Chapter 11 da Latam ajuda Gol a transmitir confiança ao mercado, diz CEO
Celso Ferrer também comenta a disputa judicial entre sua companhia e a concorrente no âmbito do Chapter 11
A Gol está investindo esforços em comunicar ao mercado que seu processo de Chapter 11 só vai fazer a aérea ser maior no futuro. O CEO da companhia, Celso Ferrer, tem discurso bem parecido com o adotado pelo CEO da Latam, Jerome Cadier, quando a sua empresa havia acionado o mesmo recurso judicial em Corte nos Estados Unidos. A mensagem é de que a decisão é dolorosa, mas depois de atravessá-la será possível notar uma transformação.
No entanto, Ferrer não precisa ser tão enfático como tinha de ser Cadier. A Gol tem em sua própria competidora um exemplo de que o Chapter 11 pode transformar o futuro de uma empresa aérea brasileira. "A experiência da Latam nos ajuda a mostrar ao mercado que o Chapter 11 é a melhor escolha", reconhece Celso Ferrer, em entrevista durante o Fórum PANROTAS, onde participou de painel com Cadier e John Rodgerson, o CEO da Azul Linhas Aéreas.
Ferrer mencionou também Aeromexico, Avianca e as três maiores companhias aéreas estadunidenses como referências aos benefícios do Chapter 11. "American Airlines, Delta e United só estão aonde estão hoje devido ao Chapter 11. A Gol fez tudo para evitar esse caminho, mas ao mesmo tempo temos muita segurança no processo, que é muito transparente. A segurança com que vamos poder negociar dívidas e passivos de maneira construtiva, olhando para frente e podendo receber capital é toda muito positiva. Insisto que isso não é uma Recuperação Judicial no Brasil, acontece na corte americana de maneira muito organizada", completou.
Ele reforça que a Gol, desde seu primeiro dia no processo, arrecadou importante capital e está provando sua continuidade operacional com anúncio de novas aeronaves, novas rotas e manutenção da empresa, sem impactos.
Supostos assédios de Azul e Latam à Gol
Se por um lado a Latam, indiretamente, com seu "case" no Chapter 11, ajuda a Gol a ter um voto de confiança do mercado, por outro lado as aéreas podem ter disputa jurídica. No âmbito do Chapter 11 da Gol, a empresa conseguiu da justiça americana uma autorização para investigar se a Latam tentou se aproveitar para contratar seus pilotos e comprar seus Boeings.
"Fizemos o que penso ser correto", responde o CEO da Gol. "À medida em que tomamos conhecimento e tivemos acesso às evidências, levamos o caso à Corte. Há um processo de investigação sendo conduzido pela Corte. Confiamos no departamento jurídico da Gol", acrescenta Ferrer.
Já em relação à suposta manobra da Azul para comprar a Gol, Ferrer não teceu comentários. "Não chegou nada para nós. Tive a informação por meio de artigo de jornal, portanto não tenho condição de ponderar." Na terça-feira (5), um dia antes desta entrevista ser realizada, a Bloomberg publicou informação de que a Azul estaria planejando a aquisição da concorrente.
Relação da Gol com o governo federal
Celso Ferrer também comentou sobre a relação da Gol com o governo federal quando perguntado sobre o pacote anunciado pelo ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, para apoio às companhias aéreas, que pode ser de R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões.
"Conseguimos mobilizar o governo desde o primeiro dia desta nova gestão. E eles entenderam que entramos em um ano de recuperação importante na aviação. Entendem o quanto está difícil operar no Brasil com um custo de capital tão alto e pouco acesso a crédito, o alto custo do combustível de aviação e a questão da judicialização, que não existe em lugar nenhum do mundo", afirmou.
"Estamos conseguindo mobilizar o governo em relação às nossas necessidades, mas as coisas podem não andar tão rapidamente pois a aviação é transversal e envolve muitas pastas. Nós, como companhia aérea, não podemos perder o timing, por isso nenhuma estratégia da Gol leva em consideração ajuda de governo", conclui Ferrer.