Turismo de luxo de alto risco entra em debate após tragédia do submersível
Termos de renúncia de responsabilidade não eliminam possibilidade de processos contra empresa
Com o destino do submersível Titan e daqueles que iam a bordo, mortos em uma catastrófica implosão no fundo do oceano, as atenções voltam-se agora para a segurança de serviços de Turismo e a respectiva adequação para transportar pessoas até o local do naufrágio do Titanic.
Quem embarcou naquela que se tornou a última viagem do Titan, pagou mais de € 250 mil euros (R$ 1,2 milhão). O percurso levaria oito horas para descer a 3,8 mil metros e chegar ao que resta do RMS Titanic, a cerca de 380 milhas da costa de St. John's, em Newfoundland, Canadá. E todos assinaram uma renúncia de responsabilidade para a empresa transportadora e organizadora da expedição, em caso de acidentes.
O tour é considerado de ultra-luxo, pela exclusividade e valor, mas também de alto risco, pela profundidade atingida e características do submersível, criticado por alguns membros da comunidade de mergulhares e exploradores aquáticos, mas defendida pelos criadores da empresa.
Durante mais de um século, o navio afundado tem estimulado a curiosidade irresistível dos exploradores e cineastas.
O realizador do blockbuster de Hollywood Titanic e explorador de águas profundas, James Cameron, tornou-se a primeira pessoa a fazer um mergulho até a parte mais profunda do oceano.
Em 2012, Cameron projetou e construiu um submersível. E "o risco de um submarino implodir sob pressão esteve sempre em primeiro lugar nas mentes dos engenheiros", disse ele, que chegou a comparar a tragédia do submersível com a do próprio Titanic – pois vários alertas teriam sido feitos à empresa, assim como ao capitão do Titanic.
Entre diversos episódios relacionados com a reivindicação dos destroços e direitos para visitar o Titanic, várias empresas desenvolveram rotas turísticas dedicadas a uma parte de público endinheirado.
Em 1998, a empresa britânica Deep Ocean Expeditions foi uma das primeiras a vender bilhetes ao público por cerca de € 33 mil (R$ 170,3 mil). Em 2012, a mesma empresa ampliou as viagens para 12 dias, cada uma, e levou 20 passageiros por mais de € 59 mil (R$ 306 mil) por pessoa.
A partir de 2002, a empresa de viagens Bluefish, com sede em Los Angeles, começa também a mergulhar até ao Titanic com preços que atingem os € 60 mil (R$ 311 mil) por pessoa.
Em 2019, a Blue Marble, com sede em Londres, vendeu bilhetes por mais de € 106 mil (R$ 550 mil).
A OceanGate realizou expedições bem-sucedidas em 2021 e 2022 e tem 18 mergulhos planejados em 2023.
Tragédia no fundo do mar
Sons "consistentes com uma implosão" foram registrados após o submersível da empresa turística OceanGate ter perdido o contacto com a superfície, no domingo passado, revelaram as autoridades norte-americanas.
A informação se soma à descoberta dos destroços que indicam um incidente "catastrófico". Os fragmentos encontrados perto dos destroços do Titanic incluem o cone da cauda do Titan e duas partes do casco de pressão.
O submersível, desapareceu depois de uma hora e 45 minutos de mergulho. Em caso de emergência, a cápsula estaria projetada para garantir 96 horas de oxigênio como “suporte de vida”.
As buscas de quatro dias que se seguiram não tiveram sucesso. Na quinta-feira (22), o contra-almirante Mauger, da Guarda Costeira norte-americana, confirmou as mortes das cinco pessoas a bordo do Titan.
As cinco pessoas a bordo eram o bilionário e explorador britânico Hamish Harding, de 58 anos; o magnata de negócios nascido no Paquistão Shahzada Dawood, 48, e seu filho Suleman, de 19, ambos cidadãos britânicos; o oceanógrafo francês e especialista em Titanic Paul-Henri Nargeolet, 77, que visitou os destroços dezenas de vezes; e o norte-americano Stockton Rush, fundador e executivo-chefe da OceanGate, que pilotava o submersível.
A agência Reuters noticiou na quinta-feira que as renúncias de responsabilidade assinadas pelos passageiros do Titan, muito comum em passeios turísticos que envolvam riscos de acidentes inesperados, podem não proteger o proprietário da embarcação de possíveis processos judiciais por parte das famílias das vítimas
Implosão catastrófica
A tese de implosão do submersível Titan ganha terreno com novas informações difundidas pelas autoridades norte-americanas.
A causa apontada para o acidente teria sido uma "implosão catastrófica", com base nos padrões de detritos. A este dado soma-se a detecção de sons "consistentes com uma implosão ou explosão próximo de onde o submersível Titan operava quando as comunicações se perderam”, de acordo com a Marinha norte-americana.
Um oficial da Marinha dos EUA avançou à CBS News que as informações sobre os "sons detectados" foram, depois, usados pela Guarda Costeira para restringir a área de busca. Os esforços continuam para mapear o campo de destroços e investigar o fundo do mar ao redor do Titanic.
Um veículo subaquático operado remotamente (ROV) encontrou cinco fragmentos principais do submarino Titan de 6,7 metros. “O campo de destroços no fundo do mar está a cerca de 488 metros da proa dos destroços do Titanic”, que repousa a quatro quilômetros abaixo da superfície do Atlântico Norte, respondeu o contra-almirante da Guarda Costeira dos EUA John Mauger, a jornalistas.
Citado na BBC, Paul Hankin, um especialista em submarinos, sublinhou que a primeira indicação de que o submersível poderia ter implodido surge com a descoberta de um grande campo de destroços, na quinta-feira.
"Essencialmente, encontramos cinco pedaços principais diferentes de detritos que nos indicam ser dos restos do Titan", alegou.
Com informações da Agência Brasil