Da Redação   |   19/05/2020 20:28
Atualizada em 20/05/2020 11:19

Presidentes de Azul, Gol e Latam pedem redução de impostos e custos

Executivos das três aéreas nacionais discutem o cenário do setor no pós covid-19


Divulgação
John Rodgerson, da Azul, Paulo Kakinoff, da Gol, e Jerome Cadier, da Latam Brasil
John Rodgerson, da Azul, Paulo Kakinoff, da Gol, e Jerome Cadier, da Latam Brasil

Com uma demanda pífia de passageiros voando dentro do Brasil nos últimos dois meses, as companhias aéreas Azul, Gol e Latam deixaram um pouco de lado a concorrência e se uniram para pedir maior flexibilização para a indústria. John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas, Paulo Kakinoff, CEO da Gol, e Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, além do diretor presidente da Anac, Juliano Noman, foram os convidados da live desta semana do banco de investimentos BTG Pactual. Segundo os três executivos, sem uma revisão de processos e custos a retomada do mercado poderá ser diretamente impactada no cenário pós-pandemia.

Rodgerson, da Azul, relembrou a “disputa” travada com suas concorrentes – Gol e Latam – pelos slots em Congonhas, e disse que aquele momento nada lembra o atual cenário. “Foi muito mais divertido brigar pelos horários de pousos e decolagens em São Paulo do que enfrentar uma pandemia. Não estamos uma contra as outras, estamos juntas em prol do setor. Nenhuma aeronave do mundo tem valor no dia de hoje. Agora é hora de nos unir para salvar a indústria”, disse o CEO da Azul.

Cadier voltou a dizer que, em sua opinião, a retomada acontecerá em dois momentos: primeiro a volta das viagens domésticas de curta duração e depois o retorno dos voos internacionais. Ele também defendeu a flexibilização e disse que ela precisa acontecer em toda a cadeia, dos lessores de aeronaves às agências de viagens. “Nós estamos fazendo a nossa parte, dando flexibilidade aos passageiros de remarcar sem nenhum custo, de postergar sua viagem para o ano que vem. Mas também precisamos encontrar essa flexibilização junto com nossos parceiros e fornecedores, rever custos e otimizar o que for possível”, destacou o presidente da Latam Brasil.

Ele citou como fatores que trazem ineficiência à aviação do Brasil o fato de ter um dos combustíveis mais caros do mundo, custos de navegação caros, se comparados com países concorrentes da América do Sul, e altíssimos custos com legislação trabalhista. “Para olharmos para o futuro, precisamos ver a dimensão da flexibilidade que teremos para oferecer um setor ainda mais forte”.

MENOS INTERAÇAO E MAIS DIGITALIZAÇÃO
Para o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, a atual crise vai trazer tendências que já estavam acontecendo, só que agora em uma velocidade muito maior. “Antes da pandemia, cerca de 70% dos passageiros embarcavam em um avião sem nenhuma interação humana. A perspectiva a partir de agora é que esse número salte para 90%”, exemplificou o executivo. Com isso, cada companhia poderá revisar seus custos com balcões de check-in e funcionários e redirecioná-los para novos projetos tecnológicos.

Kakinoff, assim como Cadier, também acredita em uma retomada mais lenta, e diz que a aviação ficará mais cara à medida que novas medidas de segurança sejam adotadas. “Quando tivermos uma vacina ou algum tipo de imunização, as medidas implementadas hoje poderão ser deixadas de lado. As pessoas não precisarão viajar de máscaras para sempre.”

Os executivos das aéreas participarem de live junto com Lucas Marquiori, do BTG Pactual, e Juliano Nonan, da Anac
Os executivos das aéreas participarem de live junto com Lucas Marquiori, do BTG Pactual, e Juliano Nonan, da Anac

MERCADO REGIONAL CRESCERÁ?
Na avaliação de Rodgerson, é bem possível que sim. Mas ele voltou a dizer que isso só será possível quando o Brasil e seus impostos estiverem “mais flexíveis” às empresas. “Esse mercado era muito pequeno antes da pandemia, por isso acredito que podemos crescer bastante. Por isso pedimos uma redução nos impostos. Não adianta abrir o mercado para o capital estrangeiro se continuamos com os mesmos impostos de antigamente. Por que ninguém entrou com capital quando a Avianca Brasil quebrou? Porque é caro voar no Brasil”, ressaltou.
“É uma vergonha a Colômbia ter mais passageiros por habitantes do que o Brasil. Muitos brasileiros conhecem o interior da França, mas não conhecem Foz do Iguaçu.”

TARIFAS, CARGAS E SEGURANÇA
Questionado por Lucas Marquiori, do BTG, se já uma previsão de como será a tarifa do bilhete aéreo no pós-pandemia, o presidente da Latam Brasil optou pela cautela. “Eu tento evitar porque é bem capaz de eu errar qualquer previsão. No curto prazo, o preço vai depender da capacidade, da volta da venda, do retorno das viagens. Já no longo prazo, teremos que ter as dimensões dos nossos custos com a disparada do dólar, lembrando que muitos dos nossos contratos são feitos em dólares. Mas o que eu posso garantir é que queremos uma tarifa que convide o passageiro a voltar a voar”

Rodgerson disse que a Azul já converteu diversas aeronaves de passageiros em aviões cargueiros para atender a alta demanda de carga nos últimos dias. “As pessoas estão trancadas em suas casas e estão comprando. Elas precisam receber suas compras, documentos, artefatos...Continuaremos investindo em logística, já que as nossas rodovias não têm a capacidade de tráfego que os nossos aviões possuem”, disse.

Por fim, o presidente da Gol, empresa que hoje anunciou um aumento de 47% no número de voos para junho, mostrou otimismo e disse que não acredita em um mundo muito diferente do qual já conhecíamos. “Os processos são temporários e transitórios. Os clientes estão colaborando, novas tecnologias estão sendo implantadas de forma muto mais rápida. Teremos uma indústria com um nível de eficiência muito melhor do que tínhamos antes da crise”, concluiu.

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