Consolidadoras em debate - parte 1: cessão de crédito é solução ou vilã?
Já sólido e conhecido, o atual modelo de negócio das consolidadoras causa repercussão no mercado após o fechamento da Intercontinental
A PANROTAS inicia hoje uma séria de matérias sobre consolidação aqui no Portal PANROTAS. Na primeira delas, abaixo, o tema é a concessão de crédito. As demais serão publicadas ainda esta semana, amanhã (17), quarta (18) e quinta-feira (19).
Depois da repercussão gerada em torno do fechamento da consolidadora Intercontinental Turismo, de Vitória, o setor voltou a discutir as atuações dos chamados 'subconsolidadores' e do atual modelo de concessão de crédito da consolidação no Brasil. Aliás, até onde esse padrão de negócio é arriscado, tanto para as consolidadoras quanto para as agências de viagens? O Portal PANROTAS ouviu alguns dos principais players desse mercado para entender como eles veem esse modelo de negócio, já consolidado, mas que causando polêmicas no Turismo.
No caso da Intercontinental, o diretor, Edson Ruy, alegou a falta de pagamento da subconsolidadora Prime (RS) – que contestou a dívida na justiça – após conceder crédito em bilhetes emitidos. O grande volume de emissões feitas fez com que o rombo financeiro causasse o fim da consolidadora do Espírito Santo. Ou seja, ao dar crédito sem limites, a Intercontinental não teve como cobrir o suposto rombo deixado pela Prime.
“Para a consolidação, como um todo, [essa notícia] é péssima. No modelo em que atuamos, conceder um alto montante de crédito é muito arriscado. Se não for minuciosamente calculado, pode acabar dando muitos problemas, a exemplo do que aconteceu nesse caso”, analisou o diretor da associação representativa dos consolidadores – a Air Tkt –, Ralf Aasmann. Hoje a Air Tkt conta com dez associados, mas nem a Prime nem a Intercontinental fazem parte do quadro.
"O GRANDE ERRO"
Conceder grandes quantias de crédito demanda um certo nível de estrutura das consolidadoras. É necessário ter mecanismos de proteção contra fraudes e inadimplência, já que, teoricamente e na prática, negócios falhos com um cliente não devem afetar os outros. Isso, porém, nem sempre é seguido à risca.
Na busca por um maior volume de vendas, alguns consolidadores baixam suas defesas contra a inadimplência, liberando crédito a agências e subconsolidadores que, no futuro, podem não cumprir com o acordo. Esse, na opinião de alguns dos líderes desse mercado, é o grande erro dos players (que dão o crédito). A Prime, vale destacar, antes da parceria com a Intercontinental, ensaiou uma sociedade com a Confiança, que deixou o negócio em poucos meses, e também emitiu em outras consolidadoras, inclusive associadas da Air Tkt.
O vice-presidente da Ancoradouro, Cássio Oliveira, não hesita ao ser perguntado sobre as normas de adesão para uma agência consolidada. "É bem claro. Há um contrato, e o contratante apresenta um fiador e garantias de crédito. Nos protegemos ao máximo, pois sabemos a dimensão que um problema de pagamento pode acarretar", disse ele, que teve seu discurso reforçado por outros nomes do setor.
O diretor geral da Rextur Advance, Luciano Guimarães, além dos diretores da CNT Consolidadora e Skyteam Consolidadora, André Khouri e Peter Weber, respectivamente, concordam que os rígidos processos de admissão de clientes são considerados os grandes protetores da consolidação e, consequentemente, do agente de viagens.
UM MAL NECESSÁRIO
Mesmo com todas as análises financeiras e jurídicas feitas pelos consolidadores, ainda existe inadimplência (de atrasos à falta de pagamento). É neste ponto que o modelo de concessão de crédito é questionado. Será que não há uma saída que garanta uma operação mais eficiente? As grandes divergem.
"A concessão de crédito é primária neste tipo de negócio. Quem não souber fazer este exercício, não prospera", disse Guimarães, que movimenta mais de R$ 3 bilhões em vendas e, portanto, tem caixa suficiente para administrar esses índices de inadimplência.
Khouri, da CNT, também vê essa operação como única alternativa: "Nada é perfeito, mas acredito que o nosso mercado está bem servido e adaptado."
O diretor e fundador da Skyteam, Weber, por sua vez, vê outra solução. Segundo ele, há um vício de visão que força o mercado a ver a consolidadora como uma financeira, o que seria diferente caso o cartão de crédito corporativo — uma vez que a maior fatia das emissões vem das viagens corporativas — se tornasse uma ferramenta mais utilizada no Brasil.
"Se as agências exigissem [cartões corporativos] para o mercado de passagens aéreas, teríamos um saneamento deste mercado", disse Weber. "Há ainda a hipótese de as agências assumirem seus créditos com cartões próprios, mas essa é uma opção execrada pelas companhias aéreas", completou. O uso de cartões é condenado pelas aéreas, e pela própria Iata, por adicionar taxas de bandeiras de crédito, que serão pagas pelas próprias companhias.
Para o VP da Ancoradouro, Cássio Oliveira, a política inflexível dos operadores de cartão de crédito é o grande limitador para o sucesso da ferramenta no Turismo brasileiro. "O meu consolidado se estabelece com uma flexibilidade minha de crédito. Há negociação. Já no cartão, se não pagar até o vencimento, os juros são assertivos e não tem a quem recorrer", concluiu Oliveira.
Concorda? Tem sugestões? Comente nessa notícia ou nos mande sua sugestão (redacao@panrotas.com.br).
Na matéria de amanhã, o tema será a atuação das subconsolidadoras.
Depois da repercussão gerada em torno do fechamento da consolidadora Intercontinental Turismo, de Vitória, o setor voltou a discutir as atuações dos chamados 'subconsolidadores' e do atual modelo de concessão de crédito da consolidação no Brasil. Aliás, até onde esse padrão de negócio é arriscado, tanto para as consolidadoras quanto para as agências de viagens? O Portal PANROTAS ouviu alguns dos principais players desse mercado para entender como eles veem esse modelo de negócio, já consolidado, mas que causando polêmicas no Turismo.
No caso da Intercontinental, o diretor, Edson Ruy, alegou a falta de pagamento da subconsolidadora Prime (RS) – que contestou a dívida na justiça – após conceder crédito em bilhetes emitidos. O grande volume de emissões feitas fez com que o rombo financeiro causasse o fim da consolidadora do Espírito Santo. Ou seja, ao dar crédito sem limites, a Intercontinental não teve como cobrir o suposto rombo deixado pela Prime.
“Para a consolidação, como um todo, [essa notícia] é péssima. No modelo em que atuamos, conceder um alto montante de crédito é muito arriscado. Se não for minuciosamente calculado, pode acabar dando muitos problemas, a exemplo do que aconteceu nesse caso”, analisou o diretor da associação representativa dos consolidadores – a Air Tkt –, Ralf Aasmann. Hoje a Air Tkt conta com dez associados, mas nem a Prime nem a Intercontinental fazem parte do quadro.
"O GRANDE ERRO"
Conceder grandes quantias de crédito demanda um certo nível de estrutura das consolidadoras. É necessário ter mecanismos de proteção contra fraudes e inadimplência, já que, teoricamente e na prática, negócios falhos com um cliente não devem afetar os outros. Isso, porém, nem sempre é seguido à risca.
Na busca por um maior volume de vendas, alguns consolidadores baixam suas defesas contra a inadimplência, liberando crédito a agências e subconsolidadores que, no futuro, podem não cumprir com o acordo. Esse, na opinião de alguns dos líderes desse mercado, é o grande erro dos players (que dão o crédito). A Prime, vale destacar, antes da parceria com a Intercontinental, ensaiou uma sociedade com a Confiança, que deixou o negócio em poucos meses, e também emitiu em outras consolidadoras, inclusive associadas da Air Tkt.
O vice-presidente da Ancoradouro, Cássio Oliveira, não hesita ao ser perguntado sobre as normas de adesão para uma agência consolidada. "É bem claro. Há um contrato, e o contratante apresenta um fiador e garantias de crédito. Nos protegemos ao máximo, pois sabemos a dimensão que um problema de pagamento pode acarretar", disse ele, que teve seu discurso reforçado por outros nomes do setor.
O diretor geral da Rextur Advance, Luciano Guimarães, além dos diretores da CNT Consolidadora e Skyteam Consolidadora, André Khouri e Peter Weber, respectivamente, concordam que os rígidos processos de admissão de clientes são considerados os grandes protetores da consolidação e, consequentemente, do agente de viagens.
UM MAL NECESSÁRIO
Mesmo com todas as análises financeiras e jurídicas feitas pelos consolidadores, ainda existe inadimplência (de atrasos à falta de pagamento). É neste ponto que o modelo de concessão de crédito é questionado. Será que não há uma saída que garanta uma operação mais eficiente? As grandes divergem.
"A concessão de crédito é primária neste tipo de negócio. Quem não souber fazer este exercício, não prospera", disse Guimarães, que movimenta mais de R$ 3 bilhões em vendas e, portanto, tem caixa suficiente para administrar esses índices de inadimplência.
Khouri, da CNT, também vê essa operação como única alternativa: "Nada é perfeito, mas acredito que o nosso mercado está bem servido e adaptado."
O diretor e fundador da Skyteam, Weber, por sua vez, vê outra solução. Segundo ele, há um vício de visão que força o mercado a ver a consolidadora como uma financeira, o que seria diferente caso o cartão de crédito corporativo — uma vez que a maior fatia das emissões vem das viagens corporativas — se tornasse uma ferramenta mais utilizada no Brasil.
"Se as agências exigissem [cartões corporativos] para o mercado de passagens aéreas, teríamos um saneamento deste mercado", disse Weber. "Há ainda a hipótese de as agências assumirem seus créditos com cartões próprios, mas essa é uma opção execrada pelas companhias aéreas", completou. O uso de cartões é condenado pelas aéreas, e pela própria Iata, por adicionar taxas de bandeiras de crédito, que serão pagas pelas próprias companhias.
Para o VP da Ancoradouro, Cássio Oliveira, a política inflexível dos operadores de cartão de crédito é o grande limitador para o sucesso da ferramenta no Turismo brasileiro. "O meu consolidado se estabelece com uma flexibilidade minha de crédito. Há negociação. Já no cartão, se não pagar até o vencimento, os juros são assertivos e não tem a quem recorrer", concluiu Oliveira.
Concorda? Tem sugestões? Comente nessa notícia ou nos mande sua sugestão (redacao@panrotas.com.br).
Na matéria de amanhã, o tema será a atuação das subconsolidadoras.