Marcos Martins   |   12/11/2019 14:30

Hotelaria cresce, mas sofre dependência de OTAs; veja análise

Análise é do advogado, administrador e professor de Investimentos Hoteleiros da FGV, José Ernesto Marino Neto, que pede uma visão mais realista sobre o setor


Divulgação
José Ernesto Marino Neto faz balanço do setor
José Ernesto Marino Neto faz balanço do setor
Apesar das previsões otimistas, com a elevação da taxa de ocupação média nos hotéis e mais projetos, a hotelaria deve ser analisada de maneira mais realista. A afirmação é do advogado, administrador e professor de Investimentos Hoteleiros da FGV, José Ernesto Marino Neto, que há 30 anos fundou a BSH International, empresa da área de investimentos.

Para ele, crescimento mesmo só acontecerá para o setor de eventos corporativos e, mesmo assim, com grandes mudanças. “O hoteleiro está todo dia no mesmo local, fazendo o mesmo negócio, mas está sujeito às variações cambiais, aos problemas políticos, às agressões ao meio ambiente e até às mudanças nos negócios das companhias aéreas. O Turismo de negócios aparece como opção com menor risco, mesmo as empresas atualmente terem reduzido viagens e promovendo eventos mais enxutos e em lugares próximos”, justifica.

“Há tendência de crescimento do mercado corporativo, principalmente em São Paulo, mas temos observado muitas mudanças, como até mesmo a eliminação do serviço de buffet nos eventos corporativos. As empresas têm indicado para funcionários usarem seus vales de refeição.”

DEPENDÊNCIA DE OTAS
De acordo com Marino Neto, está chegando “um grande tsunami” na hotelaria e as companhias hoteleiras estão correndo sem saber como vão sobreviver. “São as OTAs que promovem a venda de viagens on-line. Essas empresas estão dominando o mercado de distribuição e as companhias hoteleiras tendem a ficar reféns delas. As grandes corporações hoteleiras estão comprando mais empresas para ter volume e tentar competir e sobreviver, mas dificilmente terão a mesma capacidade de investir em marketing como as OTAs. É um destino que ainda não está traçado.”

“O que existe é a grande companhia hoteleira que tenta conviver com essas agências na esperança que o cliente acaba ficando fiel, mas nem sempre é o que acontece porque não há empresa hoteleira que esteja em todos os cantos do mundo com todas as marcas. É uma disputa por espaço que ainda não tem um final desenhado. Essas agências crescem cada vez mais. O volume de dinheiro que as OTAs investem em mídia é exorbitante. Nenhuma rede hoteleira consegue essa exposição. Você liga a televisão, ou se está na internet, é bombardeado o tempo todo. Essa é a grande briga do momento e dos próximos anos.”

INVESTIMENTOS
Outro ponto que ele levanta é que para atrair investidores de fora ainda está muito difícil, alegando que a hotelaria é um negócio de capital intensivo e de longo prazo. “Todos estão olhando para o Brasil, mas com muita desconfiança”, afirma.

Em seu trabalho de consultoria para investidores nacionais e internacionais, principalmente, o executivo atualmente só recomenda analisar investimentos em São Paulo. “Começar a olhar o Rio de Janeiro daqui a três anos, Belo Horizonte talvez daqui a dois anos e São Paulo, com cuidado, desde já”.

“O parque hoteleiro hoje é dez vezes maior do que vinte anos atrás e há ativos que podem ser consolidados e concentrados dentro de fundos imobiliários. Quando você tem um mercado crescendo tem a possibilidade de diversificação e surgimento de alternativas de negócios. Hoje você tem muitas opções e ferramentais profissionais de gestão dos negócios vai ser mais seguro. Há fundos imobiliários donos de hotéis inteiros", analisa.

“Para o Turismo crescer é essencial que a infraestrutura se amplie, que a criminalidade seja contida e que o Brasil seja bom destino turístico, isto é, que seja um bom local para se viver porque aí será um bom lugar para se visitar. Um lugar seguro, limpo, civilizado, com serviços demandados pelo consumidor, seja ele turista ou não.”

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