Como o Turismo se aproveita de filmes, séries e novelas
O Turismo se aproveita positivamente da divulgação espontânea de filmes, séries e novelas, como o recente caso de La La Land, em Los Angeles
O audiovisual tem um poder único de transformar lugares e pessoas. Afinal, quem nunca quis ir para Paris após ver a Torre Eiffel em um filme? Primeiro veio o cinema, depois as séries de TV e novelas e, com isso, produtores culturais se atentaram à possibilidade de promover destinos em meios de comunicação de massa. Hoje isso é algo comum: Hollywood, voluntaria ou involuntariamente, "vende" os Estados Unidos como poucos órgãos do destino conseguem.
Um caso recente é o filme La La Land, que se passa em Los Angeles. Sucesso de público e bilheteria, o longa-metragem vencedor de sete Globos de Ouro e indicado a 14 Oscars é um exemplo de como a arte pode, sim, aguçar a vontade de pessoas a conhecer um local.
À reportagem, a gerente de Planejamento de Destinos da Imaginadora, Daniela Bergamini, que representa Los Angeles, acredita que a explorar os pontos turísticos e não turísticos contribui com o aumento de visitantes. “A cidade é uma protagonista [de La La Land]. Hoje, o passageiro quer viver uma experiência e não conhecer só a Calçada da Fama ou o letreiro de Hollywood. Ele quer conhecer o Observatório de Griffith, o Lighthouse Café, e por aí vai”, relatou, em alusão à obra.
A realidade pode se confundir com a ficção e mudar a forma como um lugar é visto. A Nova Zelândia se tornou outra após Peter Jackson filmar a trilogia O Senhor dos Anéis, no início dos anos 2000. Baseados na obra do escritor J. R. R. Tolkien, os filmes criaram uma legião de fãs em todo mundo. E o país soube aproveitar muito bem isso.
TERRA DA FANTASIA
Em pesquisa recente, a Tourism New Zealand mostra que 17% de visitantes globais em férias desembarcaram no país em razão de O Hobbit, outra trilogia de Jackson. Apenas a Vila Hobbiton, antiga fazenda que se tornou cenário para as duas obras citadas, recebe anualmente 360 mil turistas, entre domésticos e internacionais.
Para a gerente geral do escritório da Nova Zelândia para a América do Sul, Karem Basulto, a divulgação em redes sociais gera um burburinho entre os brasileiros. Mas o destino busca atrair a atenção também de formas mais efetivas. “Os filmes estão próximos dos atrativos. Por isso, sempre fazemos essa relação com as atividades que os turistas podem fazer no país. Por exemplo, o filme Meu Amigo, o Dragão teve filmagens em Rotorua e na floresta de Redwoods, onde se pode fazer caminhada e andar de bicicleta”, comentou.
Das telas do cinema para a televisão, House of Cards, transmitida por meio da plataforma de streaming Netflix, é unanimidade entre os fãs de série. A capital norte-americana Washington, de acordo com Daniela Bergamini, que também atende a região (Crusa, que também inclui Maryland e Virginia), se tornou um atrativo ao ponto de os espectadores querem “viver” a série.
“Virou mania querer visitar as cenas da abertura em Washington e até mesmo comer a famosa costela como o Kevin Spacey", afirmou, completando que as operadoras criam roteiros que contemplem os cenários eternizados, como no filme Lincoln. É importante ressaltar que o restaurante Freddy’s BBQ é fictício, mas é possível visitar o set em Baltimore.
GOSTO PELO CLÁSSICO
A cidade de Viena, capital da Áustria, até foi cenário para os novos blockbusters 007 contra Spectre e Missão: Impossível – Nação Secreta, mas é o clássico A Noviça Rebelde, lançado há mais de 50 anos, e Salzburgo que estão na preferência dos curiosos visitantes.
Em visita realizada em setembro de 2016, o gerente de Projetos do Consulado da Áustria no Brasil, Alisson Souto, ainda se sente surpreso com o interesse de turistas pelo cinema clássico. “Os norte-americanos fazem turnê pela Europa e lá [em Salzburgo] ficam um, dois dias e fazem o tour do filme. O brasileiro conhece A Noviça Rebelde e gosta bastante. Pode-se fazer um paralelo dele com o americano”, analisou.
NOVELEIROS DO BRASIL
O país europeu também se notabiliza pela aproximação com o público brasileiro. Em 2013, a novela Em Família, exibida pela Globo, explorou as belezas da capital após a Vienna Film Commission desembarcar no País em busca de parceiros de divulgação.
E as telenovelas, de fato, são um divulgador à parte. Títulos como O Clone, Caminho das Índias e Salve Jorge falam por si só. A Flytour Viagens soube aproveitar bem do interesse dos noveleiros de plantão.
Atenta ao público, a operadora decidiu formatar pacotes que contemplassem visitas aos locais gravados, até mesmo quando o Brasil ficou em evidência, no caso de Império(Monte Roraima) e Velho Chico (Xingó e Rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe).
“Nossas vendas para os lugares onde foram filmadas as novelas no Brasil aumentaram em aproximadamente 30%”, confirmou o diretor de Produtos e Operações Nacionais, Daniel Firmino. “Os destinos crescem no período de exibição e em alguns meses posteriores. Depois, há um fluxo sazonal”, completou a diretora de Produtos Estados Unidos, Canadá, Europa, África, Ásia e Oceania, Barbara Picolo.
Tão distante geograficamente quanto a Nova Zelândia, a Austrália viu na novela Simplesmente Demais, exibida em 2016, um chamariz para atrair – pelo menos a curiosidade – do brasileiro em um momento crise. A exposição das belezas paradisíacas e urbanas, neste caso, é mais do que bem-vinda.
“Foi um ano difícil, pois pesquisei com os operadores e houve uma queda, mas creio que está recuperando. A novela atingiu um público de 118 milhões de espectadores, portanto, o alcance foi muito bom. Se não tivéssemos essa produção, poderia ter sido pior”, afirmou o representante do Turismo da Austrália no Brasil, Chile e na Argentina, Craig Bavington.
Ainda que seja um medidor difícil para as empresas, viagens em decorrência de produções audiovisuais despertam a vontade de viajar, segundo o diretor de Marketing da CVC, Marcelo Oste. “O retorno que temos, por parte dos agentes de viagens e consumidores, é que o telespectador se identifica fortemente com as viagens, pela leveza que o tema traz à programação e, principalmente, pelo desejo de viajar, algo comum entre os brasileiros”, garantiu.