Roberta Queiroz   |   01/12/2016 12:00

Opinião: todo serviço se transformará em aplicativo

Romero Rodrigues, fundados do Buscapé e hoje sócio do fundo de Venture Capital Redpoint, fala sobre a “apptização dos serviços”. 

Divulgação/Romero Rodrigues
Romero Rodrigues fundou o Buscapé com mais três jovens
Aplicativos deixaram de fazer parte do mercado de tendências para assumir o mercado do dia a dia. Basta olhar para o celular ou qualquer outro dispositivo móvel para perceber a quantidade de aplicativos que temos na palma da mão.

Na realidade, a maioria deles não é aplicativo, são serviços em forma de aplicativos. O fenômeno, chamado de “apptização dos serviços”, mostra que todo serviço pode e irá virar um produto por meio do app.

Esta é a perspectiva do fundador e ex-CEO do Buscapé, Romero Rodrigues, hoje sócio do fundo de Venture Capital Redpoint. Criado por quatro jovens em 1999, o comparador de preços é considerado uma das startups mais bem sucedidas no Brasil e foi vendida por nada mais nada menos do que US$ 342 milhões para o Grupo Naspers.

MOBILE E DISRUPÇÃO
Rodrigues acredita que todo aplicativo se transformará em aplicativo porque o mobile está “acima de tudo”. “A internet como conhecemos acho que foi apenas a grande ponte para chegarmos ao mobile. Em cinco anos menos de 20% do tráfego virá dos desktops”, opinou o executivo.

Um exemplo clássico da força do mobile, e também de quebra de paradigmas, é o nascimento da Uber e do Airbnb. Rodrigues vê a chegada dessas marcas como uma revolução alimentada pela combinação de diversos fatores, que no Brasil inclui a crise econômica.

“Temos um momento único em que as empresas estão criando camadas de APIs no topo delas. Não somente empresas digitais como o Buscapé, a Amazon ou o Google, mas empresas como a Ford, o Itaú e outras grandes corporações também estão criando interfaces tecnológicas, não humanas, para se comunicar com o ambiente externo”, explicou.

Interfaces que, obviamente, englobam o mobile. Um universo que, no entanto, não lida apenas pontos positivos como a praticidade e o formato minimalista, que reduz as inúmeras, e muitas vezes inúteis, opções do desktop. Rodrigues ressalta que estar o tempo todo no bolso ou na mochila das pessoas é desafiador. Afinal, é preciso colocar tudo o que o consumidor deseja em um espaço bem menor do que o desk.

STARTUPS X CORPORAÇÕES
As startups estão prontas para tantos desafios e incertezas. Afinal, elas são resultados de desafios. Algo que não acontece com as grandes corporações. “Startups são naturalmente desorganizadas. Elas têm que testar cinco ou seis hipóteses para avaliar se o serviço terá valor para o usuário final e vai testar quantas vezes for necessário até o dinheiro acabar”, cravou o profissional.

O bastidor de empresas consolidadas no mercado é outro, já que ela não pode perder tempo com testes. Isso significa que se não der certo na primeira ou segunda tentativa, outro plano será acionado. “As startups não têm opção: ou conseguem comprovar a hipótese ou morrem”, afirmou. A insistência faz parte da cultura desse modelo de negócio. Os idealizadores não medem esforços até tirar a “pedra do caminho”.

Por incrível que pareça, a busca incessante pelo acerto atrai o colaborador, principalmente, o da nova geração. Os funcionários estão trocando empresas por uma startup mesmo que seja para ganhar menos, segundo o fundador do Buscapé. Eis um novo embate. Eis uma inversão de valores. “E agora? Que ferramenta irá utilizar para reter os talentos?”, indaga Rodrigues sem apresentar respostas.

A IMPORTÂNCIA DA CULTURA
Você consegue identificar a cultura da sua empresa? Segundo Rodrigues, a cultura é fundamental para crescer sem ruptura. “Profissionais talentosos aceitam propostas de trabalho não necessariamente pela remuneração, mas porque buscam autonomia, maestria e propósito. Eles até aceitam ganhar menos para trabalhar em empresas que ofereçam estes três fatores”, esclarece o executivo.

A cultura é disseminada pelo exemplo, que costuma se perder conforme o crescimento da empresa. Isso acontece porque a expansão cria, espontaneamente, várias agendas, interesses e níveis hierárquicos. “Quanto mais rasa a estrutura, quanto menor o número de pessoas, é melhor para a cultura”, orientou. Todas essas características estão impregnadas na startup, sempre autônomas, com time pequeno e contato direto com o fundador.

GERAÇÃO Y OU MILLENNIAL
Ansiosos. É assim que Romero Rodrigues define as gerações Y ou os millennials. Muitas pessoas talentosas canalizam esta esse sentimento para construir negócios e se dão bem. “Vemos pessoas muito talentosas que canalizam esta ansiedade muito bem para construir negócios e agregar muito valor”, observou o executivo. ”Mas, infelizmente, na média esta ansiedade não é canalizada desta forma e tenho visto profissionais mais rasos do que nas gerações anteriores”, acrescentou.

As novas gerações procuram um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. E, de acordo com Rodrigues, isso não é um erro. O problema, na verdade, é que há pouca disposição de investir para colher no futuro. “Recebo currículos de profissionais com quatro, cinco anos de carreira e que já passaram por cinco grandes empresas. E aí pergunto: você é escoteiro? Está colecionando crachás? O que fez de verdade nestes lugares?”, questionou.

Rodrigues enxerga uma mudança de prioridades e de desejos nesse novo cenário. “Quando prestei vestibular achava que o importante era a placa da faculdade. Depois achei que eram as empresas nas quais trabalharia. E hoje sei que não é isso, mas o que você fez”, exclamou. Dar essa resposta para ser algo impossível para a geração Y, mesmo com dez ou 15 anos de carreira. O empresário aproveita a oportunidade para fazer uma previsão. “Eles querem saber o que precisam fazer para ganhar ’15 paus’. Tem uma inversão de causa-efeito que irá custar caro para aposentadoria desta turma."

O FUTURO
Rodrigues comentou ainda sobre as possibilidades da reinvenção de modelos de negócios dentro do Brasil. Para ele, o País sofre uma "esquizofrenia" por ser grande o suficiente para afastar o empreendedor de soluções globais e, ao mesmo tempo, ser grande o suficiente para isso.

Ver o negócio ganhar o público e expandir horizontes dentro da nova economia também está ligado às características do líder, seja da empresa ou da própria startup. Ao ser indagado sobre as qualidades que essa “mente pensante” precisa ter, Rodrigues, sem pestanejar, elegeu a ousadia como primeira. Tudo isso sem esquecer do caráter inspirador e o apreço pela cultura.

“É importante também cuidar do time e da cultura da empresa. Precisa ser inspirador; saber inspirar o time para comprar aquela jornada. Na nova economia o desenho do processo tem que ser questionado por quem está na base, por quem está no campo de batalha, que é onde está acontecendo a inovação”, aconselhou. “A inovação vem da percepção e percepção vem do envolvimento. As empresas que vêm se tornando bem-sucedidas são aquelas que têm uma cultura forte e sabem envolver o time”, concluiu.


*Fonte: Corall Consultoria

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