de americanos, o segundo maior público, ficando atrás somente da Argentina.

Tabela de PIB
País1º sem 231º sem 24VariaçãoPart%
Estados Unidos310.180321.9033,8%82,4%
Canadá41.20944.2807,5%11,3%
Austrália23.06324.3595,6%6,2%
Total374.452390.5424,3%

Outro ponto interessante desse fluxo é que o principal mês de entrada é março, com um volume também maior ao longo do período de novembro a fevereiro, o que demonstra uma relação de férias e verão – na América do Sul -, ou seja, uma indicação de perfil de lazer. O custo de cerca de 80 dólares para a emissão do visto será um custo no total da viagem que pode haver uma reflexão e decisão de alternar para outro destino sem burocracia, sobretudo quando se fala de uma família de três, quatro pessoas.

Na parte de eventos, no mercado corporativo, também pode-se pensar em reflexos negativos, pois o Brasil tem perdido oportunidades de grandes feiras internacionais para a Colômbia, por exemplo, que possui custos médios mais baixos e com incentivos do ProColômbia. Inserir a necessidade de vistos será mais um ponto a menos na questão da competitividade.

Lembrando que a FecomercioSP também argumenta que o Brasil, embora tenha todas as belezas naturais atrativas, destinos para todos os perfis, é um país “longe” dos grandes centros emissores, com a dificuldade do idioma e da imagem de insegurança.

É necessário também observar o que os destinos concorrentes praticam e em praticamente todos os casos há a isenção de vistos, exceto para passaportes australianos que ingressam no Chile, necessitando a aplicação do visto eletrônico e o custo é de acordo com a reciprocidade, de AU$ 346, em torno de R$ 1,3 mil

Tabela de Duração de Estadia

Passaporte / DestinoArgentinaChileColômbiaPeruBrasil
Estados Unidos90 dias90 dias90 dias180 dias90 dias
Canadá90 dias90 dias90 dias180 dias90 dias
Austrália90 diasEVISA90 dias180 dias90 dias
Assim, fica evidente que para manter o Brasil atrativo para o Turismo internacional é necessário reduzir as burocracias. A Embratur, através do seu presidente Marcelo Freixo, tem se manifestado frequentemente celebrando o ritmo recorde de chegadas de turistas estrangeiros no país, provavelmente chegando aos sete milhões pela primeira vez neste ano. Além disso, já se posicionaram de maneira firme pela isenção dos vistos para americanos, canadenses e australianos, salientando a importância desse público para o turismo e para a economia do país.

Mas, de maneira contrária, o Ministério das Relações Exteriores segue na sua posição da reciprocidade, da busca pela volta da exigência de vistos. E o Ministério do Turismo segue sem entrar a finco nesse debate, com a última fala do ministro Celso Sabino somente comentando que “o governo está empenhado em garantir o pleno funcionamento do e-Visa, de modo a facilitar que o turista consiga emitir seu visto de maneira rápida e 100% digital. Então essa prorrogação contribuirá para a organização e proteção do setor”. A FecomercioSP entende que o MTur deveria ter um papel mais atuante e reivindicar o pleito do trade.

Diante do exposto, a entidade busca antecipar a discussão sobre a volta da exigência dos vistos, com duas linhas possíveis e desejáveis: de um novo decreto do governo isentando os vistos para americanos, canadenses e australianos ou da aprovação do PDL 140/23, no Congresso Nacional, que derruba a volta da exigência dos vistos.

As empresas precisam de previsibilidade e não pode ocorrer como da última vez, de desencontros de informações e decisões de última hora. Para que deixar para abril de 2025, o que se pode ser tratado e decido antes de virar o ano.


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