Artur Luiz Andrade   |   24/05/2021 21:03
Atualizada em 24/05/2021 21:13

Latam recontrata 750 tripulantes e prevê quase 100% da oferta doméstica

Malha está mais voltada ao turista e empresa espera chegar a dezembro com 120 aeronaves


PANROTAS / Filip Calixto
Jerome Cadier, CEO da Latam Airlines Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Airlines Brasil
A Latam Airlines Brasil se prepara para aumentar a oferta de voos domésticos, acompanhando a retomada da economia, mesmo que, na avaliação da empresa, “ainda em um patamar abaixo do nível pré-pandemia”. Os sinais de recuperação vêm do aumento da procura por viagens aéreas dentro do Brasil. A companhia acredita que com a aceleração da vacinação no País, esses sinais ficarão mais evidentes.

A estimativa da Latam é chegar a dezembro deste ano com 90% da malha pré-pandemia reativada. A empresa está operando, em maio, 49% do que operava no mesmo mês em 2019, com 250 voos por dia. Em abril, a companhia operou 38% do pré-pandemia. A previsão para junho é chegar a 60% do pré-pandemia, com 340 voos/dia e para julho é alcançar 400 voos por dia.

Com esse aquecimento, a empresa prevê a recontratação de 750 pilotos e comissários, já a partir de amanhã, para acompanhar a retomada gradual da oferta. No ano passado, a companhia desligou 2,7 mil colaboradores por conta da redução da demanda. Adicionalmente, estão chegando ao Brasil sete Airbus A320 para fortalecer a malha doméstica. A Latam também anunciou, por conta desse cenário, o fim do codeshare com a Azul Linhas Aéreas, em 90 dias.

O Portal PANROTAS conversou agora à noite com o CEO da Latam Airlines Brasil, Jerome Cadier, que detalhou a retomada de voos e vendas, a volta aos destinos do Nordeste e como anda o processo de recuperação judicial da companhia.

MALHA ATÉ FIM DO ANO
PORTAL PANROTAS – De onde vêm os sinais de recuperação na venda de passagens da Latam?
JEROME CADIER – Depois de um fevereiro e março ruins, na metade de abril já começamos a sentir esses sinais, com a diminuição do no-show, o aumento da ocupação, a procura por voos tanto a curto quanto a longo prazo e com a vacinação aumentando no País.

PANROTAS – É uma retomada essencialmente no lazer?
JEROME – Sim. O corporativo ainda não dá sinais de recuperação. O viajante que tem procurado passagens está olhando para o segundo semestre e a lazer. E também as notícias internacionais, como a Espanha aceitando vacinados e os Estados Unidos com vacinação acelerada, também têm sinalizado que o brasileiro já pode começar a voltar a planejar.

PANROTAS – Você acredita em um boom?
JEROME – No doméstico, acredito em algo gradual e a gente vai acompanhando a demanda, pois temos flexibilidade com a nossa frota. No internacional, pode haver sim um boom para Europa e Estados Unidos. Na América do Sul, acho que os países sairão da pandemia meio que juntos com o Brasil.

PANROTAS – E Cancún está confirmado para junho?
JEROME – Sim. Vimos a procura pelo México crescer muito e aumentamos o São Paulo-Cidade do México para 5 voos por semana. E decidimos pela volta do São Paulo-Cancún, duas vezes por semana, um voo 100% lazer (a volta está marcada para 4 de junho).

PANROTAS – Você disse que a malha de Guarulhos já contempla todos os destinos pré-pandemia, mas o quanto essa malha mudou, tendo em vista que o lazer está mais forte que o corporativo?
JEROME – Sim, é uma malha diferente, mais turística e vai ser balanceada por um tempo. Nossa malha era focada no passageiro de negócios (que representavam 30% dos clientes e mais de 50% das vendas) e agora é um mix.

PANROTAS – Cabem novos destinos nessa nova malha turística?
JEROME – Sim. Estamos nos reunindo para decidir pelo menos cinco novos destinos. Mas não tenho como adiantar ainda.

PANROTAS – Nem a região?
JEROME – Ah, sim. Com certeza serão mais para o Nordeste.

PANROTAS – Nordeste onde a Latam pensou em ter um hub há alguns anos...
JEROME – Sim, mas para voltarmos com esses planos é preciso que diversas coisas aconteçam, mas elas não ocorrerão nos próximos dois ou três anos. Portanto, vamos crescer de forma mais distribuída em todo o Nordeste.

PANROTAS – Para quantos destinos a Latam voa atualmente?
JEROME – 44 e devemos chegar ao final do ano com 50. Já estamos operando todos os destinos que operávamos na pré-pandemia a partir do Aeroporto Internacional de Guarulhos e estamos voltando com algumas rotas a partir de Congonhas.

Divulgação
MIX DE CANAIS

PANROTAS – Como a queda forte do corporativo afetou seu mix de canais de distribuição?
JEROME – O canal indireto sempre foi muito importante para a Latam, mas ainda não voltou, especialmente por conta do corporativo (e pelo internacional repleto de restrições). Com isso, o canal direto cresceu frente ao indireto, e as mudanças que fizemos no site aumentaram a satisfação do cliente na compra. Alcançamos índices que nunca tivemos. Esperamos que o canal indireto cresça nos próximos meses, mas corporativo, operadoras, OTAs... ainda não estão respondendo bem.

PANROTAS – As vendas acompanham a recuperação dos voos?
JEROME – Sim. Quando falamos em 49%, é em ASK (capacidade em assento por quilômetro) e as vendas estão em níveis parecidos, com a ocupação se mantendo alta. O volume de passageiros e negócios está parecido e temos de manter essa ocupação alta.

PANROTAS – A Latam precisou cortar condições do canal indireto nessa reestruturação?
JEROME – Decidimos mudar pouca coisa e manter as condições dos players, que já estavam sofrendo muito com a diminuição das vendas. Dependemos bastante dessa canal e esperamos uma recuperação nos próximos meses.

NOVO PLAYER
PANROTAS – Como você vê a entrada de mais um player, a ITA Transportes Aéreos, do Grupo Itapemirim?
JEROME – Com curiosidade e apreensão. Curiosidade pela proposta, diferente e que se aproxima do que a Avianca Brasil tinha no mercado. E apreensão, pois temos de ver se há espaço para essa quarta empresa e se isso pode acarretar uma diminuição de tarifas (por parte da ITA). Mas o mercado de aviação sempre foi muito aberto, tínhamos quatro grandes empresas há até pouco tempo, mas uma delas quebrou. É um mercado aberto, mas muito duro, muito difícil.


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Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

CHAPTER 11

PANROTAS – O plano de sair do Chapter 11 (Recuperação Judicial) neste ano continua?
JEROME – Sim. Foi o prazo que nos propusemos e mantemos ele. Em junho e julho haverá a discussão sobre o plano de negócios e dependendo da evolução dessa análise pode atrasar um ou dois meses, mas não vemos isso como um problema.

EMPRESA MAIS FLEXÍVEL E FROTA
PANROTAS – As mudanças recentes na Latam, como a internalização do Multiplus, criando o Latam Pass, a reestruturação comercial e o investimento em uma nova plataforma de tecnologia, saíram como você planejou, mesmo em plena pandemia?
JEROME – O Multiplus conseguimos internalizar ainda em 2019, mas todas as demais mudanças visavam à redução e custo e à flexibilidade diante das incertezas do mercado. O pensamento foi: os passageiros estão mais sensíveis a preço, o corporativo vai diminuir em quantidade de viagens e teremos mais capacidade que passageiros. Precisávamos ser mais flexíveis. Por isso optamos também pela terceirização de todo nosso ground handling (a Latam ficou com serviços de terra próprios apenas em Congonhas, Santos Dumont e Brasília), pelo investimento no atendimento remoto, pela melhora na digitalização da empresa. A renegociação de frota também foi intensa. Tiramos o A350 do internacional para operarmos apenas Boeing (777 e 787) e buscamos custos menos de leasing. Hoje operamos 100 narrow bodies no doméstico, já anunciamos a chegada de mais sete, sendo três A320 neo e quatro A320 ceo. Vamos precisar de mais aeronaves para o quarto trimestre e prevejo fechar o ano com mais de 120 aviões.

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