Ministro do Turismo argentino se diz a favor da desregulamentação das agências de viagens
Daniel Scioli incentiva o investimento privado e também fala de sobrepreços em passeios turísticos no país

Um ano após assumir o cargo, Daniel Scioli, ministro do Turismo da Argentina, afirma, em entrevista dada ao Ladevi (mídia parceira da PANROTAS na Argentina) que o Turismo do país atravessa uma etapa de transformação sob o novo esquema econômico do governo de Javier Milei e se diz a favor da desregulamentação das agências de viagens.
Para ele, desregulamentar ainda mais o setor resultaria em melhorias na competitividade e na eficiência da oferta turística e o ministro argentino afirma que o avanço da tecnologia e da inteligência artificial permite que qualquer pessoa monte seu próprio roteiro, compare preços e encontre as melhores opções, sem a necessidade de recorrer a agências tradicionais, prevendo um novo paradigma na comercialização turística.
"A tecnologia está mudando a forma como as pessoas viajam e a Argentina não pode ficar para trás", afirmou ao Ladevi, para depois acrescentar: "Devemos pensar em um sistema mais eficiente e transparente, onde o usuário possa acessar diretamente os serviços sem sobrecustos desnecessários e possa ter um controle total sobre sua experiência de viagem".
No entanto, ressaltou que não se trata de eliminar as agências, mas sim de que elas precisam se reinventar em um mercado cada vez mais digitalizado. "A chave está na inovação e em oferecer um valor agregado que justifique sua presença na cadeia de comercialização", explica.
"É necessário que as empresas façam um esforço para se adequar à nova realidade, que otimizem suas estruturas e analisem margens de rentabilidade de acordo com o modelo econômico", afirma: "Não se trata de cobrar preços exorbitantes na alta temporada, mas de fazer com que o Turismo seja sustentável o ano todo". Sendo a pressão tributária uma das principais reclamações dos empresários, Scioli garantiu que o governo avalia alternativas para aliviar a pressão fiscal sem comprometer o equilíbrio das contas públicas.
Incentivo ao investimento privado
Com um modelo baseado na redução do gasto público e no incentivo ao investimento privado, Scioli reconhece os desafios e as oportunidades que o setor enfrenta. Nesse contexto, aposta em uma estratégia como foco na eficiência e na competitividade e também na necessidade de o setor privado investir e apostar no novo cenário. "O Turismo, enquanto atividade econômica, não pode depender de subsídios nem da burocracia estatal", declarou o ministro, para ressaltar que a aposta do governo argentino é gerar condições para que o investimento privado flua e o mercado se autorregule, sempre com um marco de previsibilidade e transparência.
Turismo sob os olhos de Javier Milei
Scioli destacou a importância que o presidente Javier Milei atribui ao Turismo e disse que o considera um motor da economia nacional. "Milei confia no setor privado como o verdadeiro impulsionador do crescimento turístico no país", afirma, para explicar que a visão libertária contempla o setor não apenas como um gerador de emprego, mas também de divisas genuínas. "Há uma decisão clara de potencializar o Turismo, fazê-lo crescer com regras claras e previsíveis", manifestou, e continuou: "Reduzindo a carga tributária, este cenário é propício para atrair investimentos estrangeiros".
Sobrepreços em passeios turísticos guiados
Alertado pelos altos custos que os turistas enfrentam ao contratar serviços de guia na Argentina, o ministro foi contundente: "Não pode ser que haja excursões que custem US$ 400 dólares. Isso espanta os turistas e afeta a competitividade do setor". Na mesma linha, e sustentando que essa preocupação é compartilhada pelos agentes de viagens, lembrou que em outros países a regulamentação dos guias é mais flexível, o que permite uma maior oferta de serviços a diferentes preços. No entanto, destacou que, no caso de passeios guiados que impliquem risco, as regulamentações atuais serão mantidas.
Não há dinheiro para o Inprotur, a FIT e as rodadas de negócios
"O Estado não pagará cifras milionárias em promoção. Não há dinheiro", explica Scioli, para esclarecer: "Em 2024, desembolsamos uma grande soma de dinheiro para a Feira Internacional de Turismo (FIT), mas baixaremos o orçamento para este ano. Não apenas não ajustaremos os montantes pela inflação, mas também não poderemos aportar os US$ 200 milhões investidos no ano passado".
Em linha com a política de austeridade e como estratégia de otimização dos recursos, adiantou que o estande da SecTur integrará a proposta dos Parques Nacionais. No entanto, enfatizou que a FIT continua sendo uma plataforma fundamental para a promoção do país, mas reitera que seu financiamento deve se ajustar à realidade econômica atual. "O setor privado deverá se envolver mais ativamente na organização e na manutenção do evento, sem comprometer recursos estatais em magnitudes anteriores", sublinhou, completando depois: "Estamos trabalhando junto à Faevyt (Federação Argentina de Associações de Empresas de Viagens e Turismo) para que mais organismos e empresas se envolvam".
Por outro lado, e em sintonia com o ajuste orçamentário, Scioli vê com bons olhos que as rodadas de negócios da FIT organizadas pelo Inprotur e CAT sejam financiadas unicamente pelo setor privado. Quanto ao futuro do Inprotur, comentou que o órgão experimenta uma reorganização em sua estrutura e financiamento. Essa medida responde, explicou, à necessidade de otimizar os fundos disponíveis e focá-los nos mercados estratégicos que realmente tragam uma maior entrada de divisas para o país.
Turismo emissivo em alta
Com um Turismo emissivo em alta, Scioli rejeitou a composição da conta "Turismo" no Mercado Único de Câmbio Livre argentino: garantiu que a indústria não é responsável por grande parte do déficit comercial deste item e adiantou que se reunirá com autoridades do Banco Central para corrigir a medição.
Quanto ao receptivo internacional, reconheceu que o segmento enfrenta um momento desafiador. "As chegadas internacionais caíram, mas este segmento não se trata de quantidade, mas de qualidade. Hoje, nossa estratégia está orientada a captar turistas que gastem mais, trazendo divisas para a economia", pontuou.
A respeito, detalhou que reforçarão as campanhas digitais nos Estados Unidos, Europa e Ásia. A prioridade é captar visitantes que escolham estadas mais prolongadas. "Estamos trabalhando para consolidar a Argentina como um destino de luxo e com experiências exclusivas", mencionou.
"Aerolíneas Argentinas já não é um monopólio"
Destacando as políticas de céus abertos, Scioli está otimista com a atualidade do setor aéreo. "Há concorrência, o que permite maior oferta e melhores preços", garantiu, para destacar que há gestões para que a Qatar Airways volte a operar no país. Elogiou a gestão de Fabián Lombardo à frente da companhia e indicou que seu saneamento faz parte de um plano nacional para convertê-la em uma empresa atraente para os investidores.
Administração das Unidades Turísticas
O governo avança na busca de operadores privados que administrem as Unidades Turísticas de Chapadmalal e Embalse. Os complexos serão administrados pela Agência de Administração de Bens do Estado (AABE), e o ministro admitiu que está sendo buscada uma forma de tornar sustentável o Turismo social, mas sem que haja necessidade de destinar milhões de pesos em manutenção.
"Antes, o Estado tinha que pagar milhares de pesos por cada estada, e essa não é uma estrutura eficiente. Precisamos de uma administração que garanta que os setores mais vulneráveis continuem tendo acesso a essas férias com tarifas econômicas, mas sem subsídios estatais diretos", concluiu.
Demissões no Turismo
"Sabemos que há uma nova realidade econômica que nos obriga a revisar estruturas, mas a chave é fazer isso sem afetar a atividade nem a geração de emprego produtivo", afirmou, para revelar que seu enfoque está em encontrar um equilíbrio. "Não podemos sustentar estruturas superdimensionadas, mas tampouco podemos permitir que o Turismo sofra um golpe que o enfraqueça", explicou, para acrescentar: "A redução do gasto público é uma prioridade, mas deve ser feita com inteligência e critérios estratégicos. Trata-se de otimizar, não de destruir".
ONU Turismo: eleições e escritório na Argentina
O ministro do Turismo da Argentina confirmou que haverá um escritório da ONU Turismo no país e explicou que será uma Diretoria de Inovação Tecnológica. Este espaço, que funcionará como uma dependência a mais dentro do Inprotur, não terá status diplomático, "nem gastos desnecessários ou estruturas burocráticas que não agreguem valor".
Entre os possíveis responsáveis, Scioli disse que "não lhe consta" que Yanina Martínez esteja sendo cotada. Consultado sobre seu recente encontro com Gloria Guevara Manzo, que busca consolidar apoios para a eleição na ONU Turismo, comentou que ouviram todas as propostas, mas lembrou que a Argentina tem uma relação consolidada com Zurab Pololikashvili, atual secretário-geral do organismo.
"Sua gestão tem sido fundamental para nosso país em matéria de promoção e posicionamento internacional", sustentou, para ressaltar: "A Argentina deve muito à atual condução, em termos de visibilidade, apoio técnico e acompanhamento em momentos-chave. Não podemos desconhecer esse trabalho nem os vínculos que construímos ao longo desses anos". No entanto, Scioli assinalou que o respaldo oficial será definido no dia da votação.