Beatrice Teizen   |   01/03/2024 18:57
Atualizada em 01/03/2024 19:05

Papel do gestor de viagens: o que mudou e como será daqui para frente?

Esta matéria especial faz parte do Anuário PANROTAS de Eventos e Viagens Corporativas 2024


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Qual o papel o gestor de viagens e o que mudou?
Qual o papel o gestor de viagens e o que mudou?

Estratégico. Assim é o papel do gestor de viagens corporativas em um mercado de trabalho tão dinâmico. No meio de milhares de atribuições, funções e atividades que este profissional exerce em seu dia a dia, suas decisões estão entre as mais fundamentais em grande parte das empresas para manter a roda do negócio girando.

Por “roda do negócio girando” entende-se: viajante satisfeito, cumprimento do objetivo da viagem, respeito ao orçamento, seguimento da política interna, C-Level entendendo os movimentos, fornecedores trabalhando em conjunto... São inúmeros os processos e o gestor precisa estar não somente atento a todos estes passos, como também a tudo que acontece ao seu redor – e no mundo.

“De uns anos para cá, principalmente com a pandemia, o gestor de viagens tem de ser resiliente, porque as mudanças acontecem a todo momento. Precisa também ser generalista, não pode ser focado apenas em um fator. Temos de entender de dados, finanças, tecnologia, segurança, do clima, de manutenção de avião. Saber, pelo menos no macro, de todas as variáveis que nós gerenciamos”, diz a gestora de Viagens da Brookfield Asset Management, Thais Meirelles.

PANROTAS / Emerson Souza
Thais Meirelles
Thais Meirelles

Thais reforça ainda que 90% do trabalho do travel manager é in - controlável, dependendo dessas variáveis externas. Por isso, é imprescindível que este profissional, além de ter resiliência, seja proativo, corra atrás das informações, saiba como conciliar custos, compliance, auditoria, serviços, tecnologias, variáveis climáticas. Todas as transformações de um setor, e um cenário, extremamente dinâmico.

A gerente de Viagens e Eventos Corporativos na KPMG Brasil, Sheila Rodrigues, ainda acrescenta que os avanços tecnológicos, quando se fala em automação, combinados com a expectativa do viajante – que mudou e muito quando as viagens começaram a voltar após a covid-19 – adicionam camadas extras às adaptações que o gestor precisou enfrentar nos últimos tempos.

“São diversas alterações no combo, seja na parte de negociação, de ferramentas, de tecnologias, de inovação, mas também uma grande mudança na forma do viajante viajar. Entra nisso ainda a questão do ESG. Apesar de não ser algo novo, houve um boom nos últimos anos e o tema se tornou uma prioridade para muitas empresas. Além das preocupações relacionadas à sustentabilidade, em diminuir a emissão de CO2, por exemplo, há também as de governança e sociais. Nós, gestores, temos tentado trazer isso para o programa de viagens, priorizando, e isso dá muito trabalho, principalmente porque também envolve preço. Quando peço para o meu fornecedor parceiro ser sustentável, para ele também tem um preço”, justifica Sheila.

Profissionalização e especialização

Apesar de ser uma profissão dinâmica, cujo papel é acompanhar as mudanças repentinas do mercado, é importante também que o gestor de viagens corporativas se especialize por meio de cursos e graduações. No entanto, esta é uma dor sentida pelos profissionais, que muitas vezes não encontram tudo o que precisam em um único curso ou especialização. É aí que entra a importância dos grupos de gestores e o apoio que eles encontram ao dividir as experiências.

PANROTAS / Emerson Souza
Joyce Macieri
Joyce Macieri

“Participar de grupos, de eventos voltados ao que fazemos, é algo obrigatório. O gestor necessita convencer seu chefe a deixá-lo fazer, porque é nesses encontros que o travel manager adquire conhecimento. Além de networking, sempre há conteúdo, algo inovador, um case que você pode adaptar para a sua realidade, trazer melhorias. É essencial participar de grupos, dos eventos e ir atrás de todos os cursos que têm disponíveis”, explica a gerente global de Viagens e Despesas da Minerva Foods, Joyce Macieri. O especialista em Viagens Globais da Yara Fertilizantes, Luiz Gaspar, aponta que há muito material, tanto nacional quanto internacional, mas nem esse material e nem a atividade em si são lineares. É preciso conectar pontos, buscar conteúdos, ir atrás de conhecimento e trazer tudo isso para a realidade. “Há também toda a qualificação e as experiências interpessoais, os relacionamentos. Nos painéis dos eventos sempre tem alguém com muita bagagem participando, dividindo suas vivências. Claro que há muita disrupção, tecnologias modernas, inovação, mas conversas com outros profissionais fazem a diferença”, pontua.

Viajante mudou, e agora?

Assim como o papel do gestor mudou diante dos novos cenários e transformações do mundo, o viajante corporativo também se transformou – e ficou mais exigente. Cabe ao travel manager entender estas novas necessidades e adequar a forma como ele viaja aos objetivos da empresa, aos savings, ao budget, ao propósito da viagem e à estratégia.

“Cada vez mais temos de nos preocupar com a questão da personalização e experiência do viajante, que está muito mais preocupado e antenado. É preciso conhecer as diferenças de cada colaborador, os perfis. É necessário criar uma estratégia para atender as diferentes expectativas. As políticas estão adequadas? Temos de ter o levantamento dos viajantes para conseguir criar algo personalizado”, exemplifica Sheila Rodrigues, da KPMG.

E a pandemia foi, com certeza, o principal impulsionador para esta mudança na forma de viajar. O viajante corporativo ficou meses – se não anos – em casa, com sua família, recluso, sem sequer ir ao escritório. Depois, voltou aos poucos a viajar, mas em saídas pontuais, mais curtas e com uma série de particularidades que envolviam a segurança médica.

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Sheila Rodrigues
Sheila Rodrigues

“O viajante passou também a valorizar o work from anywhere, não somente o home office. Se ele está remoto, pode ficar remoto de qualquer lugar. Se ele precisa mesmo viajar, então precisa ser com qualidade e segurança. Um voo mais confortável, assim como seu hotel. Diante disso, além de todas as nossas funções, sempre pensando em trazer economia para a minha empresa, preciso também pensar no conforto para o meu viajante”, diz Joyce Macieri.

O gestor daqui para frente

A pergunta de US$ 100 milhões, a digna de bola de cristal: o que podemos esperar para o futuro do gestor de viagens? Como depende de variáveis, principalmente econômicas, já que a questão de custo é grande parte do que dita a viagem corporativa, será exigido deste profissional continuar se adaptando. Mas ele também vai precisar compreender seu valor.

“O gestor terá de enaltecer seu trabalho. Não é só fechar contrato e ter saving. Tem também o viajante que está cada vez mais exigente, a profissionalização, área na qual ainda temos de lidar com alguns gargalos... Ainda vejo tempos turbulentos, mas está vindo o sol no horizonte. Sou uma otimista realista”, avalia Thais Meirelles, da Brookfield.

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Luiz Gaspar
Luiz Gaspar

Luiz Gaspar entende que o cenário é complexo, mas é da mesma visão positiva, citando ainda que o profissional tem de ter muita disposição para também trazer mais entendi mento sobre este profissional ao mercado, de uma forma mais plena e intrínseca. “Se o mercado acompanhar as tendências, as projeções, retornar aos volumes pré-pandemia, faturamento e lucro estando bons, tudo vai ficar um pouco mais fácil. A estimativa para este ano é de que as passagens aéreas vão estabilizar, não preveem aumentos de preços muito discrepantes. Estamos caminhando para a normalização. E quando nosso nicho normaliza, começamos a crescer e bater recordes”, declara Gaspar.

A gerente global de Viagens e Despesas da Minerva Foods cita também a importância de o travel manager mostrar a relevância de seu papel e, quem sabe, no futuro existir uma área de viagens corporativas e expense estruturada dentro das empresas, com o gestor tendo um plano de carreira para seguir e chegar a uma diretoria, por exemplo.

“Não estamos somente emitindo, estamos entregando resultados, fazendo auditoria de processos, cuidando do bem-estar do viajante, pensando na economia da empresa... Podemos nos tornar travel directors, nos Estados Unidos já acontece isso. Queremos conseguir chegar a níveis mais altos. E, para isso, vai ter de ter educação, conhecimento para poder entregar, formação acadêmica. Não tem por que não conseguir chegar no topo”, finaliza Joyce Macieri.

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