Feira com orgulho, negócios com representatividade; como foi a Proud LA
Proud Experiences, em Los Angeles, aconteceu em junho
Quando se trata de Turismo, “gays lideram e os demais seguem. Eles são aventureiros e gostam de novas experiências. Possuem uma inclinação para viajar muito maior do que seus equivalentes heterossexuais. Viajam mais e gastam mais quando estão em viagem. São os queridinhos da indústria de Viagens quando se trata de gastos e dólares”.
A constatação é do ex-presidente da principal associação do Turismo dos Estados Unidos, US Travel, Roger Dow. Ela foi publicada em entrevista de Dow a Ed Salvato, também norte-americano e um dos principais escritores e especialistas em viagens LGBTQIA+ do mundo.
E por falar em referência global do universo LGBTQIA+, aconteceu na primeira semana de junho mais uma edição do Proud Experiences, em Los Angeles. Dirigido por Simon Mayle, o mesmo que lidera as feiras de Turismo de luxo ILTM Latin America e ILTM North America, o evento é o maior encontro profissional do segmento no mundo.
Em 2023, cresceu 60% em relação ao ano anterior, com mais de 500 participantes (21 brasileiros), que viram a abertura do evento com Ed Salvato. Em mais uma participação especial no Proud Experiences, o jornalista lançou tendências e dados animadores para o setor, apesar de algumas ressalvas (que vêm se diluindo aos poucos, ano após ano).
A começar pelas cifras:
- A comunidade LGBTQIA+ soma US$ 1 trilhão em gastos totais do consumidor nos Estados Unidos por ano, volume similar ao gasto dos afro-americanos.
- Apenas em viagens, são US$ 64 bi - lhões nos Estados Unidos e US$ 218 bilhões na indústria global de Turismo.
- E os viajantes LGBTQIA+ não são de poupar quando o assunto são férias fora de casa. Em Los Angeles, um dos principais destinos do mundo, os 8% dos visitantes identificados com a sigla respondem por 20% dos gastos totais.
- Em Fort Lauderdale, na Flórida, a receita é de US$ 1,2 bilhão por ano, de acordo com o Visit Lauderdale.
Dicas Valiosas
- Considere os parceiros de negócio LGBTQIA+ como pessoas para aprender.
- Entenda suas necessidades e preocupações para compreender o segmento Participe de capacitações do nicho e engaje com seus conteúdos.
- Adote as palavras que o segmento utiliza Evite clichês como “todos são bem-vindos aqui”, que não despertam confiança nos viajantes LGBTQIA+
- Contrate experts no tema que sejam externos para obter uma perspectiva mais abrangente e menos tendenciosa
- Compartilhe seus aprendizados com seus colegas
Gastronomia e esportes
Simon Mayle está admirado com os resultados apresentados pela Proud Experiences 2023. Além da apresentação de Ed Salvato, ele ressalta as aparições de destinos como Nova York, Los Angeles e San Diego mostrando a importância do mercado LGBTQIA+ para o Turismo e economia em geral.
Outros pilares do evento foram gastronomia e esportes. Sobre o primeiro, duas mulheres lésbicas falaram da mudança de paradigma vivida pelas cozinhas high-end mundo afora. Ambientes antes predominantemente liderados por homens heterossexuais estão aos poucos mudando e se tornando mais confortáveis para homens e mulheres homossexuais.
Já na abordagem do tema esportivo, ele recomenda que o mercado preste atenção nas oportunidades. “É um marcado que gosta de socializar, aprecia sair bastante e buscar atividades de saúde e bem-estar mental e físico. O Turismo esportivo, portanto, tem grande influência no nosso mundo. Estive no Fairmont Copacabana durante o fim de semana da maratona do Rio de Janeiro e estava lotado de turistas LGBTQIA+”, aponta Mayle.
“No Proud Experiences levamos Damy Kelly Holmes, a primeira atleta britânica do sexo feminino a ganhar duas medalhas de ouro olímpicas no atletismo desde 1920. Ela saiu do armário recentemente, com 53 anos, e seu depoimento foi sobre os motivos de ela não ter saído antes com receio de perder tudo: fama, medalhas, patrocínio. Em um mundo tão machista, ela viveu nessa sombra, disfarçava quando viajava com a namorada”, explica o diretor da feira de Turismo LGBTQIA+.
Cruzeiros e viagens temáticas
Ainda no fator socialização, Simon Mayle destaca o quanto a comunidade gosta de se encontrar quando viaja.
“Um dos segmentos mais badalados no Proud Experiences foi o de cruzeiros marítimos e fluviais. Os buyers buscaram fornecedores desta natureza com o objetivo de fretar saídas para a comunidade e promover atrativos dedicados a ela. Essa é uma característica dos viajantes LGBTQIA+ não só na feira especializada, mas nas próprias edições da ILTM, nas quais profissionais do luxo buscam armadoras, hotéis e receptivos a fim de dedicar datas para seus clientes. Pode ser museu, parque, passeios, festas e espaços de eventos”, indica o especialista. No entanto, alerta Mayle, não é apenas nas viagens fretadas que os fornecedores devem se capacitar para bem atender o público LGBTQIA+. “Os viajantes que se identificam com a comunidade querem fazer o que os demais fazem, desejam estar nos mesmos lugares, ter suas experiências autênticas e serem respeitados. O agente de viagens tem de exigir que seu cliente seja recebido corretamente, sendo tratado com compostura. Férias, viagens, não é momento para qualquer desconforto.”
Nem tudo são flores
Há mais de 60 países onde é ilegal (sim, proibido por lei) ser homossexual. Em alguns casos, o cidadão pode morrer pela sua orientação sexual. "Existe muito progresso sendo notado pelo mundo, mas situações assustadoras ainda resistem, como a lei anti-LGBTQ de Uganda. Ed Salvato contou que um viajante de luxo cancelou um safári de US$ 150 mil no país devido a essa lei, pois sua filha é lésbica. Ele trocou por Ruanda", aponta Mayle.
O setor privado pode ser decisivo para mudar esse jogo quando o assunto é Turismo. Nas Maldivas, por exemplo, a homossexualidade é considerada ilegal. Essas leis têm impacto direto na vida cotidiana das pessoas LGBTQIA+ no país, que podem enfrentar discriminação, estigmatização e até mesmo violência. No entanto, fornecedores do arquipélago participaram do Proud Experiences e asseguram que dentro de suas propriedades os visitantes de qualquer categoria têm liberdade. “Seychelles teve grandes avanços quando viu que começou a perder visitantes devido à discriminação. Quando apresentou a bandeira LGBTQIA+ mudou a atmosfera do destino”, pondera Simon Mayle.
E o Brasil?
Belmond Copacabana Palace e Unique Hotel foram expositores da Proud Experiences, mas independentemente da participação dos fornecedores na feira, o Brasil tem uma visão bem positiva entre a comunidade LGBTQIA+ estrangeira, na visão do diretor da feira.
“O que atrapalha o Brasil é a percepção de segurança em uma visão macro, em se tratando de crimes, assaltos, furtos. No entanto, é importante que o País siga em busca de evolução em se mostrar seguro para o viajante LGBTQIA+. Nos destinos brasileiros, andar de mãos dadas não é um problema para casal de nenhuma orientação. Andando pelo Rio de Janeiro, bandeiras do arco-íris em todos os cantos dão as boas-vindas aos casais. O Rio é um dos destinos mais desejados pelos LGBTQIA+ internacionais. Para eles, é um destino onde se celebra a diversidade. A Parada de São Paulo é única. O Brasil é acima de tudo um país democrático.”
Proud Experiences 2024
Mesmo lugar, mesma data. De 3 a 5 de junho, no Fairmont Century Plaza, em Los Angeles. Mayle convoca os brasileiros e esclarece que não se trata de um evento para quem trabalha com exclusividade com viajantes LGBTs. "É uma oportunidade muito grande para quem deseja trabalhar com o viajante LGBTQIA+. Não estamos falando necessariamente de agências nichadas. Quem tem cerca de 30% de clientes LGBTQIA+ já tem oportunidades de se aprofundar no tema no Proud Experiences", afirma o diretor do evento, Simon Mayle.
O conteúdo é parte integrante da Revista PANROTAS Edição Especial LGBTravel, que circula nesta semana