Empresários do Turismo brasileiro subestimam seu poder, diz especialista
Para Mariana Aldrigui, da Embratur, indústria poderia ter muito mais conquistas com união e pressão
KIGALI (RUANDA) - O WTTC, Conselho Mundial de Viagens e Turismo, é o principal defensor da colaboração entre os setores público e privado como solução para os maiores problemas da indústria no mundo. Crises climáticas, sanitárias, overtourism, concentração de renda... Na visão da entidade, o diálogo entre empresas e governos é essencial para a evolução desta que é uma das indústrias mais diversas e representativas na economia e na empregabilidade.
E no Brasil, quão sincronizados estão os setores público e privado quando o assunto é Viagens e Turismo? Infelizmente, pouco. Este seria um resumo de duas palavras para a visão dada pela gerente de Informação e Inteligência de Dados da Embratur, Mariana Aldrigui, em entrevista ao Portal PANROTAS durante o 23º Global Summit do WTTC, realizado em Ruanda, na África.
A acadêmica, uma das grandes estudiosas atuais do Turismo brasileiro, acredita que o nosso empresariado ainda é muito inconsciente do seu poder de influência, isto é, do que pode conseguir em termos de pressões políticas.
"O WTTC aponta que a indústria de Viagens e Turismo representa em média 10% do PIB e dos empregos no mundo todo. Se de fato essa média se aplica no Brasil, e eu realmente acredito que sim, o setor privado tem muita força de influência junto a assembleias legislativas, Câmara e Senado, afinal, quem gera empregos são os empresários. Mas no Brasil ficamos na esperança eterna de que o governo aja, sendo que na verdade o governo pode ser pautado, como acontece nos setores de agricultura, indústria e comércio. Como grupo empresarial somos muito tímidos", pondera Mariana Aldrigui.
"Concordo plenamente quando o editor-chefe e CCO da PANROTAS, Artur Luiz Andrade, alerta durante a Abav Expo: onde já se viu o setor privado agradecer pela recepção do ministro do Turismo a entidades do setor? Ele tem a obrigação de estar lá. Então, para além de buscarmos uma maior ativação intrassetorial, o Turismo tem de juntar seus objetivos, muitas vezes tão pulverizados, e fazer uma pressão única junto aos órgãos públicos. Aéreo, terrestre, hotelaria, seguros, eventos, destinos, lazer, corporativo, todos juntos", completa ela.
A recomendação do WTTC é o uso de exemplos bem sucedidos de movimentos público-privados em outros países para que se chegue mais rapidamente em proposições. Questionada sobre o que poderia ser aplicado no Turismo do Brasil no atual cenário, Mariana aponta a questão dos vistos.
"Se a eliminação da reciprocidade dos vistos para Estados Unidos, Canadá e Austrália não foi possível, muito disso foi por falta de força do setor privado em dar justificativas necessárias para a manutenção da isenção de vistos. Os argumentos em relação à reciprocidade e o peso da história diplomática do Brasil conseguiram ser mais consistentes do que os da indústria", lamenta ela.
"Estamos agora em uma situação em que visto voltará a ser exigido, ainda que haja uma sinalização global contra a imposição dessa barreira. O próprio ministro sul-africano disse aqui em Kigali que facilitar vistos é sinônimo de mais receita dos turistas estrangeiros. Agora, o que poderia ser feito ao menos é uma facilitação para que a emissão do visto brasileiro seja barata, simples e fluida. Quem não se sente mal por ficar horas na fila de um consulado e pagar caro para obter um visto?", questiona Mariana.
Um dos exemplos de união efetiva no Turismo brasileiro foi o G20+. Entretanto, a formação do grupo foi motivada pela situação de extrema urgência que foi a pandemia de covid-19. Mas de qualquer forma conseguiu, sim, pautas relevantes como a aprovação das linhas de crédito para o FUNGETUR, a aprovação de medidas provisórias que auxiliaram na manutenção de empregos, a aprovação de normas que tratem da remarcação de diárias e viagens e... a liberação de vistos para estrangeiros. Hoje, a impressão é de que o G20+ se tornou no máximo um G5. Na pauta da reforma tributária, a linha de frente foi Abav Nacional, Abracorp, Braztoa, Clia Brasil e AirTkt.
A PANROTAS é media partner do WTTC Global Summit e viaja com proteção Affinity.