Artur Luiz Andrade   |   01/09/2020 08:54
Atualizada em 01/09/2020 13:57

Impacto da pandemia na CVC Corp será de R$ 950 milhões

CVC Corp divulga balanço de 2019, quando teve vendas de R$ 17,3 bilhões entre Brasil e Argentina


A CVC divulgou hoje e arquivou na CVM o balanço de 2019, que foi postergado algumas vezes este ano devido à descoberta de irregularidades em demonstrações financeiras de anos anteriores, totalizando R$ 362 milhões em impacto. A CVC Corp também divulgou que o impacto da pandemia de covid-19 nos resultados do grupo deve chegar a R$ 950 milhões, 89% sem efeito caixa. A inadimplência por causa da crise já soma R$ 72 milhões.

No ano passado, a CVC Corp registrou reservas confirmadas de R$ 17,3 bilhões, com aumento de 28,4% sobre 2018. Desse total, R$ 15,4 bilhões são da operação no Brasil e R$ 1,8 bilhão da Argentina. No Brasil, o crescimento foi de 16,4%, com R$ 8 bilhões no B2C (+2,1%) e R$ 7,46 bilhões no B2B (+37%). Ou seja, as vendas diretas e as via agências de viagens estão equilibradas, o que foi intensificado durante a pandemia.

A receita líquida foi de R$ 1,4 bilhão (+3,8%) e o EBITDA de R$ 405,3 milhões (-11,17%). O lucro líquido caiu 66,2%, chegando a R$ 46,8 milhões.

Ano ainda dentro do antigo normal, 2019 teve redução de 16,3% do EBITDA Normalizado, segundo a empresa “em função da pressão na margem, mas a Geração de Caixa Operacional atingiu R$260,7 milhões, em comparação com -R$78,0 milhões em 2018, principalmente por melhorias no capital de giro.

A CVC tinha 1.425 lojas exclusivas no final de 2019 (979 já estão reabertas) e 66 com a marca Experimento. Cerca de 12 mil agências de viagens independentes acessam a plataforma CVC.

A CVC Corp informou ainda que o balanço do primeiro trimestre do ano deverá ser feito até 30 de setembro.

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NOVA ESTRUTURA
Na apresentação do balanço, a CVC Corp faz questão de mostrar que é uma nova empresa, com nova estrutura e mais transparência. Em 2020 a companhia destacou as mudanças por que passou estruturalmente e organizacionalmente, com a chegada dos novos CFO, Maurício Montilha, e CEO, Leonel Andrade, além de todo o impacto causado pela pandemia de covid-19 (Andrade assumiu em 1º de abril, ainda no primeiro mês de quarentena no País por causa do novo coronavírus). A digitalização da empresa, a maior proximidade com o cliente em toda sua jornada e maior integração entre as unidades de negócios somam-se às medidas adotadas pelos novos gestores.

O novo formato do balanço, já apresentado na divulgação dos números não auditados no começo de agosto, divide a companhia em B2C, com as marcas que vendem diretamente ao consumidor final (CVC, CVC.com, Submarino Viagens, Almundo Brasil e Experimento); B2B, com vendas para as agências de viagens (Trend, VHC, Visual, Esferatur e RexturAdvance); e as Operações na Argentina.

Para capturar essas oportunidades a Companhia vem se preparando, reestruturando e reforçando o time:
Além das unidades de negócio B2B, B2C e Argentina, a CVC Corp, desde junho passado, também criou as áreas de Suporte a negócios e clientes; Produtos; Clientes (CRM, pricing e revenue management e qualidade); Desenvolvimento de Negócios; e as áreas corporativas (como Gente e Gestão, TI e Operações).

PLANO DE AÇÃO
Com a “casa arrumada”, a CVC Corp agora tem um plano de ação para o médio e curto prazos, baseado em “quatro grandes pilares, que buscam ter uma melhor, mais duradora e recorrente relação com o cliente; plataforma omnicanal que visa melhorar a experiência de compra e viagem, integrando os canais físico e on-line; maior eficiência e produtividade operacional; e a busca por novas oportunidades de geração de receitas.

Leonel Andrade diz aos acionistas que a retomada dos negócios está se iniciando pelo Turismo de lazer doméstico brasileiro, em função de restrições importantes para viagens a destinos internacionais, além das expectativas de retorno mais lento no curto prazo dos mercados de viagens executivas que têm como um dos principais motores as reuniões, feiras e convenções. “Além disso, acreditamos que os clientes estarão buscando empresas solidas e reconhecidas no mercado, e demandarão mais assistência neste cenário ainda de incertezas, e a CVC tem a maior rede de lojas do mercado, bem como parceiros em todos os destinos e inclusive colaboradores nos principais destinos para dar assistência, além do suporte centralizado 24 horas”.

Já na fase de reorganização e do novo plano de ação, a CVC Corp buscou um aumento de capital, concluído em R$ 295 milhões, em duas fases.

ERROS CONTÁBEIS E AVIANCA
As distorções contábeis encontradas em balanços anteriores e os impactos relacionados à crise da Avianca ganharam capítulo especial na apresentação do balanço.

A CVC Corp constatou “distorções na contabilização de valores transferidos aos fornecedores de serviços turísticos referentes às receitas próprias de tais fornecedores, em ajustes indevidos de margens na intermediação de serviços turísticos e em lançamentos sistêmicos incorretos não corrigidos adequadamente, os quais causaram um aumento das margens da empresa, inclusive em exercícios anteriores.

Os efeitos de tais distorções foram divulgadas ao mercado, por meio de fato relevante emitido em 7 de julho de 2020, com valores estimados, naquele momento, em aproximadamente R$ 350 milhões.

Depois de feita a apuração os valores chegaram a R$362 milhões:
1 - R$ 117 milhões referentes ao exercício de 2019, causando redução na receita líquida de R$ 97,5 milhões na controladora e R$ 111,8 milhões no consolidado e aumento da despesa de variação cambial de R$ 5,3 milhões na controladora e no consolidado. Essa redução, segundo o relatório, foi substancialmente causada por ajustes nas contas de adiantamentos a fornecedores e contratos a embarcar antecipados de pacotes turísticos.
2 - R$ 111,9 milhões foram alocados ao exercício de 2018, causando redução na receita líquida em R$ 97,7 milhões na controladora e R$ 104,0 milhões no consolidado e aumento da despesa de variação cambial R$ 7,9 milhões na controladora e no consolidado.
3 - R$ 133,4 milhões referentes a exercícios anteriores a 2018, causando redução do patrimônio líquido em 1º. janeiro de 2018 neste montante.

O impacto no lucro líquido da companhia dos ajustes acima indicados foi reduzido pelo lançamento de crédito referente à recuperação de impostos de renda e contribuição social que foram pagos indevidamente, estimados pela CVC Corp em aproximadamente R$ 44 milhões.

A CVC Corp concluiu que as distorções identificadas, abrangendo o período de 2015 a 2019, “resultaram de falhas materiais em seus controles internos”.

Quanto à Avianca Brasil, no quarto trimestre de 2019 houve um total de aproximadamente R$8,5 milhões de perdas e em 2020 a expectativa é que este valor não seja superior a R$ 15 milhões. Nos três primeiros trimestres de 2019 esse prejuízo havia sido de R$ 130 milhões. Ou seja, a quebra da empresa deixou uma conta de mais de R$ 150 milhões para a CVC Corp.

Divulgação CVC
Leonel Andrade, CEO da CVC Corp
Leonel Andrade, CEO da CVC Corp
PANDEMIA

Já falando sobre os resultados do primeiro trimestre, a CVC Corp destaca os impactos da pandemia de covid-19. A redução significativa nas operações da empresa e de suas controladas ao longo de 2020 e as perspectivas relacionadas à retomada das atividades do setor de Viagens e Turismo indicam impossibilidade de recuperação de certos ativos, levando à necessidade de registro de provisão para impairment no primeiro trimestre de 2020, em valor aproximado entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões, referentes a ativos intangíveis originados na aquisição de empresas, principalmente na Argentina.

A redução significativa das operações e consequente risco de continuidade operacional da companhia levaram à necessidade de registro de provisão para perda de créditos fiscais diferidos relativos a prejuízos acumulados e diferenças temporárias que, no atual cenário, dificilmente serão utilizados em um período razoável (embora possam ainda ser utilizados no futuro) no valor aproximado de R$ 335 milhões. Esta provisão poderá ser revertida a qualquer momento, em função da realização do aumento de capital mencionado e de que sejam assegurados novos financiamentos para fazer frente aos R$ 603 milhões de vencimentos de debêntures previstos para novembro 2020.

Os cancelamentos de viagens depois do início da pandemia totalizaram R$96 milhões até 30 de junho de 2020 e geraram perdas relativas a valores já pagos pela CVC e que não são recuperáveis (relacionados, por exemplo, a comissões e tarifas de cartões de crédito) de aproximadamente R$13 milhões. Adicionalmente, a CVC Corp incorreu em custos de aproximadamente R$3 milhões referentes à repatriação de passageiros durante a pandemia de covid-19.

Também houve um incremento da inadimplência de clientes no primeiro trimestre de 2020 que atualmente corresponde a R$72 milhões, relativos a saldos em aberto a receber de clientes e franquias, com baixa expectativa de recuperação. A empresa também destaca perdas relacionadas a contratos com fornecedores que contemplam créditos para utilização futura, originados a partir de pagamentos antecipados e que já foram efetuados (relativos, por exemplo, a hotéis, companhias aéreas e navios) de aproximadamente R$ 16 milhões.

A CVC Corp atualmente possui um saldo de aproximadamente R$380 milhões junto a companhias aéreas, referentes a bilhetes já pagos e que podem gerar perdas adicionais caso alguma empresa encerre suas operações sem honrar ou transferir estes bilhetes para outra empresa.

IMPACTO DA COVID-19
O impacto total esperado em função da covid-19 nos resultados da companhia será de aproximadamente R$950 milhões, dos quais R$846 milhões (ou 89% do total) não têm efeito caixa. Dos efeitos com impacto caixa R$16 milhões já ocorreram – tarifas já pagas e custo de repatriação de clientes; R$16 milhões em outras perdas o impacto deve ocorrer no longo prazo; e R$72 milhões devem ocorrer ainda em 2020 referentes ao aumento de inadimplência.

DÍVIDA
Em 5 de março de 2020, a CVC Corp concluiu uma operação de repactuação de dívida junto ao Citibank, onde o empréstimo existente em 31 de dezembro de 2019 no valor de US$ 77 milhões, com SWAP a 110% do CDI, teve um incremento de principal para USD 90 milhões, agora com SWAP a CDI + 1,5%, e o vencimento original prorrogado de junho de 2020, para pagamento em uma parcela de US$ 13 milhões em dezembro de 2022 e duas parcelas de US$ 38,5 milhões em junho de 2022 e 2023. “Tal operação contribuiu para uma entrada adicional de caixa imediata, bem como melhora do fluxo de caixa de curto prazo, com a prorrogação dos prazos de vencimento.”

BALANÇO AJUSTADO
Concluídos os trabalhos de auditoria, as demonstrações financeiras finais relativas a 2019 apresentaram variações em relação às informações divulgadas preliminarmente no começo de agosto.
1 - O lucro líquido do exercício de 2018 reduzido em R$ 11.820, principalmente por ajustes negativos na receita liquida de vendas R$4.938 e correções no cálculo das provisões de imposto de renda com incremento de R$5.922;
2 – O lucro líquido do exercício de 2019 reduzido em R$48.964 principalmente por ajustes negativos de R$ 51.400 na receita líquida de vendas devido a aumentos nas provisões de taxas de embarques em R$23.210, cancelamentos de contratos de R$9.499 e repasses a fornecedores de R$18.011; aumentos nas Despesas Gerais e Administrativas de R$ 14.424 em decorrência de ajustes nas provisões de encargos sociais e custos adicionais com auditoria externa; melhoria nos resultados financeiros em R$ 10.919 e impactos de R$6.428 de redução na provisão de imposto de renda e contribuição social relativos aos ajustes finais listados acima.

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