Presidente da Braztoa analisa caso ViagensPromo e culpa má gestão por crise em empresas
Operadora não é associada Braztoa, mas entidade acompanha caso de perto, pelo impacto no setor

O presidente da Braztoa, Fabiano Camargo, falou à PANROTAS sobre as crises por que passam algumas empresas de Turismo, como Voupra e ViagensPromo, esta última tendo anunciado hoje uma reestruturação financeira que inclui a negociação com credores.
A Braztoa prepara uma carta ao mercado, a ser divulgada na segunda-feira, com uma mensagem forte e crítica ao setor, alertando sobre práticas recorrentes de diversos players e que acabam sempre em situações como recuperação judicial, falência ou dívidas.
“A mensagem será pesada, mas necessária, tendo em vista os problemas que vemos com ingressos ou o caso da ViagensPromo, explicitado hoje”, diz Fabiano Camargo.
Para ele, não apenas a ViagensPromo, que, vale ressaltar, não é e nunca foi associada Braztoa, mas também outros players, incluindo outras operadoras, intermediários e até agências, recorrem a essas práticas sem qualquer planejamento financeiro.
“Parcelamento em muitas vezes não combina com preço baixo”, afirma ele, dando um exemplo.
As agências de viagens e players do mercado precisariam identificar essas práticas e saber com quem fazem negócios. Para Fabiano, não apenas as agências podem pagar o preço de uma empresa de Turismo em crise, mas também os fornecedores, os parceiros (muitos deles operadoras) e toda a cadeia de Turismo.
“Quando um hotel nega o check-in de um passageiro por falta de pagamento do operador, e o agente tem de pagar a conta, pode saber que esse hotel já tem um passivo grande com a empresa e outros players também foram impactados”, explica o presidente da Braztoa.
Identificar essas práticas é fundamental para que nãos e chegue em uma situação dessas.
Alta temporada
A maioria dos embarques da ViagensPromo nas próximas semanas vai pegar exatamente o período do Carnaval, o que é uma preocupação maior para o setor. Com aviões e hotéis lotados fica mais difícil ajudar, mas Camargo acredita que outras empresas do setor se colocarão à disposição para essa ajuda, o que não significa pagar a conta e sim oferecer preços mais acessíveis.
Há uma estimativa do mercado que a ViagensPromo tenha R$ 60 milhões em viagens futuras, especialmente para o Carnaval. A empresa foi procurada pela PANROTAS, mas divulgou apenas o comunicado desta manhã. Aguardamos um posicionamento sobre o plano prático para as operações futuras, que a empresa garante que irá honrar. E também sobre quantidade exata de embarques futuros.
Até o momento os relatos, inclusive no ReclameAqui, são de fornecedores pequenos sem receber, principalmente pousadas e hotéis, e agentes de viagens sem comissão ou preocupados com seus clientes. Não há relato de passageiros que não conseguiram se hospedar ou embarcar.
Esta tarde, uma agente de viagens disse em um grupo de WhatsApp ter tido de pagar o hotel de seus passageiros, para que eles fizessem check-in.
Grande parceiro da ViagensPromo, o grupo Unav emitiu comunicado esta semana, falando de problemas e desconfortos.
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Modelo das operadoras
Em entrevista à PANROTAS no ano passado, o presidente da ViagensPromo, Renato Kido, disse que o modelo tradicional de operadora nãos e sustentava e por isso ele estava criando uma nova forma de trabalhar, trazendo as operações financeiras para dentro da empresa. Ele não conseguiria crescer no modelo tradicional.
Veja o que ele disse à época:
"Hoje o modelo não se sustenta por muito tempo, pois a competição com o B2C, que tem margens melhores e é mais agressivo, nos deixa pouco competitivos. A gente precisa passar a pré-comprar nosso aéreo, hotel, locação, seguro, receptivo... Precisamos de margens melhores, negociações melhores. E para isso é preciso de capital para essa pré-compra. Também precisamos de dinheiro mais barato e de uma estrutura financeira em que não precisemos pagar a bancos de terceiros e sim ao nosso banco. Em vez de pagar 2,5% para as empresas de maquininha, lançamos a VPpay. Em vez de empréstimos caríssimos com bancos para pré-comprar produtos com nossos fornecedores, e assim também ajudar a cadeia, temos os recursos do fundo, um terço do valor que seria no mercado normal. O fundo representa uma nova modalidade de investimento, que já existe fora do Turismo e que a VP está trazendo para nosso setor."
Renato Kido
Fabiano Camargo discorda dessa afirmação.
“O modelo de operadoras é sim sustentável, temos 57 operadoras associadas e entregando tudo, e crescendo.” “O que não é sustentável é a má gestão. Generalizar sobre o modelo de operadoras seria leviano”, afirmou o presidente da Braztoa.
Fabiano Camargo
Falando em generalização, ontem ele se incomodou e pediu retificação sobre uma fala do CEO da CVC Corp, Fabio Godinho, de que operadoras menores do mercado estariam com problema de credibilidade. Ele entendeu que o recado era para uma empresa específica, mas pediu uma alteração na fala exatamente para não generalizar. E foi atendido.
Camargo reafirma que a gestão sendo profissional e sólida, sem apostar em fórmulas que vão contra o racional econômico e financeiro, é o caminho para o sucesso no setor.
Pequenas operadoras
O problema da ViagensPromo foi uma operadora pequena querendo brigar direto com as grandes? “Não posso falar sobre o que ocorreu com eles, mas a minha empresa, a CT, é pequena e posso falar por mim. Nos diferenciamos pela qualidade do atendimento e fidelizamos o agente de viagens assim, pelos produtos, pela personalização. Temos apenas 20 funcionários, somos pequenos e não vamos brigar com as grandes com preço ou tecnologia.”
Segundo ele, há operadoras Braztoa de todos os portes crescendo e ele sente que as operadoras hoje querem ser lucrativas e não as maiores. Crescer muito rápido, de acordo com ele, pode não gerar lucro. “A não ser que haja um aporte, como ocorreu com a BeFly, que já nasceu grande.”
Parcelamentos
O parcelamento em 15 vezes, com juros altos no País, é apontado por especialistas como um dos agravantes da crise da VP. Camargo usa o parcelamento em seis vezes em sua empresa e diz que a maioria das operadoras Braztoa parcela em menos de nove vezes. “Mas há operadoras que vendem em mais de dez vezes. A gente não interfere no comercial das empresas. Mas a troca que temos entre os associados, a conversa sobre melhores práticas, faz com que cada um saiba bem o que pode ou não pode fazer, financeiramente falando”, explica ele.
“Os juros altos ou vão diminuir os parcelamentos ou aumentar os preços. Eu vendo em seis vezes e tenho de receber por esse financiamento ou é melhor deixar o dinheiro no banco.”
Quanto ao dólar alto, ele acredita que a maioria das operadoras sabe trabalhar nesse ambiente e só é pego de surpresa quem está despreparado. “Não é a primeira crise cambial. 95% das operadoras sabem o que fazer”, diz.
Ainda segundo Fabiano Camargo, a Braztoa chegou a conversar com a ViagensPromo sobre uma filiação, mas os documentos pedidos nunca foram encaminhados e a operadora nunca se afiliou. “Temos um ambiente de união na Braztoa, com troca de conhecimento e melhores práticas. Melhor todos crescerem do que todos morrerem abraçados”, finaliza, prometendo para segunda-feira um recado duro e necessário ao setor.