Karina Cedeño   |   04/07/2024 12:09
Atualizada em 04/07/2024 12:10

Alta do dólar pode impactar viagens domésticas? FecomercioSP explica

Guilherme Dietze, da FecomercioSP, fala sobre o panorama das viagens diante da desvalorização do real


Edilson Dias
Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP

A alta do dólar, que atingiu o seu maior patamar em dois anos e meio, pode impactar a indústria de aviação e trazer consequências negativas para o Turismo doméstico, pressionando os preços internamente e dificultando as viagens dentro do País, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Embora não haja sinais dessa tendência no curto prazo — e seja verdade que a valorização do dólar também torne os destinos internacionais menos atrativos, favorecendo o deslocamento regional —, passagens aéreas mais caras causariam impactos significativos para o Turismo em geral, sobretudo o corporativo.

Neste cenário, é importante lembrar que 60% dos custos das companhias aéreas — incluindo gastos com combustível, aluguel e manutenção — estão atrelados à moeda. A taxa de juros norte-americana, que permanece elevada, faz com que a moeda brasileira seja uma das mais desvalorizadas, e tudo indica que o cenário não mudará a curto prazo, pois a tendência é que o dólar, pelo menos até o fim do ano, continue pressionado. Nesse cenário, consumidores e empresários precisam agir de forma estratégica, avaliando demandas e público.

Em entrevista ao Portal PANROTAS, o presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze, destacou quais são as consequências da alta do dólar no setor de Turismo e a necessidade de olhar para os desafios internos.

Portal PANROTAS — A alta do dólar pode dificultar as viagens domésticas? Como será esse cenário?

Guilherme Dietze “É importante entender que esse cenário mais pessimista deve acontecer se o câmbio permanecer nesse patamar de R$ 5,50, R$5,60 por um período prolongado. Isso tem reflexo nos custos da aviação, considerando que cerca de 60% dos gastos das companhias aéreas — envolvendo combustível, aluguel e manutenção — estão atrelados à moeda. Caso esse cenário da alta do dólar permaneça, ou as empresas irão trabalhar com prejuízo para manter o custo atrativo para o consumidor ou repassar os custos para ele, considerando que a demanda está aquecida. Como o avião é o principal meio de deslocamento para destinos de praia de longa distância, isso pode dificultar o Turismo na alta temporada.

Portal PANROTAS — A valorização do dólar também torna os destinos internacionais menos atrativos. Então o brasileiro não viaja nem pelo Brasil e nem para fora?

Guilherme Dietze “O cenário acima contribui para o Turismo de proximidade. Por exemplo, se o viajante não consegue ir a Porto Seguro de avião, vai alugar um carro ou ir de ônibus para destinos mais próximos. O viajante encontra outra forma, mas não deixa de viajar. No que se refere ao Turismo internacional, com a alta do dólar, a atratividade de fora pode perder seu espaço no Brasil, mas vale lembrar que o brasileiro tem a questão do parcelamento, que facilita o pagamento de pacotes de viagens, sobretudo para famílias de baixa renda. Então, por mais que as viagens fiquem mais caras, o parcelamento ajuda a manter certa atividade no setor”.

Portal PANROTAS — Como a alta do dólar afeta as viagens corporativas?

Guilherme Dietze “O setor corporativo não tem muita opção, afinal, se a empresa precisa mandar o funcionário para uma viagem, ele tem que ir, é diferente do segmento de lazer, no qual o viajante pode mudar a escolha de um destino para outro. No que se refere ao aumento das passagens aéreas e considerando que as compras no corporativo são feitas de última hora, isso pode trazer um cenário negativo para as empresas, que gastarão mais pelo mesmo serviço, o que vai impactar o orçamento com as viagens.

Se houver aumento de gastos, as companhias precisarão cortar gastos lá na frente, inibindo a continuidade de crescimento do segmento. A falta de previsibilidade atrapalha muito o Turismo, tivemos a pandemia e o que o setor precisa é de previsibilidade para que as empresas e consumidores consigam fazer suas viagens sem reduzir o tempo de estada ou o qualidade do hotel escolhido".

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