Filip Calixto   |   26/07/2023 14:03

Mediação on-line pode solucionar hiperjudicialização no setor aéreo

Excesso de processos contra companhias aéreas é um dos problemas atuais do segmento


succo/Pixabay
Há apenas no Brasil 164,2 mil processos judiciais envolvendo companhias aéreas
Há apenas no Brasil 164,2 mil processos judiciais envolvendo companhias aéreas

Dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) mostram que há atualmente mais de 164,2 mil processos judiciais envolvendo companhias aéreas no Brasil. O índice é considerado alto pelo setor e demonstra o quadro de hiperjudicialização nesse mercado, o que tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos. As principais queixas são relativas a atraso e cancelamento de voo, extravio de bagagem e overbooking, mas existem outros motivos. E para resolver parte deles, a mediação extrajudicial on-line pode ser uma alternativa viável.

"Muitas vezes a companhia aérea nem sabe que o cliente teve um problema, a ação judicial é o primeiro recurso de um cliente insatisfeito. Dessa maneira, as operadoras aéreas são surpreendidas com o processo, não tiveram a oportunidade de acolher a queixa para tentar uma solução dialogada", pondera a advogada, mediadora e diretora da Mediar Group, Mírian Queiroz. De acordo com a especialista, a maioria das ações que envolvem as companhias podem ser encerradas fora dos tribunais. "Hoje, temos um recurso moderno, célere e eficaz para finalizar disputas, que é a mediação extrajudicial on-line. A companhia aérea que busca evitar a escalada dos conflitos pode apostar no método autocompositivo", complementa.

A mediação defendida por Míriam é um processo no qual um mediador auxilia as partes envolvidas a chegarem a um acordo mutuamente satisfatório. Para isso, é utilizado o método autocompositivo, no qual as partes têm a oportunidade de discutir suas preocupações, interesses e necessidades, com o objetivo de encontrar soluções que atendam a todos.

"A mediação extrajudicial on-line não se trata apenas de uma alternativa para a finalização de controvérsias, estamos falando de uma mudança de cultura. No Brasil, a cultura do litígio está enraizada, as empresas são facilmente acionadas por problemas que não precisam ser apreciados por um juiz. Se há a possibilidade de solucionarmos disputas de maneira célere, econômica e moderna, por que as companhias aéreas vão deixar as ações tramitando anos no Poder Judiciário”, questiona a diretora da Mediar Group.

O procedimento oferece benefícios tanto para as companhias aéreas quanto para os passageiros. O método pode também reduzir o tempo e os custos envolvidos nos processos, além de aliviar a sobrecarga do Judiciário. "Além disso, o método adequado de resolução de conflitos permite que as partes tenham maior controle sobre o processo de resolução de disputas", explica Mírian.

Perdas para operadoras

Apesar de ser um mercado sólido, o excesso de judicialização contra as companhias aéreas pode representar significativas perdas para as operadoras. De acordo com a Iata, o Brasil é o país que mais registra processos contra empresas aéreas, 98,5% das ações judiciais em todo o mundo envolvem passageiros brasileiros.

A ferramenta da mediação extrajudicial on-line surge nesse contexto como uma solução para lidar com esse problema. O sistema judicial enfrenta várias falhas quando se trata de resolver disputas no setor aéreo. Uma das principais é o volume excessivo de processos, o que leva a atrasos consideráveis e congestiona os tribunais.

"Não são apenas os passageiros que buscam os tribunais para sanar uma disputa, há milhões de clientes de diversos setores buscando uma resposta para o problema. Temos um sistema de justiça comprometido, que atua da melhor maneira possível para atender as demandas da sociedade, mas é humanamente impossível responder em tempo hábil o grande volume de ações. O cenário é tão desafiador que pesquisas do CNJ revelam que para zerar o estoque de processos, os tribunais deveriam fazer uma pausa de dois anos. Temos os juízes mais produtivos do mundo, mas não é o suficiente. Por isso, é importante reforçarmos os benefícios da mediação e dos outros métodos autocompositivos como forma de encerrar disputas", aponta Mírian.

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