Deus abençoe esta bagunça: amizades que atravessam décadas na consolidação
Rextur, Rextur Advance, CVC Corp, BeFly: acompanhe a trajetória de Luti Guimarães e seus colegas
As vozes e risadas vindas da cobertura de um prédio na alameda Campinas, 1.070, em São Paulo, já podiam ser ouvidas do andar de baixo. Subindo as escadas, a reportagem encontrou uma roda de amigos que, além da parceria no trabalho atual, compartilham um passado em comum. E que passado. Todos atuam no setor de consolidação e têm no início de sua trajetória a consolidadora Rextur, definida por eles como um ponto de aprendizado em comum.
Nos 50 anos da PANROTAS, resolvemos juntar para um bate papo esses profissionais que evoluíram juntos, tornaram-se grandes parceiros, entre brigas e anedotas, e hoje são exemplos e espelho do que aconteceu com tantos outros grupos de pessoas que começaram lado a lado. O Turismo tem o dom de aproximar (forçadamente, muitas vezes), de curar feridas, de suavizar processos, de criar laços, que como sabemos e vamos ver a seguir, atravessam décadas e qualquer crise.
Atualmente, esse grupo de profissionais que começou lá atrás, alguns na década de 1980, na Rextur, está na BeFly, uma empresa que representa o novo Turismo, uma nova forma de trabalhar no setor. Como essa amizade convive em um ambiente tão diferente? O que mudou na vida deles e na consolidação?
O time, além da amizade, tem em comum a figura de Luciano Guimarães, o Luti, que era, além de filho do fundador da Rextur, Goiaci Alves Guimarães, um dos diretores da consolidadora. Empresa essa que passou por uma fusão com a concorrente Advance, e venda para a CVC Corp. A marca continua na empresa de Santo André (SP), mas a equipe se dividiu.
Representando o núcleo da Rextur raiz (que nem sonhava com a fusão com a Advance ou venda para a CVC), estiveram em nosso bate papo, na sede da BeFly:
- Luciano Guimarães, vice-presidente de Negócios da BeFly;
- Renata Esteves, diretora de Gente e Gestão e Governança da BeFly;
- Quinho, gerente de Emissão Flytour Consolidadora;
- Emerson Cardoso, diretor de Atendimento da Flytour Consolidadora;
- Danyele Bellangero, coordenadora comercial da Flytour Consolidadora;
- Sayuri Mioshi, gerente de Atendimento da Flytour Consolidadora;
- e Alex Santana, gerente comercial Flytour Consolidadora.
Na conversa, ficou evidente a sintonia entre os membros do grupo, capaz de se entenderem apenas por meio de dicas, olhares e gargalhadas e sem precisar concluir frases. E também o amadurecimento de todos enquanto profissionais. Sem deixar de lado o afeto, o reconhecimento à história e a líderes que já não estão mais no dia a dia, e a vontade de sempre crescer e aprender. De preferência, juntos.
Jovem aprendiz
Quinho, pioneiro na equipe, compartilhou lembranças de sua entrada na Rextur, aos 14 anos. Ele destacou que a sinceridade foi determinante para conquistar sua vaga na época – aliás, vários deles conseguiram seus empregos batendo na porta da empresa ou por indicação de amigos do trade. "Eu estava procurando emprego e não achava em lugar nenhum. Naquele dia, cheguei em frente a um edifício chamado Itália, no centro de São Paulo, e vi o nome Rextur no quinto andar. Pensei: 'vou nessa com nome de cachorro mesmo. Gosto de cachorro'".
"Fui atendido pelo Vicente Bezerra, que começou com algumas perguntas: 'Você sabe onde é a avenida São Luís? A praça da República? A rua 7 de abril?' Eu não sabia nada e respondi isso. Ele então disse: 'Você está contratado'. Eu fiquei surpreso, porque não conhecia nada, mas ele me disse que eu era honesto por ter falado a verdade", contou Quinho.
Depois de ingressar na empresa como office boy, o profissional escalou as mais variadas funções dentro da consolidação e assistiu à chegada de todos os seus companheiros que ainda hoje estão com ele. Ele destaca que uma diferença marcante entre sua geração e a atual é a experiência diversificada em JOVEM APRENDIZ várias áreas da empresa.
"Naquela época, não havia muitos profissionais de Turismo, então precisávamos formar as pessoas dentro das empresas, que tinham ainda a característica de ter uma fundação familiar", recorda. "Todo mundo aqui já passou por mais de uma área. Isso confere um engajamento muito forte, diferente do que chamamos hoje de clima e cultura empresarial. Era algo muito verdadeiro. Muitas vezes, eu ia lá emitir bilhete, ficava com a mão vermelhinha, porque íamos ter pizza à noite e ajudávamos de bom grado. Hora extra? Nunca tinha ouvido falar", relembra Quinho.
Ele menciona que a cultura da época era marcada por um ambiente mais simples e descontraído. "Era tudo uma festa. Eu tinha uma placa em cima da mesa e muitos aqui lembram. Dizia: "Deus abençoe essa bagunça", porque traduzia mesmo o que era muitas vezes". Em meio a emissões acumuladas, prazos apertados porque o preço ia aumentar, muitos procedi - mentos manuais, telefones tocando, boys passando para pegar material, gritos para quem estava do outro lado da sala, chefe chamando a toda hora... tudo dava certo e todos iam para casa felizes e realizados. Pelo menos essa é a lembrança que a memória fez questão de guardar, um tanto romantizada, mas que é a semente do que esse grupo é hoje.
O antes e o agora
Nesse momento do papo, de lembrar de como era o trabalho e o ambiente na Rextur, quem colabora com Quinho é Renata Esteves, diretora de Gente e Gestão e Governança da BeFly, que também tem uma tese sobre as diferenças do antes para o atual. "Hoje, com uma empresa que conta com milhares de funcionários e diversas marcas, vemos que tudo mudou. Agora, temos mais clareza sobre as trilhas de carreira, algo que não existia antes. Naquela época, as oportunidades surgiam conforme a estrutura pequena da empresa permitia. Para crescer, muitas vezes, era preciso esperar o gerente sair. Agora, em estruturas maiores, já se entra com uma perspectiva de desenvolvimento", aponta ela, que entrou na Rextur como secretária e, aos poucos, foi ganhando espaço na estrutura da empresa, por ter sempre estado atenta ao que poderia ser feito e melhorado naquela “bagunça” abençoada por Quinho.
Ela acrescenta: "Nessas estruturas maiores, você já entra com uma perspectiva de carreira, faz um onboarding no qual entende melhor a empresa e tem acesso a mais ferramentas de aprendizado. Assim, em poucos meses, você já se torna um profissional mais preparado, o que antes demorava muito mais tempo. Para se tornar emissor, tinha chão. Emissor internacional, então, era um fera na empresa", comentou.
Marketing e gente
Além de destacar a evolução nas perspectivas de carreira, Renata compartilhou um pouco de sua própria trajetória. "Começou ali perto dos anos 2000. Tinha um plano de trabalhar na Disney, por meio de um programa do STB", recorda. Durante os preparativos para seu embarque, no entanto, o pai adoeceu, o que a fez repensar suas decisões.
"Na semana do embarque meu pai foi para a UTI e ficou naquele negócio. Vem a família, volta a família. Eu fiquei pensando, se eu embarcar e meu pai morrer, como fica minha mãe? Só que eu não podia manter minha vaga na American Airlines [que era onde ela trabalhava, com José Roberto Trinca], porque eu tinha indicado uma amiga para a minha vaga", explica. Renata compartilhou sua situação com Marco Loes, então gerente da American. "Contei essa situação pro Marco, que me falou sobre uma oportunidade como secretária", lembra. Essa conversa abriu uma nova oportunidade para Renata na Rextur. "Entrei como secretária e no meu início comecei a resolver as questões que chegavam antes de passar para o gerente da área", completou.
Ela conta que, com o tempo, passou a ajudar em novos projetos. "Mais ou menos nessa época procurei o Luti, que era do Nacional, e recebi um pedido para ajudar na organização da festa de 30 anos da empresa. Era um show do Ira!, no Olímpia", conta.
Esse evento marcou o início de sua transição para o Marketing, quando abraçou novas atribuições na área em que trabalhou por anos. Os exemplos de Renata e Quinho, que chegaram à Rextur ainda sem experiência e construíram sua carreira dentro da consolidadora, também vale para outros membros deste mesmo grupo.
Gente que vai e volta
Alex Santana, que voltou a fazer parte deste time em 2024, tem uma história similar. Santana, que chegou à Rextur ainda como estagiário, em 1996, recorda que enfrentava desafios para conseguir seu primeiro emprego. "Eu estava fazendo faculdade de Administração, porque quando você não sabe o que quer fazer, você faz administração. Precisava de um estágio e a vaga me pareceu ideal porque era a chance de lidar com muitos departamentos", comentou.
Ao longo de sua trajetória, Alex passou por diferentes funções e testemunhou o crescimento e as mudanças na Rextur. "Nunca tinha trabalhado com aviação. Estava fazendo mesmo para colocar no currículo”, diz ele. “Mas foram 23 anos por lá, acompanhando as transições da empresa, a fusão com a Advance, até a época da compra pela CVC Corp", detalha. Passou um tempo na concorrente Skyteam (o que é comum nesse ramo da consolidação, o vaivém) e agora voltou às origens.
Alex retornou há poucos meses ao grupo liderado por Luciano Guimarães, e vê com entusiasmo o reencontro com os antigos colegas. "Aqui todo mundo é raiz mesmo. A gente se conhece há muito tempo e essa conexão faz toda a diferença no trabalho em equipe", pontuou.
O movimento de retorno recentemente feito por Alex Santana é o mesmo realizado por boa parte desse time que agora veste a camisa da BeFly, mas tem boas recordações e pés fincados nos tempos de Rextur.
Emerson Cardoso e Sayuri Mioshi, ambos integrantes deste grupo antes dos anos 2000, viveram a experiência de ida e volta por um período bem curto. Sayuri, especializada no mercado asiático, lembra de como conheceu Cardoso, uma figura já popular no meio. "Quando fui fazer a entrevista para entrar na Rextur, todo mundo comentava: 'Ah, você vai fazer entrevista com o Emerson'. Ele tinha fama de ser exigente, então eu fui com medo", relembra. "Ele continua exigente até hoje, mas acho que a gente aprendeu a lidar um com o outro".
A chegada de Sayuri foi um marco na criação do Departamento de Ásia, uma área específica da Rextur que, na época, ainda era bastante segmentada. "Tínhamos divisões para diferentes regiões, como Estados Unidos, Europa, e outros mercados. A Ásia ainda era um campo a ser desbravado", explica a executiva, que trouxe um olhar estratégico para o desenvolvimento do segmento.
Cardoso, por sua vez, que já atuava na Rextur antes dos dois movimentos mais profundos que a empresa viveu (fusão com a Advance e venda para a CVC) compartilhou os desafios de assumir o operacional em um contexto de mudanças estruturais. "A integração após a venda para a CVC foi um período bem difícil pra mim. Eu fiquei 30 dias na função e, depois disso, decidi sair", conta ele.
A experiência foi traumática na relação com Luti. "Ele fez de tudo para me manter. A gente chegou a negociar alguns pontos, mas no fim das contas, eu sabia que meu caminho ainda era com essa turma", detalha.
Quando Cardoso decidiu sair da companhia, em junho de 2015, algumas pessoas de seu time, incluindo Sayuri, toparam o desafio de fazer o mesmo trabalho em outra empresa, a Sakura. "Saí com o compromisso firmado com o Luti que, se ele estivesse à frente da equipe novamente, eu estaria junto", revela.
Pois bem, meses depois da saída, uma reorganização dentro da RexturAdvance colocou Luciano na direção da consolidadora e uma das suas primeiras providências foi cobrar o compromisso de quem havia saído meses antes. Foi quando o telefone de Emerson Cardoso tocou.
- "Alô! Quero ver se você tem palavra", disse Luciano.
"Tá falando do que?", respondeu Emerson.
"Costumo guardar aquilo que é benéfico para mim. Lembra quando você saiu daqui?", indagou Luciano.
"Lógico que eu lembro", contestou Emerson.
"Se recorde que eu perguntei se você voltaria se eu estivesse na operação de novo? Voltei", informou Luti.
"Mano, meu coração veio à boca! O que eu vou fazer agora?", confessa Cardoso. Na semana seguinte, contudo, tomaram um café juntos e acertaram a volta de Emerson Cardoso à RexturAdvance, mas não sozinho. Trazer seu time foi a condição do executivo que assim acertou seu retorno ao grupo. Um diretor da CVC chegou a dizer que só contrataria Cardoso, mas venceu o apalavrado com Luti e o sentimento de time.
Luti e Cardoso, aliás, falam abertamente dessa época, dos rancores que ficaram no passado, e da amizade e confiança entre os dois, que se sobrepuseram a todos os percalços. Hoje Emerson Cardoso cuida de toda a operação da Flytour Consolidadora.
Especialização e transformação na consolidação
Danyele Bellangero, atualmente coordenadora comercial da Flytour Consolidadora, compartilhou sua trajetória e as mudanças que observou no setor de consolidação desde que iniciou na Rextur, em 1998. A evolução das práticas e exigências do mercado foi marcante ao longo dos anos, como destaca.
"Quando entrei, era comum um profissional cuidar apenas de uma companhia aérea. Eu, por exemplo, comecei no atendimento nacional e depois fui para a emissão nacional, atendimento internacional e emissão inter", relembra Danyele. Esse modelo, que priorizava um conhecimento técnico profundo de cada rota, foi aos poucos se transformando. "Eu cuidava de tudo da Tam e da American, por exemplo. Isso já não existe mais, e já não era prática nem quando a RexturAdvance fazia parte da CVC Corp. A especialização era fundamental, pois era preciso conhecer profundamente cada rota específica e calcular tarifas detalhadas de cada companhia", explica.
"Um profissional que sabia calcular uma tarifa para um voo da Vasp para Los Angeles e Seul, não necessariamente saberia fazer o mesmo para a American, porque eram sistemas diferentes, com fórmulas de cálculo distintas. Era um conhecimento técnico que fazia a diferença e que hoje já não é mais necessário com o avanço da tecnologia", conta Danyele.
Luti complementa as observações de Danyele ao falar sobre as mudanças na tecnologia e o impacto no perfil dos profissionais de consolidação. "Hoje, entender de GDS é um requisito básico, e o NDC [New Distribution Capability] já virou uma realidade no mercado. Sempre há alguém na equipe que entende bem do NDC, mas ainda é uma ferramenta em processo de adaptação", explica.
Emerson Cardoso destaca que o perfil desejado nos dias atuais é diferente do passado: "Aqueles especialistas em um único tipo de tarifa, em uma única companhia, já têm prazo de validade. Agora, quem se destaca é quem tem habilidade de relacionamento e a nova geração que domina as tecnologias do setor".
Luciano também refletiu sobre a rapidez com que os novos talentos absorvem conhecimentos em comparação aos profissionais do passado. "Antigamente, o caminho era longo: começava como office boy, depois carimbava bilhete, fazia estoque, até chegar a emissor e, finalmente, trabalhar no internacional. Quem chegava nesse nível tinha 15 anos de casa. Era uma verdadeira elite, muito poucos dominavam o mercado internacional", relata. "Hoje, com treinamento, o profissional já entra bem preparado, e essa nova geração entende bem de tecnologia. Eles entram como jovens aprendizes na emissão nacional e rapidamente se adaptam. A base tecnológica é muito mais forte desde o início", completa.
As falas de Danyele, Emerson e Luciano ilustram como o setor de consolidação passou por uma transformação profunda, na qual a especialização técnica e o longo tempo de aprendizado deram lugar a uma preparação mais dinâmica e voltada para a tecnologia. Os três reconhecem que, para o futuro, a adaptação às novas ferramentas digitais será essencial para a continuidade e o crescimento dos profissionais no mercado.
Referências
Durante a conversa, Luciano Guimarães relembrou como as empresas Flytour e Rextur lideraram o setor de consolidação e definiam tendências no mercado. Ele ressaltou que, apesar da concorrência, existia um grande respeito entre as duas companhias, especialmente entre seus líderes, Goiaci Guimarães (fundador da Rextur e pai de Luciano) e Eloi Oliveira, que revezavam as posições de mais vendidos em São Paulo – muitas vezes em um acordo entre eles, para não se tornarem alvo constante da concorrência mais agressiva.
Além disso, Luti destacou que, para ele, o principal diferencial do trabalho sempre foram as pessoas, mencionando a diversidade e a conexão com colegas de diferentes gerações como parte essencial de sua experiência profissional.
Na mesma reflexão, Luciano destaca a dificuldade de criar ícones no mercado atual de Turismo, comparando com figuras que marcaram o passado, como o seu pai Goiaci, Eloi e Juarez Cintra (da Ancoradouro). "Essa época do começo da consolidação criou vários ícones. O Eloi, Goiaci, o próprio Juarez... vários nomes realmente que são os pioneiros. Não sei se hoje é uma época para criar líderes, como é que você compara as lideranças? Talvez não seja mais o trabalho que gere esses ícones", refletiu.
Ele ainda falou com carinho especificamente sobre seu pai, que segundo ele era reconhecido pela sua habilidade em liderar e ajudar. "O Goiaci foi um cara que se destacou por várias coisas. Se destacou pela liderança que ele tinha, se destacou porque era um cara com bom trato político, se dava bem com todo mundo. Ajudava todo mundo. Ajudou do Juarez ao Eloi. As pessoas olhavam para ele e reconheciam alguém bem-sucedido, humilde... Difícil alguém falar mal dele, mesmo que um inimigo e sempre têm uma história boa para contar. E têm outros no mercado também que foram como ele e ficarão gravados de maneira positiva", relembrou.
Modéstia à parte, Luti
O outro lado do raciocínio de Luti aponta para o carisma de alguns profissionais como um desafio a ser superado. "Um dos grandes desafios que temos como empresa, e aqui vou citar um exemplo, é: como fazemos o agente de viagens deixar de comprar do Goiaci? Porque havia essa característica de comprar do profissional e não da empresa. Era muito pessoal", afirma.
Nesse momento da conversa, Renata Esteves coloca seu ponto de vista para falar sobre um elo de ligação entre esses amigos que até hoje estão juntos e desempenhando um trabalho que ainda é líder de mercado. "Acho que o Luti está sendo humilde porque quando fala em liderança, ele poderia falar também sobre ele mesmo, assim como outros filhos de grandes nomes como o próprio Fábio Oliveira, o Juarez Neto, também se formaram como o Luti", avalia Renata, destacando a continuidade do legado de liderança.
Renata enfatiza que Luti foi um dos poucos que conseguiram realizar uma transição bem-sucedida, mantendo seu grupo unido. "Talvez tenha sido a única pessoa que fez uma transição de empresas e que provou essa liderança, trazendo todo mundo que está aqui com ele. Muitos profissionais o acompanharam nessa transição e eu sou uma delas", afirmou.
Ela também mencionou os resultados alcançados pela equipe, que conquistou a liderança na emissão de bilhetes aéreos. "Os clientes vieram e vieram por quê? Por conta dele. É óbvio", destacou Renata, reconhecendo o papel de Luti, mas também atribuindo o sucesso ao trabalho conjunto. "Mas não é de mim, é do time, né, Renata? É do time", respondeu Luciano, em um dos momentos emocionantes da conversa.
O que nos une?
Questionados sobre a razão que os une em uma equipe que tem aproximadamente 30 anos de convivência, os executivos destacam alguns valores essenciais: Confiança, Gratidão, Cumplicidade e uma relação de verdade.
"Confiança é uma boa. Uma palavra que me faz lembrar bastante do meu pai, porque ele sempre falou que isso é algo que se conquista. Mas ainda acho que mais que confiança o que nos une é verdade. Aqui não tem ninguém que se enganou. Quando alguém optou por sair, deu os motivos com transparência e se alguém aqui erra, admite", aponta Luti Guimarães. "É uma relação acima de tudo de verdade. Confiança é saber que o cara ao seu lado não vai te ferrar e aqui a gente vai sabendo que quem está com a gente está de verdade", completa.
"Não é nem uma relação de família, porque família a gente não escolhe e aqui nós nos escolhemos. Eles, que estão aqui agora e mais 200 colaboradores que já estiveram conosco na Rextur e ainda estão. É uma relação verdadeira, de gente que se gosta de verdade, se apoia", afirma Luciano.
A proximidade entre eles também foi marcada por momentos de dificuldade. Ainda no período de Rextur Advance, dentro da CVC, dois episódios foram especialmente marcantes para Luciano, quando dois colaboradores queridos foram desligados. "Meus filhos me viram desabar de chorar – inclusive estou quase chorando novamente ao relembrar, mas é difícil. Foi quando desligaram o Quinho, que está aqui conosco. Um cara que me ensinou tudo e estava saindo. E a Meg, que era a nossa copeira lá. No dia que a demitiram e era pandemia, ela me ligou dizendo que não tinha mais para quem servir café. Sensação difícil de lidar. É mais que uma relação de família, é relação de verdade. É muito real o que a gente vive", lembrou.
Essa relação de proximidade, mesmo em um mercado transformado pela tecnologia, mantém um tom humano para a empresa, reforçando vínculos que se solidificam ao longo do tempo. Quinho, um dos que vivenciaram essa trajetória, complementa: "Aquilo que eu falava e mostrava de 'Deus abençoe essa bagunça' ainda está em nós. Só que hoje numa proporção muito maior. Muito maior. Então, a gente sabe a nossa responsabilidade, a gente sabe tantas famílias que a gente tem que cuidar. E é cuidar mesmo, de pegar na mão e se preocupar com as necessidades".
E o cuidado não se restringe apenas ao ambiente profissional. "Já internamos funcionário que usava drogas, já ajudamos… Já trocamos o piso de casa, sabe? De visitar a casa e não ter piso, chegar e ajudar. Muitas coisas. Trocamos o carpete do escritório também. No final de semana, recolhemos todos os móveis, trocamos o carpete do escritório. Chegou na segunda-feira, os moleques, tudo de carpete novo", lembra Quinho, destacando o espírito de colaboração entre todos.
Essas histórias ilustram um ambiente onde, mais que colegas, eles se tornaram um grupo unido por experiências e desafios compartilhados. "Quando eu digo 'a gente', é a gente mesmo. E quando precisamos um do outro, nos juntamos e fazemos o que for preciso, sempre de verdade", finaliza.
O Turismo agradece.
Tudo isso e mais na Revista PANROTAS 1.589
Este conteúdo é parte integrante da Revista PANROTAS 1.589 - Edição Especial 50 Anos, que circula esta semana no Festuris 2024, mas que você já pode ler na íntegra, gratuitamente, na versão digital a seguir: