Beatrice Teizen   |   08/09/2023 09:11
Atualizada em 08/09/2023 11:03

123 Milhas: passagens foram suspensas porque preços não seguiram previsões

Sócios acreditava que mercado de aviação fosse se recuperando, com o tempo, dos efeitos da pandemia

Câmara dos Deputados/Bruno Spada
Ramiro Júlio Soares Madureira, sócio e administrador da 123 Milhas
Ramiro Júlio Soares Madureira, sócio e administrador da 123 Milhas

Um dos donos da 123 Milhas, Ramiro Madureira, disse nesta quarta-feira (6) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras que a empresa teve de suspender a emissão de passagens aéreas da linha promocional, iniciada em abril de 2022, porque os preços das passagens não se comportaram conforme o previsto. Ele afirmou também que o produto dependia de um fluxo de novas compras no site, que teria sido menor que o esperado.

“Acreditávamos que o custo do 'promo' diminuiria com o tempo, à medida que ganhávamos eficiência na tecnologia de sua operação e que o mercado de aviação fosse se recuperando dos efeitos da pandemia. Uma tendência que projetamos à época e que se revelou precisamente o oposto", declarou. "Ao contrário do que prevíamos, o mercado tem se comportado permanentemente como se estivesse em alta temporada. E isso abalou os fundamentos não só do 'promo' quanto de toda a 123 Milhas.”

Os advogados do empresário fizeram questão de esclarecer que a dependência de novas receitas não estaria ligada à linha promocional, mas aos demais produtos vendidos. A audiência ouviu 10 pessoas em seis blocos durante quase 16 horas.

Ramiro Madureira disse que confia na continuidade da empresa, que agora está em recuperação judicial. Segundo ele, é preciso que a 123 Milhas continue funcionando para que os 150 mil consumidores que viajariam agora em 2023 sejam ressarcidos dentro do plano de recuperação, que será discutido com os credores. Ele afirmou que quem comprou passagens para 2024 também estará incluído no plano, mas que ainda não sabe quantos são.

Compensação aos clientes

Na semana que vem, segundo o empresário, será feita uma reunião com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) do Ministério da Justiça para negociar um acordo para a compensação dos clientes.

Ele informou que deverão ser organizadas prioridades para clientes que precisam viajar por problemas de saúde, por exemplo. Ramiro Madureira disse ainda que devem ser feitas mais demissões nas empresas do grupo. A 123 Milhas teria hoje 1.300 funcionários, e foram demitidos cerca de 400 na crise atual.

A empresa suspendeu a venda de passagens e pacotes da linha promocional em 18 de agosto e disse que compensaria os clientes com vouchers. Com a reação negativa de consumidores e autoridades públicas – além de movimentos de antecipação de créditos por parte de bancos e outros financiadores – a empresa, segundo Ramiro, resolveu pedir a recuperação judicial para manter o negócio.

Compra de milhas

O presidente da CPI, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), quis saber por que clientes que venderam milhas para a empresa através da Hotmilhas (uma associada do grupo) também não receberam pela transação. Isso porque Ramiro afirmou que a empresa apenas fazia a intermediação entre quem vendia e quem comprava milhas.

O empresário não teria respondido à pergunta diretamente e acabou sendo orientado pelo advogado a deixar de responder, com base em habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O instrumento dá ao depoente o direito de não responder nada que o incrimine.

Também em depoimento na CPI, a dona da Hotmilhas, Tânia Madureira, disse que a empresa tem um estoque de cerca de 500 milhões de milhas não utilizadas de 15 mil pessoas. A ideia é negociar a devolução disso durante a recuperação judicial.

O relator da CPI, deputado Ricardo Silva (PSD-SP), mostrou várias promoções da 123 Milhas, como passagens para Nova York ida e volta a R$ 1.089, e questionou se os sócios da empresa teriam lucrado com isso. Ramiro, por orientação do advogado, também ficou em silêncio.

Mais tarde, ele respondeu que esses preços eram “exceções”. “Aquilo ali era pontual. De forma geral, do preço que nós pegávamos da nossa tabela de dados, que a gente via como estava o comportamento do preço, nós abaixávamos dentro da curva. Achávamos que veríamos a janela de oportunidade de emissão, de 20% a 35% abaixo do que foi vendido”, disse Ramiro Madureira.

O empresário explicou que, pela sua experiência, a janela para emissão de passagens mais baratas ocorria entre 30 e 45 dias antes da viagem.

Maxmilhas

Em outro bloco de depoimento, o fundador da Maxmilhas, Max Oliveira, esclareceu que vendeu a empresa para a Novum, que também controla a 123 Milhas, em 2022. Ele declarou que hoje é apenas diretor-executivo da Maxmilhas em um contrato de prestação de serviços.

Segundo ele, a empresa teve reflexos da crise da 123 Milhas, mas opera de forma independente e pretende cumprir suas obrigações.


DA AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS

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