Apoiada por mais países, Arábia Saudita cria Centro de Turismo Sustentável
Destino criou uma coalizão com 30 países para zerar as emissões de carbono da indústria
Viagens e Turismo respondem por 8,1% da emissão de gases de efeito estufa globalmente, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), no lançamento da última edição de sua Pesquisa Ambiental e Social (ESR, pela sigla em inglês), em novembro do ano passado, na Arábia Saudita. E não poderia haver palco melhor. Em meio aos investimentos de US$ 800 bilhões no chamado Plano Visão 2030, que objetiva a marca de 100 milhões de visitantes internacionais anuais, uma parte considerável é voltada para liderar mundialmente práticas de ESG no Turismo.
Os sauditas criaram o Centro Global de Turismo Sustentável (STGC, na sigla em inglês), uma coalizão multilateral formada para acelerar e monitorar a transição da indústria de Viagens e Turismo para zerar emissões de carbono. Com o apoio de oito consultores de renome internacional e conhecimento no tema, incluindo empresários e membros e ex-membros de ONU, Fórum Econômico Mundial e WTTC, o centro encabeçado pela Arábia Saudita tem apoio de países como Reino Unido, Estados Unidos, França, Japão, Alemanha, Quênia, Jamaica, Marrocos e Espanha.
A Arábia Saudita entende que não há como ser um exemplo global de planejamento em Turismo, em crescimento como destino, sem também ser uma referência em âmbito social, administrativo e sobretudo ambiental. É o que conta a assessora do ministro do Turismo saudita, Gloria Guevara Manzo.
"Estamos avançando no tema de Turismo mais sustentável. A realidade é que mundialmente há vários desafios dentro do setor que não havíamos considerado ou nos quais ainda não se trabalha", reconhece a ex-ministra do Turismo do México.
"Um deles é a falta de investigação do mercado para que medir exatamente o que o setor contribui em gases de efeito estufa, em CO2, por exemplo. Por outra parte é que o nosso setor está muito fragmentado: mesmo que empresas grandes, como as maiores redes hoteleiras, os grupos de cruzeiros, aeroportos e companhias aéreas estejam avançando no tema, o desafio são os milhões e milhões de pequenos e médios empresários que não sabem nem como medir a sua pegada de carbono", completa Gloria Guevara.
São justamente esses empresários de negócios pequenos e médios que não foram ajudados corretamente. E é o comprometimento que a Arábia Saudita pretende ter com a criação de seu Centro Global de Turismo Sustentável. De quebra, todos saem beneficiados: destinos, prestadores de serviços, agências de viagens, receptivos, viajantes e todos os outros stakeholders envolvidos na indústria.
"Hoje, se você é dono de um restaurante no Brasil, por exemplo, e quer saber sua contribuição na emissão de carbono, como você faz? A resposta é: praticamente não existe um lugar certo, uma referência para ter essas informações, tal como não há um local para acesso às melhores práticas, o conhecimento, alguém para apontar as direções corretas. Como reduzir o desperdício de comida, uso de plásticos, como obter energia mais sustentável? Há, sim, órgãos fazendo trabalhos sérios, mas está tudo muito fragmentado", explica.
A ideia é, portanto, medir corretamente as principais fontes poluentes dentro da indústria do Turismo e, mapeadas, direcionar todo o setor para construir um mundo onde viagens sejam sustentáveis e menos agressivas para o meio ambiente.
"Bom para o planeta, meio ambiente, comunidades e, claro, para o bolso dos empresários. Temos pouco mais de oito meses trabalhando nessa estratégia, com profissionais da mais alta competência envolvidos, e entendemos que os resultados virão em médio e longo prazos, mas serão significativos", aponta a mexicana.
Gloria diz que o Brasil foi convidado no ano passado para participar do grupo, por ser um dos países prioritários e relevantes para o meio ambiente, mas optou por ficar fora. Como houve mudança de governo, o convite deverá ser refeito. Cerca de 30 países acompanham a Arábia Saudita nesta empreitada.
O próximo passo é para que pequenos e médios negócios possam aplicar ferramentas de forma imediata. Um portal está sendo elaborado em múltiplos idiomas para acesso gratuito. Nessa página, poderá fazer pesquisa de acordo com seu segmento e usar as ferramentas aplicáveis a seu negócio. Depois, ter acesso ao melhor conhecimento relacionado à sua área e se capacitar com as melhores práticas, entender o que fizeram restaurantes em outras partes do mundo para reduzir, por exemplo, desperdício de alimentos, reduzir gasto de energia, entre outras ações efetivas.
"Entre as instituições educacionais envolvidas no projeto está a Universidade de Stanford, nos ajudando com uma ferramenta para redução de desperdício alimentar. De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou desperdiçado em todo o mundo. Nesse mesmo portal, haverá informação relacionada a fundos, ou seja, que tipo de recurso financeiro pode ser usado para implementar soluções ESG. Se a solução está em áreas solares e energias limpas, como os empreendimentos podem fazer isso? Por isso que vamos trabalhar em parceria com vários governos, para que nos ajudem com recursos, tal como com o Banco Mundial e outros órgãos internacionais."
Uma das soluções é o SAF, combustível sustentável de aviação. Isso porque a emissão do transporte foi responsável por 38% do total de emissões de gases de efeito estufa em 2019, segundo o novo estudo do WTTC. Na visão de Gloria, é preciso acelerar e avolumar a produção de SAF, e tecnologia para isso já existe. “É urgente a colaboração pública e privada no engajamento do SAF, pois o combustível sustentável é realmente uma solução. Sabemos que há limitantes para sua produção, mas é justamente por isso que os governos precisam ser encorajados.”
Reportes já começaram a ser criados pelo STGC. No ano passado, em parceria com a consultoria Systemiq, um estudo chamado Better Travel and Tourism, Better World. Esse reporte fala das áreas de intervenção e traça um roadmap para o setor. “Nós investimos nesse documento, tal como na pesquisa lançada pelo WTTC. É esse tipo de ação que estamos fazendo”, conclui Gloria Guevara.
Essa matéria é parte integrante da Revista PANROTAS: