Da Redação   |   02/08/2024 14:59
Atualizada em 02/08/2024 15:01

Artigo: Turismo ameaçado por aplicativos (e não são os que você pensou)

Professora e pesquisadora em Turismo na USP, Mariana Aldrigui escreve artigo sobre as bets

PANROTAS / Marluce Balbino
Mariana Aldrigui
Mariana Aldrigui

.A professora e pesquisadora em Turismo na USP Mariana Aldrigui escreveu um artigo no qual fala sobre uma nova ameaça para o varejo brasileiro, consequentemente para o Turismo. Leia o que a especialista diz a respeito das bets, as apostas esportivas, que crescem em progressão geométrica em nosso mercado. Na íntegra:

Turismo brasileiro ameaçado por aplicativos (e não são os que você pensou)

Por Mariana Aldrigui, professora, pesquisadora em Turismo na USP

2024 tem sido um ano de bons resultados para o Turismo brasileiro, em praticamente todos os segmentos. As perspectivas seguem muito positivas para o segundo semestre e a temporada de verão. Dados socioeconômicos também trazem sinais positivos – queda no número de desempregados, aumento da massa salarial e sensação de otimismo por parte da classe média, por exemplo – o que é ainda mais interessante para o Turismo a médio prazo.

Mas há sinais preocupantes sendo emitidos por analistas do varejo – e fazem referência ao aumento da fatia do orçamento das famílias alocado nos aplicativos de apostas. Relatório da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) divulgado em julho revelou que 49% dos apostadores aumentaram a quantidade de apostas em 2024, enquanto apenas 35% reduziram suas apostas. Atualmente, 1,9% do orçamento familiar é dedicado a apostas, principalmente on-line. Isso implica que apostas passam a ser um elemento fixo mensal.

O dinheiro alocado em apostas sai da renda discricionária, aquela disponível após o pagamento das despesas essenciais. De acordo com relatório do banco Santander, em cinco anos os gastos com vestuário e calçados caíram de 3,5% para 3,1% do rendimento familiar, já há evidências da redução de gastos em outras áreas como produtos de higiene, alimentação fora de casa e lazer.

Em matéria da Folha de S. Paulo sobre o tema, consumidores ilustram as trocas feitas – em um exemplo, o consumidor preferiu apostar no resultado de um jogo de futebol que via televisão, e caso o resultado fosse positivo “pediria uma pizza, do contrário, ficaria no arroz com feijão mesmo”. ,

O antropólogo Michel Alcoforado, em entrevista ao Estúdio CBN (01/08/24), argumentou que a possibilidade de ganhos imediatos ao alcance da mão aumenta o risco de descontrole, podendo não apenas levar ao vício, mas a uma mudança significativa da forma como as pessoas lidam com seu orçamento.

Para o Turismo, em particular o Turismo doméstico, o impacto é preocupante pois se trata de atividade facilmente descartável da lista de prioridades em momentos de cortes no orçamento familiar. Por não haver gastos frequentes, e demandar poupança, é o recurso das viagens que pode estar mais ameaçado pela ilusão dos ganhos rápidos.

As discussões sobre a necessária regulamentação dos jogos – que corretamente chamam nossa atenção ao uso crescente pelos jovens, o risco do vício e às consequências dos prejuízos financeiros - precisam estar também no radar de empresários do Turismo. Monitorar atentamente as mudanças no padrão de compras, de parcelamento e de trocas entre categorias pode ser uma forma de identificar se de fato o efeito das bets já se manifesta no seu dia-a-dia.

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