Karina Cedeño   |   18/11/2024 10:08

Qual é o segredo da Latam para ser líder de mercado no Brasil? CEO explica

Para Jerome Cadier, liderança é consequência das decisões corretas adotadas pela companhia aérea


PANROTAS / Emerson Souza
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

A Latam Airlines detém, no Brasil, 39,6% do tráfego de passageiros, liderando o mercado doméstico, segundo os dados mais recentes da Anac. Além disso, a companhia aérea registrou, no terceiro trimestre deste ano, lucro líquido de US$ 301 milhões, acumulando US$ 705 milhões de lucro entre janeiro e setembro de 2024.

O que explica os bons resultados e a dianteira em relação a outras companhias aéreas no País? “A liderança é uma consequência, e não um objetivo”, destaca o CEO da Latam, Jerome Cadier. Em entrevista ao canal CNN Money, ele contou quais são os fatores que fazem com que a aérea se destaque no mercado e os principais objetivos da empresa.

“A Latam chega nesse momento com muita saúde, muita força e isso é resultado de decisões tomadas na hora certa. Nós passamos por um processo muito duro na pandemia, mas a decisão de recorrer ao Chapter 11 no momento certo foi determinante, fez com que conseguíssemos reestruturar o balanço da companhia, reduzir os custos operacionais em um momento em que se voava pouco durante a pandemia. Também estamos investindo no produto e trazendo o passageiro corporativo de volta. Hoje, depois de dois anos da saída do Chapter 11, estamos entregando resultados que imaginávamos entregar em quatro ou cinco anos depois da saída. Então, adiantamos a curva de entrega de resultados e materializamos uma recuperação brilhante após a pandemia”

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Segundo o executivo, encarar o problema de forma imediata fez toda a diferença. “Entramos no Chapter 11 em 2020 sabendo que a crise seria longa e profunda. Mas em vez de postergar a solução, preferimos tratar o problema imediatamente e isso fez toda a diferença. Reestruturar a companhia em um momento em que o dólar está alto, não há aeronave no mercado e a demanda está muito forte é mais difícil do que naquele momento, no meio da pandemia, quando o fizemos", disse.

Crescer de forma rentável

PANROTAS / Emerson Souza
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

O CEO da Latam também destaca o fato de que a companhia aérea não quer 'crescer apenas por crescer'. Segundo ele, a companhia tomou a decisão de ter uma operação extremante eficiente, com uma gestão de custo muito agressiva. Além disso, queremos atrair o passageiro que nos traz a melhor receita.

"Esse passageiro é o corporativo, que decide viajar de última hora e tem necessidades de aeroportos, horários e algum tipo de produto. Por exemplo, a Latam lançou uma classe diferente em seus voos domésticos, que é a Premium Economy, com fileiras mais espaçosas para as pernas, e isso atrai o passageiro corporativo. Então, mantendo o custo baixo e tendo um produto que podemos segmentar, conseguimos melhorar as receitas, o que explica o fato de a Latam tem um bom guidance para esse final de ano e, quem sabe, para o próximo", disse ele.

“Nós investimos de maneira bastante ponderada sobre como e onde vamos crescer. Não adianta querer alcançar uma posição de mercado, mas perdendo dinheiro para isso. O objetivo é crescer com calma, de forma equilibrada, sendo ponderado em relação à colocação de capacidade e essa é a receita que estamos seguindo”

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Consolidação excessiva não é a saída

Fernando Leite/Inframerica
CEO destacou o potencial do mercado brasileiro e comentou a possibilidade de uma consolidação no País
CEO destacou o potencial do mercado brasileiro e comentou a possibilidade de uma consolidação no País

Jerome Cadier também destacou, em sua entrevista ao CNN Money, o potencial do mercado brasileiro e comentou a possibilidade de uma consolidação no País. “Quando olhamos o tamanho do setor, o mercado brasileiro é o quinto maior mercado doméstico no mundo. Além de ser bastante relevante, ele ainda pode crescer muito. Mas apesar de ser o quinto, se voa pouco no Brasil. Temos a expectativa de que o País possa transportar muito mais passageiros do que transporta hoje”, ressalta o executivo.

“Hoje temos três empresas aéreas com mais ou menos um terço do mercado cada uma, apesar de a Latam ser líder, mas é um mercado muito disputado. Neste contexto, é o grau de agressividade que importa, o grau de disputa pelo passageiro. Mesmo se, eventualmente, consideramos uma consolidação no Brasil, temos que entender como manter essa concorrência pelo passageiro. Quando se chega a consolidações de 80% em um aeroporto, por exemplo, o passageiro começa a não ter mais opções, e por isso temos que evitar a consolidação excessiva, que faz com haja apenas uma opção”

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Quais são os principais objetivos da Latam, segundo Jerome Cadier?

1. Continuar com o custo operacional muito baixo

"Sem ele, nada do que você fizer depois vai se sustentar ao longo do tempo. O nosso principal objetivo é que a companhia continue bastante eficiente, ocupe seus ativos e voe bastante, mas mantenha o custo operacional por passageiro transportado o mais baixo possível"

2. Continuar melhorando o produto

"Temos hoje um produto cuja satisfação avaliada pelo passageiro em pesquisas pós voo cresceu muito, e isso faz com que cada vez mais tenhamos passageiros fiéis, que fazem com que o nosso programa de fidelidade seja o maior na América do Sul. Hoje o Latam Pass é o sétimo maior do mundo, com 48 milhões de membros", conta.

3. Reduzir o impacto climático das operações aéreas no longo prazo

"Hoje dependemos de combustíveis fósseis que emitem gases de efeito estufa e precisamos encontrar cada vez mais alternativas de eficiência no consumo ou combustíveis alternativos, visando reduzir o impacto climático, para que ele seja cada vez menor"

Modernizar a frota para ser mais sustentável

PANROTAS / Emerson Souza
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

E por falar em sustentabilidade, a companhia aérea tem apostado na modernização de sua frota para reduzir o impacto ambiental. Para Cadier, quando falamos do combustível sustentável da aviação (SAF), não temos hoje a disponibilidade necessária, além de ser um combustível três vezes mais caro do que o combustível fóssil.

"Isso não cabe no orçamento das companhias aéreas e é preciso desenvolver combustíveis mais baratos e disponíveis. O SAF não vai ser a solução para todos os problemas. Por isso, apostamos na modernização de frota, com motores mais modernos que consomem de 25% a 30% menos combustível para fazer o mesmo trajeto, na mesma velocidade e tempo. Essas aeronaves são muito mais eficientes", destacou ele.

De que forma o dólar reflete nas receitas da companhia aérea?

Jerome Cadier afirma ser importante levar em conta a relevância do dólar, mas também a postura diferente de cada companhia aérea em relação à moeda, dada a natureza de cada negócio.

"Quando olhamos os custos de uma aérea, 60% a 70% estão diretamente expostos ao dólar. O custo sobe e isso se reflete no preço com o tempo. Hoje vemos que o dólar já está a R$ 5,80 e isso nos preocupa pela questão dos custos. Por outro lado, 60% da receita da Latam já vem em dólar, pela natureza de operação cargueira e internacional, que são muito fortes. Então, quando nos comparamos com outras companhias aéreas, vemos que elas são muito dependentes da moeda local em suas receitas e estão mais expostas à variação cambial do que a Latam"

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

Maior demanda do que oferta de aeronaves

Por fim, um assunto que não é novo, mas que é recorrente no setor de aviação brasileiro, é a maior demanda de aeronaves frente à baixa oferta.

"Vemos um mercado onde a demanda por aeronave é maior do que a oferta disponível. A Airbus e a Boeing passam por dificuldades para voltar a produzir o mesmo volume de aeronaves que produziam em 2018-2019. Há toda uma demanda que não foi atendida daqueles anos e as fabricantes ainda não voltaram àquele patamar de produção dos anos antes da pandemia"

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

De acordo com Cadier, os motores novos precisam de mais visitas às oficinas de manutenção. Antes levava de quatro a cinco anos pra fazer a reformulação total de um avião e hoje isso é feito a cada dois anos, o que faz com que haja mais necessidade de posições nas oficinas de manutenção (que não são muitas) no mundo.

"Se por um lado há a necessidade de colocar esse motores, por outro não há quem o faça, o que significa que várias aeronaves estão esperando motor e não estão voando. Com isso, temos menos aviões disponíveis e preços mais altos, porque tem a demanda do passageiro que não está sendo atendida pelas companhias que buscam aeronaves e não as encontram na quantidade que gostariam", concluiu o CEO da Latam.

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