Reprodução de racismo gera prejuízos para empresas de Turismo
Carlos Humberto Filho é CEO da Diaspora Black, Top 10 Travel Techs do Brasil pela 100 Open Startups
Em artigo, o CEO da Diaspora Black, Carlos Humberto Filho, apresenta casos de racismo que ilustram a forma como o Turismo vem falhando em questões raciais e reproduzindo discriminações. O CEO ressalta que o setor precisa buscar mudanças para ser uma ferramenta de transformação social, fomentando um Turismo que valoriza a diversidade.
Leia o texto na íntegra:
“Neste novembro negro, Eliane de Jesus Sou- za, mulher negra de 46 anos, baiana, adepta da Umbanda, foi agredida verbalmente no Pelourinho, em Salvador, e exposta nas re- des sociais pelo influenciador Ludvick Rego que a chamou de “macumbeira”, “preguiçosa” e insinuou que ela roubaria um colar seu. “Estou indignada, revoltada e constrangida”. Em outubro, o consultor comercial paulista Neferson Martins dos Santos, de 28 anos, foi expulso do Hotel Travell In Axten, em Caxias do Sul (RS), após denunciar violações e falhas no atendimento durante sua estada em viagem de trabalho, por 30 dias. “Colocaram minhas coisas, minhas roupas, em um saco de lixo. Riram da minha cara”.
Em setembro, o ator Sulivã Bispo, de 28 anos, teve seu cabelo revistado pela segurança do Aeroporto de Recife, administrado pela Aena Brasil, durante viagem de férias. “Pra quem é negro o raio-x do aeroporto sempre trará uma abordagem constrangedora. Mas nunca tinha sido desrespeitado de forma tão agressiva”, denunciou.
As situações falam por si. De acordo com a turismóloga Tainá Santos, pesquisadora da USP, mais de 46% dos brasileiros relatam já ter vivido situações de discriminação racial em diferentes etapas de suas viagens.
Quando vamos parar de refletir sobre a necessidade, urgência da diversidade e inclusão no Turismo apenas em novembro, e começar a agir de forma responsável contra as situações de discriminação vividas todos os meses?
O racismo estrutural é uma realidade que gera graves prejuízos econômicos e sociais. Tratar estas questões com descuido e sem a profundidade necessária, é manter a ordem racista e excludente.
Precisamos sair da mentalidade de “apagar incêndio” e passar a agir preventivamente. A discriminação racial se reproduz em sutilezas, como um mecanismo cognitivo enraizado. Para combatê-lo, é preciso treinamento contínuo para construir novos padrões de pensamento e ação.
As empresas serão cada vez mais exigidas pela sua responsabilidade nesses prejuízos. O crescimento no volume de registro criminal das denúncias reflete que os clientes estão cada vez mais dispostos a denunciar e boicotar marcas, produtos e serviços que reproduzem tais violências e discriminações, mas também aquelas que se omitem da responsabilidade de se posicionar e agir diferente.
Estamos vivendo uma vigorosa retomada do Turismo, e é fundamental não deixar passar a oportunidade de transformação que a pandemia trouxe. Assim como os movimentos de reestruturação financeira, o posicionamento estratégico frente aos pilares de ESG serão cada vez mais cobrados das empresas.
As mudanças de comportamento e consumo pós-quarentena reforçam o valor da autenticidade e contato com a cultura local nas experiências de viagem para os viajantes. É estratégico reconhecer e valorizar o legado cultural afrobrasileiro como diferencial e atrativo turístico.
Os turistas afro-americanos gastam anualmente mais de US$ 109 bilhões em viagens internacionais, segundo a consultoria MMGY Travel Intelligence. Quem não quer uma fatia desse mercado?
Em seu consumo, esses turistas priorizam os afro-empreendedores em todos os serviços durante a viagem. Com isso, toda uma cadeia econômica de serviços poderia se beneficiar, gerando riqueza para comunidades negras.
O Turismo tem grande responsabilidade na construção de memórias sociais e de uma identidade cultural nacional. Poderia ser uma poderosa ferramenta de transformação social, apresentando histórias não contadas da nossa cultura, valorizando a diversidade.
Há cinco anos a Diaspora.Black atua com esse propósito, fomentando um Turismo que cumpra sua vocação transformadora. Nesse período, são mais de 9 mil clientes e R$ 1,5 milhão transacionados entre empreendedores negros.
Na plataforma, reunimos os mais qualificados guias e roteiros de valorização da memória negra, além de opções de hospedagens e atividades e cursos on-line. Também aplicamos tecnologia social para sensibilizar e treinar o atendimento e gestão das empresas comprometidas com a transformação social e a igualdade racial.”
Confira outras matérias e artigos da revista edição especial 18º Fórum PANROTAS, distribuída no Fórum PANROTAS 2021.
Leia o texto na íntegra:
“Neste novembro negro, Eliane de Jesus Sou- za, mulher negra de 46 anos, baiana, adepta da Umbanda, foi agredida verbalmente no Pelourinho, em Salvador, e exposta nas re- des sociais pelo influenciador Ludvick Rego que a chamou de “macumbeira”, “preguiçosa” e insinuou que ela roubaria um colar seu. “Estou indignada, revoltada e constrangida”. Em outubro, o consultor comercial paulista Neferson Martins dos Santos, de 28 anos, foi expulso do Hotel Travell In Axten, em Caxias do Sul (RS), após denunciar violações e falhas no atendimento durante sua estada em viagem de trabalho, por 30 dias. “Colocaram minhas coisas, minhas roupas, em um saco de lixo. Riram da minha cara”.
Em setembro, o ator Sulivã Bispo, de 28 anos, teve seu cabelo revistado pela segurança do Aeroporto de Recife, administrado pela Aena Brasil, durante viagem de férias. “Pra quem é negro o raio-x do aeroporto sempre trará uma abordagem constrangedora. Mas nunca tinha sido desrespeitado de forma tão agressiva”, denunciou.
As situações falam por si. De acordo com a turismóloga Tainá Santos, pesquisadora da USP, mais de 46% dos brasileiros relatam já ter vivido situações de discriminação racial em diferentes etapas de suas viagens.
Quando vamos parar de refletir sobre a necessidade, urgência da diversidade e inclusão no Turismo apenas em novembro, e começar a agir de forma responsável contra as situações de discriminação vividas todos os meses?
O racismo estrutural é uma realidade que gera graves prejuízos econômicos e sociais. Tratar estas questões com descuido e sem a profundidade necessária, é manter a ordem racista e excludente.
Precisamos sair da mentalidade de “apagar incêndio” e passar a agir preventivamente. A discriminação racial se reproduz em sutilezas, como um mecanismo cognitivo enraizado. Para combatê-lo, é preciso treinamento contínuo para construir novos padrões de pensamento e ação.
As empresas serão cada vez mais exigidas pela sua responsabilidade nesses prejuízos. O crescimento no volume de registro criminal das denúncias reflete que os clientes estão cada vez mais dispostos a denunciar e boicotar marcas, produtos e serviços que reproduzem tais violências e discriminações, mas também aquelas que se omitem da responsabilidade de se posicionar e agir diferente.
Estamos vivendo uma vigorosa retomada do Turismo, e é fundamental não deixar passar a oportunidade de transformação que a pandemia trouxe. Assim como os movimentos de reestruturação financeira, o posicionamento estratégico frente aos pilares de ESG serão cada vez mais cobrados das empresas.
As mudanças de comportamento e consumo pós-quarentena reforçam o valor da autenticidade e contato com a cultura local nas experiências de viagem para os viajantes. É estratégico reconhecer e valorizar o legado cultural afrobrasileiro como diferencial e atrativo turístico.
Os turistas afro-americanos gastam anualmente mais de US$ 109 bilhões em viagens internacionais, segundo a consultoria MMGY Travel Intelligence. Quem não quer uma fatia desse mercado?
Em seu consumo, esses turistas priorizam os afro-empreendedores em todos os serviços durante a viagem. Com isso, toda uma cadeia econômica de serviços poderia se beneficiar, gerando riqueza para comunidades negras.
O Turismo tem grande responsabilidade na construção de memórias sociais e de uma identidade cultural nacional. Poderia ser uma poderosa ferramenta de transformação social, apresentando histórias não contadas da nossa cultura, valorizando a diversidade.
Há cinco anos a Diaspora.Black atua com esse propósito, fomentando um Turismo que cumpra sua vocação transformadora. Nesse período, são mais de 9 mil clientes e R$ 1,5 milhão transacionados entre empreendedores negros.
Na plataforma, reunimos os mais qualificados guias e roteiros de valorização da memória negra, além de opções de hospedagens e atividades e cursos on-line. Também aplicamos tecnologia social para sensibilizar e treinar o atendimento e gestão das empresas comprometidas com a transformação social e a igualdade racial.”
Confira outras matérias e artigos da revista edição especial 18º Fórum PANROTAS, distribuída no Fórum PANROTAS 2021.
*Fonte: Carlos Humberto Filho