ESPECIAL: Tudo sobre a saída do Reino Unido da UE
O Reino Unido decidiu deixar a União Europeia com 52% dos votos no plebiscito realizado ontem (23), após 43 anos de participação. Com o resultado, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou sua renúncia e deverá deixar o cargo em outubro.
O Reino Unido decidiu deixar a União Europeia com 52% dos votos no plebiscito realizado ontem (23). Com o resultado, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou sua renúncia e deverá deixar o cargo em outubro. O Brexit – junção das palavras Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída, em inglês) – também impactou a moeda do país: a libra caiu 12% em relação ao dólar, o nível mais baixo desde 1985.
O Reino Unido é o primeiro país a sair da União Europeia desde que o bloco foi criado, em 1992, mas a decisão não significa que a saída será imediata. De acordo com o Tratado de Lisboa, o processo pode demorar dois anos.
Em meio à repercussão do resultado, o setor do Turismo também avalia qual serão os impactos do Brexit em diversos aspectos, como imigração, empregos e consumo. Um relatório feito pela Deloitte e pela Associação de Agentes de Viagem da Grã-Bretanha (ABTA, na sigla em inglês) avaliou, antes da realização do plebiscito, como o Brexit pode mudar a indústria do turismo. Confira abaixo.
EMPREGOS NO TURISMO
Em 2014, o Turismo no Reino Unido gerou 4,23 milhões de empregos no total, com 1,89 milhões de pessoas sendo diretamente empregadas na indústria. A maioria dos empregos do setor é ocupada por imigrantes. O estudo aponta que apenas em Londres existe uma dependência regional de 70% em relação à migração dentro do setor de Viagens e Turismo. Com o Brexit, o setor pode enfrentar um aumento nos custos em recrutamento e retenção de trabalhadores vindos de outros países da União Europeia. Além disso, devido à baixa taxa de desemprego no Reino Unido, a indústria do turismo pode enfrentar dificuldades em encontrar mão de obra interna para atender à demanda.
CONSUMIDOR
Na análise da Deloitte, a saída do Reino Unido da União Europeia poderá afetar o consumidor em aspectos positivos e negativos.
Roaming
A União Europeia tem tratado atualmente sobre as tarifas máximas aplicadas aos seus consumidores para a utilização de telefones celulares em outros países do bloco. A intenção da UE é proibir totalmente as taxas adicionais de roaming em abril de 2017. Com o Brexit, essas regras só seriam garantidas caso haja intenção do governo.
Liberdade de movimentação
Os consumidores do Reino Unido tinham a possibilidade de viajar livremente dentro da região da União Europeia. Com o Brexit, os requisitos de viagem entre os países europeus vão depender agora dos acordos feitos pelo Reino Unido a partir de então. O relatório da Deloitte também aponta que é possível que os britânicos busquem novos acordos bilaterais com países fora da UE.
Serviços de saúde
O European Health Insurance Card (EHIC) é um serviço disponível para todos os residentes da União Europeia que garante ao turista serviços de saúde nas mesmas condições oferecidas aos moradores locais. Com o Brexit, o acesso a esses serviços dependerá de negociações e poderá implicar em custos como seguro viagem.
Direitos dos passageiros
As regulações que envolvem os direitos dos passageiros, como compensação em caso de recusa de embarque ou atrasos significativos para viagens aéreas, só serão mantidas caso o governo britânico decida incluí-las em sua legislação.
DESTINOS
O principal destino dos turistas do Reino Unido são os países da União Europeia, segundo a análise da Deloitte. O Brexit poderá colocar em risco essa movimentação de turistas, que era até então facilitada pelo fluxo livre de bens e serviços previsto no acordo econômico da UE.
AVIAÇÃO
A indústria da aviação na União Europeia é uma das mais liberais do mundo. Existe uma colaboração significativa entre os membros do bloco econômico para facilitar a operação entre os países, o que garante às companhias aéreas locais o direito de operar de ponta a ponta as rotas dentro da UE. Além disso, existem acordos bilaterais negociados pelo bloco que facilitam o transporte aéreo, como é o caso do acordo UE-EUA firmado em 2007. Com o Brexit, o Reino Unido deverá renegociar tais dispositivos tanto com a União Europeia como com outros países.
REPERCUSSÃO
Líderes internacionais, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, lamentaram o resultado do plebiscito. O premier italiano, Matteo Renzi, disse hoje que respeita a decisão britânica e também apontou que a União Europeia deve seguir em frente. "Os britânicos fizeram sua escolha e é a hora de virarmos a página", afirmou Renzi.
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, divulgou hoje um comunicado em que defende "uma transição suave" para a saída do Reino Unido da União Europeia. “Apoiamos firmemente os compromissos do Banco da Inglaterra [Banco Central do Reino Unido] e do Banco Central Europeu de fornecer liquidez ao sistema bancário e reduzir o excesso de volatilidade financeira”, apontou Christine. A diretora-geral afirmou ainda que o FMI acompanhará de perto os acontecimentos.
Em comunicado assinado por líderes como o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o presidente da Comissão Europeia, Martin Schulz, e o premiê holandês, Mark Rutte, as principais instituições da União Europeia sinalizaram a intenção de que o Reino Unido resolva "o quanto antes" a sua saída do bloco econômico, por mais "doloroso que esse processo possa ser".
INDEPENDÊNCIA
Em coletiva de imprensa realizada na manhã de hoje, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, afirmou que é grande a probabilidade de que seja feito um segundo plebiscito sobre a independência do Reino Unido. "É uma afirmação do óbvio que a opção de um segundo plebiscito deve estar na mesa", afirmou. Na Escócia, o voto pela permanência do Reino Unido na União Europeia saiu vencedor com 62%.
EFEITO DOMINÓ
Analistas avaliam que a saída do Reino Unido pode causar um efeito dominó que colocará toda a União Europeia em ameaça. Nigel Farage, líder do partido de extema-direita britânico Ukip, disse esperar que o exemplo britânico seja o começo de um processo maior de desintegração do bloco. "Um pesquisa na Holanda mostrou que a maioria lá agora que sair [da UE], então talvez estejamos próximos de um Nexit [contração em inglês em referência à saída da Holanda]", afirmou Farage em um discurso em Londres. "De modo similar, na Dinamarca, a maioria é a favor da saída. E eu soube que o mesmo se aplica à Suécia, talvez Áustria e talvez até à Itália".
Após o anúncio do resultado da votação britânica, representantes de partidos de extrema-direita na Holanda, França e Itália se mostraram favoráveis à realização de consultas populares a respeito da saída da UE em seus respectivos países. Em contrapartida, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, defende que o Reino Unido pague um "preço alto" pela decisão anunciada hoje, como maneira de desencorajar consultas similares em outros países.
BRASIL
O Banco Central informou que está monitorando os efeitos da decisão do Reino Unido nos mercados global e interno."A economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo, especialmente, [um] relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional”, afirmou em nota.
Em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro afirma receber com respeito o resultado da votação. "O Brasil confia que essa decisão não irá deter o processo de integração europeia, nem o espírito de abertura ao mundo que caracterizam, e devem continuar a caracterizar, tanto o Reino Unido como a UE. Confia, igualmente, que todos os esforços serão feitos para assegurar uma transição suave e estável", afirma o comunicado. O Itamaraty aponta ainda que "o Brasil mantém parceria estratégica com a UE, que completará 10 anos em 2017 e abrange 32 diferentes diálogos setoriais".
O Reino Unido é o primeiro país a sair da União Europeia desde que o bloco foi criado, em 1992, mas a decisão não significa que a saída será imediata. De acordo com o Tratado de Lisboa, o processo pode demorar dois anos.
Em meio à repercussão do resultado, o setor do Turismo também avalia qual serão os impactos do Brexit em diversos aspectos, como imigração, empregos e consumo. Um relatório feito pela Deloitte e pela Associação de Agentes de Viagem da Grã-Bretanha (ABTA, na sigla em inglês) avaliou, antes da realização do plebiscito, como o Brexit pode mudar a indústria do turismo. Confira abaixo.
EMPREGOS NO TURISMO
Em 2014, o Turismo no Reino Unido gerou 4,23 milhões de empregos no total, com 1,89 milhões de pessoas sendo diretamente empregadas na indústria. A maioria dos empregos do setor é ocupada por imigrantes. O estudo aponta que apenas em Londres existe uma dependência regional de 70% em relação à migração dentro do setor de Viagens e Turismo. Com o Brexit, o setor pode enfrentar um aumento nos custos em recrutamento e retenção de trabalhadores vindos de outros países da União Europeia. Além disso, devido à baixa taxa de desemprego no Reino Unido, a indústria do turismo pode enfrentar dificuldades em encontrar mão de obra interna para atender à demanda.
CONSUMIDOR
Na análise da Deloitte, a saída do Reino Unido da União Europeia poderá afetar o consumidor em aspectos positivos e negativos.
Roaming
A União Europeia tem tratado atualmente sobre as tarifas máximas aplicadas aos seus consumidores para a utilização de telefones celulares em outros países do bloco. A intenção da UE é proibir totalmente as taxas adicionais de roaming em abril de 2017. Com o Brexit, essas regras só seriam garantidas caso haja intenção do governo.
Liberdade de movimentação
Os consumidores do Reino Unido tinham a possibilidade de viajar livremente dentro da região da União Europeia. Com o Brexit, os requisitos de viagem entre os países europeus vão depender agora dos acordos feitos pelo Reino Unido a partir de então. O relatório da Deloitte também aponta que é possível que os britânicos busquem novos acordos bilaterais com países fora da UE.
Serviços de saúde
O European Health Insurance Card (EHIC) é um serviço disponível para todos os residentes da União Europeia que garante ao turista serviços de saúde nas mesmas condições oferecidas aos moradores locais. Com o Brexit, o acesso a esses serviços dependerá de negociações e poderá implicar em custos como seguro viagem.
Direitos dos passageiros
As regulações que envolvem os direitos dos passageiros, como compensação em caso de recusa de embarque ou atrasos significativos para viagens aéreas, só serão mantidas caso o governo britânico decida incluí-las em sua legislação.
DESTINOS
O principal destino dos turistas do Reino Unido são os países da União Europeia, segundo a análise da Deloitte. O Brexit poderá colocar em risco essa movimentação de turistas, que era até então facilitada pelo fluxo livre de bens e serviços previsto no acordo econômico da UE.
AVIAÇÃO
A indústria da aviação na União Europeia é uma das mais liberais do mundo. Existe uma colaboração significativa entre os membros do bloco econômico para facilitar a operação entre os países, o que garante às companhias aéreas locais o direito de operar de ponta a ponta as rotas dentro da UE. Além disso, existem acordos bilaterais negociados pelo bloco que facilitam o transporte aéreo, como é o caso do acordo UE-EUA firmado em 2007. Com o Brexit, o Reino Unido deverá renegociar tais dispositivos tanto com a União Europeia como com outros países.
REPERCUSSÃO
Líderes internacionais, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, lamentaram o resultado do plebiscito. O premier italiano, Matteo Renzi, disse hoje que respeita a decisão britânica e também apontou que a União Europeia deve seguir em frente. "Os britânicos fizeram sua escolha e é a hora de virarmos a página", afirmou Renzi.
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, divulgou hoje um comunicado em que defende "uma transição suave" para a saída do Reino Unido da União Europeia. “Apoiamos firmemente os compromissos do Banco da Inglaterra [Banco Central do Reino Unido] e do Banco Central Europeu de fornecer liquidez ao sistema bancário e reduzir o excesso de volatilidade financeira”, apontou Christine. A diretora-geral afirmou ainda que o FMI acompanhará de perto os acontecimentos.
Em comunicado assinado por líderes como o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o presidente da Comissão Europeia, Martin Schulz, e o premiê holandês, Mark Rutte, as principais instituições da União Europeia sinalizaram a intenção de que o Reino Unido resolva "o quanto antes" a sua saída do bloco econômico, por mais "doloroso que esse processo possa ser".
INDEPENDÊNCIA
Em coletiva de imprensa realizada na manhã de hoje, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, afirmou que é grande a probabilidade de que seja feito um segundo plebiscito sobre a independência do Reino Unido. "É uma afirmação do óbvio que a opção de um segundo plebiscito deve estar na mesa", afirmou. Na Escócia, o voto pela permanência do Reino Unido na União Europeia saiu vencedor com 62%.
EFEITO DOMINÓ
Analistas avaliam que a saída do Reino Unido pode causar um efeito dominó que colocará toda a União Europeia em ameaça. Nigel Farage, líder do partido de extema-direita britânico Ukip, disse esperar que o exemplo britânico seja o começo de um processo maior de desintegração do bloco. "Um pesquisa na Holanda mostrou que a maioria lá agora que sair [da UE], então talvez estejamos próximos de um Nexit [contração em inglês em referência à saída da Holanda]", afirmou Farage em um discurso em Londres. "De modo similar, na Dinamarca, a maioria é a favor da saída. E eu soube que o mesmo se aplica à Suécia, talvez Áustria e talvez até à Itália".
Após o anúncio do resultado da votação britânica, representantes de partidos de extrema-direita na Holanda, França e Itália se mostraram favoráveis à realização de consultas populares a respeito da saída da UE em seus respectivos países. Em contrapartida, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, defende que o Reino Unido pague um "preço alto" pela decisão anunciada hoje, como maneira de desencorajar consultas similares em outros países.
BRASIL
O Banco Central informou que está monitorando os efeitos da decisão do Reino Unido nos mercados global e interno."A economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo, especialmente, [um] relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional”, afirmou em nota.
Em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro afirma receber com respeito o resultado da votação. "O Brasil confia que essa decisão não irá deter o processo de integração europeia, nem o espírito de abertura ao mundo que caracterizam, e devem continuar a caracterizar, tanto o Reino Unido como a UE. Confia, igualmente, que todos os esforços serão feitos para assegurar uma transição suave e estável", afirma o comunicado. O Itamaraty aponta ainda que "o Brasil mantém parceria estratégica com a UE, que completará 10 anos em 2017 e abrange 32 diferentes diálogos setoriais".