ARTIGO: O Turismo não sabe brigar - e mais insights do Fórum PANROTAS 2024
Editorial da Revista PANROTAS traz um panorama sobre o setor
Editorial publicado na Revista PANROTAS de cobertura do Fórum PANROTAS 2024, edição 1.575
"Mais de dois mil profissionais na plateia, a grande maioria líderes em seus segmentos de atuação e empresas, algumas dezenas de influenciadores de verdade no palco (com recorde de CEOs presentes) e conteúdo para fazer nossa mente girar, girar, girar, até parar nos temas que vamos levar para nosso dia a dia. Para alguns, mais pragmáticos, serão os insights de tecnologia, de comportamento, do que fazer nesse multiverso em que vivemos. Para outros, mais reflexivos, há um quebra-cabeças de tendências, opiniões e caminhos, que precisa ser montado e ao mesmo tempo customizado.
Para os políticos, a falta de políticos no palco do fórum fala muito sobre o Turismo. Cadê a estratégia? Cadê a política de Turismo? Sim, não temos. E para os bombeiros da indústria, as ameaças e ações estão bem claras: mais lobby em Brasília, mais valorização do agente de viagens como canal de vendas, em um ambiente onde a venda direta está mais fácil (pela tecnologia) e mais ágil, mais precisão na escolha dos parceiros certos, e um olhar mais abrangente para o mundo, que, pós-globalização, caminha para um possível conflito mundial.
Céus. Muita coisa para se preocupar. Porém, vamos com calma. Um problema de cada vez. Uma aliança para cada situação. Um só Turismo de uma vez por todas.
1. O TURISMO NÃO SABE BRIGAR
Isso porque o Turismo não se vê como um só e porque quando há implicações comerciais na necessidade de união, sempre haverá um ou dois (ou mais) que não se sente ameaçado e acaba negociando à margem. A frase “O Turismo não sabe brigar” escutei de um dos líderes da indústria, engajado na luta pelo #FicaPerse, mas que está ciente de que estamos longe ainda de uma união estratégica.
A pandemia fez o Turismo se unir para conseguir em Brasília medidas para que o setor sobrevivesse. Aparentemente conseguiu, mas nos bastidores não foi tão bonito assim:
- teve setor querendo negociar sozinho – e assim o fez;
- teve o governo achando que estava fazendo favor ao Turismo (e a prova disso é a tentativa de desarme antecipado do Perse);
- teve entidade que só apareceu para sair na foto;
- teve o G4, o G8, o G1 dentro do G20, e até o G40, com muita gente querendo aparecer quando tudo deu certo.
“GTURISMO” UM DIA SERÁ REALIDADE?
Na filosofia do “farinha é pouca, meu pirão primeiro”, o Turismo não se vê como uma indústria de setores interligados. E sim, como um salve-se quem puder. A figura de uma entidade guarda-chuva, com cunho político, que leva ao governo e qualquer outro interlocutor, demandas como indústria, parece utopia na realidade da política associativa do Brasil, onde o medo maior de algumas associações é perder verbas para seus eventos e até perder status de representante da sua classe. Quando deveria ocorrer o oposto: com uma associação, instituição, fundação, ou qualquer que seja o modelo, nomeada bombeiro preventivo e perene do Turismo, cada entidade terá mais tempo para seus associados, para seus eventos, para sua classe. O que deve acontecer? Um começo com um G8, que, depois de muita luta, mostrará resultados e atrairá mais nomes, mais aliados... até que cheguemos ao GTurismo. Até lá, muitas vaidades hão de espernear. O mesmo vale para a parte comercial.
BASE DE DISTRIBUIÇÃO FRAGMENTADA
Os fornecedores e parceiros, vendo a base de distribuição fragmentada e desunida, arriscam medidas que não seriam tão drásticas, se causadas somente pelas facilidades tecnológicas e mudança de comportamento do consumidor.
Aí, na hora de mostrar força, sempre vai ter um dizendo: consigo fazer tudo isso com 50% menos; não cortaram tanto de mim quanto dos demais; sei como compensar isso... sem ver que o que está em jogo é todo o setor e não uma empresa ou um segmento apenas. E até quando o seu jeitinho seguirá valendo? A última vez que vimos o Turismo unido foi quando Abavs e demais entidades peitaram as aéreas por conta do corte unilateral das condições comerciais e comissões. E lá se vão 25 anos. De lá para cá, os mais fortes acabam furando qualquer negociação, as entidades não falam de ações comerciais (e deixam os associados morrerem por conta de ações comerciais), e a lei da selva acaba prevalecendo – que vençam os maiores.
O Turismo não sabe brigar, porque o Turismo não é unido o suficiente para entender o Turismo como um ecossistema e não como países que não fazem fronteiras. E isso acaba contaminando o governo, que não vê o Turismo ou a Aviação ou a Hotelaria ou os Eventos como setores estratégicos. Apenas como “meios”, apenas como “figurantes” de setores maiores. Sabemos que estão errados, mas, conseguimos nos unir para mostrar isso a eles?
2. O TURISMO TEM DADOS, MAS NÃO SABE ANALISÁ-LOS
A quantidade de pesquisas, dados, estatísticas que geramos no Turismo é impressionante. E as tendências e respostas para diversas perguntas estão ali, na nossa frente. Sabemos usar esses dados a nosso favor?
Ainda não. Mas estamos no caminho. Apresentações como das empresas Omnibees, Similarweb e TRVL Lab/Phocuswright, além das palestras de geopolítica e tendências globais desenharam cenários. Quem vai unir os pontos? Quem vai pintar o quadro final? O Turismo precisa de estrategistas, de pensadores, de professores levados a sério. Mais uma ponte a ser construída.
3. CANAL INDIRETO VALORIZADO
O agente de viagens (e suas variantes de distribuidores de viagens) está valorizado. Por mais que a venda direta esteja crescendo, o canal indireto mostra a sua força e obriga fornecedores a estarem do seu lado.
Todas as empresas que subiram no palco do Fórum PANROTAS e todas as que estavam patrocinando o evento ou mesmo participando, estavam lá porque acreditam na força desse canal. E ao não esconderem suas estratégias de venda direta ou via outros canais, mostram aos agentes de viagens e demais parceiros indiretos onde podem trabalhar mais e melhor.
Sim, há parceiros 100% B2B, especialmente operadoras e empresas de tecnologia, e eles também fazem parte da estratégica que cada agente de viagens deve montar. Quem são seus aliados? Quem são seus fornecedores preferenciais (de acordo com o que seu passageiro precisa)? Como você usa essa multicanalidade a seu favor?
QUAL É O LUGAR DO AGENTE DE VIAGENS NISSO TUDO?
Não é fácil, mas o agente de viagens tem uma grande oportunidade nesse momento, de se consolidar como travel designer ou consultant e mostrar o que pode fazer e como pode ser muito melhor que os cliques do app ou do site dos fornecedores. É na hora do problema, da viagem complexa, da adversidade, que o profissional se destaca, mas também na hora de oferecer o que só ele sabe, o que só ele tem acesso. E isso se valendo de inteligência artificial, de pesquisas, de parcerias com todos os tipos de fornecedores. De estratégia e de sua singularidades.
Como montar essa estratégia em um ambiente tão complexo? Com a ajuda de aliados (fornecedores, consultores), estudando e contando com eventos como o Fórum PANROTAS, para trazer o quadro geral do setor, para que o agente de viagens possa não apenas ocupar o seu lugar, mas ampliar sua atuação e share. E é por isso que, além dos debates do setor, trazemos insights de outras indústrias, mostramos o que os concorrentes estão preparando, analisamos o mundo e também os microambientes do Turismo.
Nas páginas seguintes, trazemos um resumo do que ocorreu nos dois dias de Fórum PANROTAS. E já estamos preparando, para os agentes de viagens travel designers consultants, um conteúdo inspirado em tudo isso para os PANROTAS Next deste ano. Visitaremos Recife, João Pessoa, Maringá, Joinville, Rio de Janeiro e Campo Grande. Estaremos nas grandes feiras do setor. Traremos no Portal PANROTAS, aqui na Revista e nas redes sociais, as melhores análises, estudos, tendências e debates.
Porque, há 50 anos, batemos na tecla: #SomosTodosTurismo."
Este editorial é parte integrante da Revista PANROTAS Edição Especial Fórum PANROTAS: