Karina Cedeño   |   11/03/2024 08:00

Aldrigui: "Falta humildade para tratar Turismo do tamanho que ele é"

Professora e pesquisadora da USP falou sobre turistas estrangeiros, eventos e questões aéreas


PANROTAS / Emerson Souza
Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da USP
Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da USP

A professora e pesquisadora da USP, Mariana Aldrigui, deu uma entrevista para o canal Um Brasil, da FecomercioSP, para falar do Turismo brasileiro, que ainda busca relevância em um mundo em transformação.

Mariana foi entrevistada pela jornalista Juliana Rangel, que citou o fato de, no ano passado, o Brasil ter recebido 5,9 milhões de turistas estrangeiros, número abaixo do que tinha no pré-pandemia, que era de 6,6 milhões.

“O Turismo no Brasil ainda tem um caminho muito grande a percorrer. Era muito difícil atingir os 6 milhões e isso não é um problema do Brasil, considerando que temos uma mudança muito relevante e que talvez vá perdurar por mais alguns anos, que é a queda significativa do Turismo internacional de negócios. Muitas pessoas que viriam a trabalho ao Brasil, principalmente dos Estados Unidos, não têm mais razão de vir, por conta da tecnologia. Por politica empresarial, essas viagens são reduzidas ou alteradas", destaca Mariana.

"E aí tem de substituir esses viajantes pelo turista de lazer, que se planeja com mais antecedência e é bombardeado por nossos concorrentes. Nesse ponto o Brasil ainda falha na forma como se apresenta para competir com os países vizinhos e outros, como a Tailândia, que está tirando muito turista do Brasil, bem como destinos próximos à Europa, que hoje têm consumidores muito conscientes da questão das emissões de carbono. O Brasil tem hoje um desafio muito maior do que há cinco ou dez anos, que é se posicionar como destino para esses turistas estrangeiros".

Imagem do Brasil no Exterior é difusa

A professora e pesquisadora da USP também destacou que a imagem do Brasil no Exterior é difusa. "Entre os estudos que a gente conduziu e dos quais pude participar quando estive na Embratur, percebemos que o eixo país do futebol está se deslocando, o Brasil não é mais sozinho o país do futebol, por conta da Argentina de Messi, que tem uma postura em mídias sociais muito mais amigável do que a dos nossos jogadores, e isso tem levado uma geração nova de torcedores a olhar para a Argentina como um destino onde o futebol tem identidade".

"Na promoção turística, porquíssimas vezes a gente se ligou ao futebol ou ao Carnaval da forma como ele se manifesta hoje, com os blocos, de forma diversificada e não apenas relacionada às escolas de samba. Sendo assim, é preciso comunicar que é um País onde a diversidade tem espaço, é respeitada e onde o turista pode interagir com pessoas e espaços que gostaria. O Brasil já deixou no passado as imagens estáticas de uma estátua ou praia e precisa mostrar essas interações".

Olimpíada e Copa do Mundo: quais legados elas deixaram?

Quando o assunto é a Olimpíada e a Copa do Mundo, o Turismo foi um dos últimos, em termos estruturais, a entrar nas mesas de discussão, segundo Mariana. "Como representantes do setor, não estivemos sequer na captação ou no desenho do que seria a escolha das cidades sede da Copa ou de como a Olimpíada se estruturaria na cidade do Rio".

"Não vimos na Copa uma campanha estruturada para apresentar o Brasil, um desenho do que seria o País nos próximos dez anos. Não temos um plano de 20 a 25 anos de onde queremos estar. E não existindo isso, nos prendemos a modelos que são difíceis de copiar, como o do México, que tem como vizinhos os EUA, ou da Espanha, que está no centro da conectividade do mundo, que é a Europa. O Brasil carece de um pouco mais de humildade ao tratar o Turismo do tamanho que ele de fato é e não dessa projeção megalomaníaca que muitas pessoas querem dar a ele".

Diante desses fatos, a professora e pesquisadora da USP acredita que o País não vai passar de 6 ou 7 milhões de turistas estrangeiros. "Tem muita coisa acontecendo para a gente chegar nesse número. Temos uma economia doméstica incrível e, essa sim, tem condições de sustentar nosso Turismo e dar a ele a qualidade que ele precisa. Mas não temos um legado de Copa e Olimpíada para se orgulhar".

Dificuldades financeiras das aéreas

As dificuldades das companhias aéreas também foram colocadas em pauta na entrevista.

"Nós esperávamos um auxílio oficial do governo para a preservação da vida operacional dessas empresas aéreas, como aconteceu em outros países. O Brasil foi um dos poucos países em que não houve, entre 2020 e 2022, um aporte do governo para recuperação das companhias aéreas. Além disso, o Brasil é um labirinto tributário e jurídico. Operar voos no Brasil é caro e um desafio para empresas low cost ou que estão em outros mercados. Dada a pouca quantidade de avião disponível, quando essas empresas têm de escolher em quais mercados atuar, irão preferir um em que a regulação seja mais simplificada".

Confira no vídeo abaixo a entrevista completa de Mariana Aldrigui no canal Um Brasil, da FecomercioSP:



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