Com alto custo, o futuro das feiras de Turismo é incerto
Apesar de importantes para o setor e ao trade, as feiras voltadas ao Turismo não vivem um bom momento. Com um número menor de expositores e de visitantes, as feiras trilham incertas para as próximas edições.
Apesar de importantes para o setor e ao trade, as feiras voltadas ao Turismo não vivem um bom momento. Com um número menor de expositores e de visitantes, as feiras trilham incertas para as próximas edições.
Diretor do La Torre Resort e presidente da Associação Brasileira de Resorts (ABR), Luigi Rotunno comentou, em artigo, o momento atual, após a realização da Festuris, a última feira de turismo do ano, em Gramado (RS).
Confira abaixo o texto completo de Rotunno:
Acabei de voltar de Gramado onde participamos do Festuris. Evento famoso por dar início ao Natal Luz, da cidade. O Festuris é também a última feira de turismo do ano e o trade inteiro gosta de reunir-se para ajustar as últimas estratégias do verão e fazer um balanço anual.
E é assim que se encerra um ciclo de feiras de turismo que deixou um gosto amargo para os expositores aos quais se perguntam sobre o futuro desse tipo de evento. É fato que, de forma geral, as feiras de turismo não chamam mais o fluxo de pessoas interessadas como nos anos anteriores. O custo de participação está ficando sempre mais elevado e o expositor precisa fazer as contas de todo o investimento necessário para o estande, a montagem, o deslocamento da equipe de atendimento, a hospedagem, o material a ser distribuído e outras despesas acessórias. Resumindo: é caro! E em um mercado com o número elevado de feiras, acertar qual vai ser a boa para participar é um verdadeiro jogo de roulette.
As operadoras de turismo
O grande sinal da queda de importância das feiras foi dado pelas operadoras de viagens. Quando a CVC, Nascimento e Flytour iniciaram a desertar o piso desses eventos gerou-se um desânimo grande para o agente de viagens e o hoteleiro, pois perderam uma oportunidade de conversar com as “pessoas-chaves” para seu negócio, sem ter que se deslocar até a sede, ou encontrar um promotor que, às vezes, não lhe dedica a devida atenção. Era especialmente uma oportunidade para os novos negócios acontecerem, elaborar estratégias e dar ânimo ao mercado!
Em busca de alternativas, alguns organizadores de feiras procuraram inserir mais conteúdo, convidando palestrantes e tratando de assuntos tecnológicos e sobre inovação. Gerar relevância ao evento é fundamental hoje em dia, mas essa técnica nem sempre foi suficiente, pois tudo tem seu ciclo e acabou se tornando uma ação repetitiva.
O apoio dos Estados e destinos
Com uma presença modesta, ficou claro que os orçamentos para esse tipo de evento diminuíram muito. As grandes festas de abertura e encerramento não acharam mais “comprador” entre as instituições governamentais que costumavam estrear os eventos com shows e festas grandiosas para os agentes de viagens. Os destinos turísticos se limitaram a um espaço para dar oportunidade aos hoteleiros de sua região. Pouco ou nada de distribuição de brindes ou festinhas com alimentos tradicionais.
As OTAs
Ficaram onde estão, nas nuvens! Depois de ter iniciado a participar das feiras com estandes físicos, as OTAs agora circulam os corredores discretamente em busca de algum hoteleiro perdido. Tiram dúvidas de alguns clientes, mas se fazem bem discretas.
O retorno do expositor
A grande questão é o retorno do investimento das marcas que acham pouca visibilidade nesses eventos. Acabou o tempo em que depois de um dia de feira você chegava rouco no hotel de tanto falar. 2017 anuncia-se como um ano complicado para tomar a decisão de continuar a investir em feiras.
Portanto, as feiras dependem exclusivamente do volume de visitantes e de sua qualidade. A queixa geral dos expositores é o número excessivo de feiras no mercado brasileiro. A maioria concorda que deveria ter uma quantidade menor de eventos e que, fossem mais estruturados. Talvez, preocupados com o sucesso do evento, os organizadores pouco têm tempo para valorizar a importância do expositor, deixando de entender a importância do mecanismo de pós-venda, afinal neste caso, somos os clientes.
O agente de viagens
Não encontra nada de novo. O mundo digital fornece todas as informações que precisa e evita carregar pesados folders de papel que depois terminam na lixeira fora da feira. Ainda é necessário um corpo a corpo para relacionamentos pessoais, mas são casos bem pontuais e não de volume de negócio. Antigamente, atraído por caravanas, brindes, sorteios e festas, ir a uma feira de turismo era um momento importante para relacionar-se junto a atividades de lazer e diversão. Essa era um pouco da magia das feiras, a farra! Saber onde ia ser a festa à noite e juntar-se a turmas de amigos e potenciais parceiros. Confesso ter saudades dessa época e, vou além: era um excelente método para criar amizades, base essencial do turismo!
O futuro do turismo
Pensando no futuro das feiras, devemos pensar em qual será o futuro do turismo. As mudanças comportamentais e da forma de viajar estão revolucionando o mercado para valer. Essa mudança não tem retorno, mas sim crescimento exponencial atropelando tudo o que existia.
Evoluir é difícil, mas reinventar-se é fundamental! Para isso não será suficiente passar uma mão de tinta na parede, trata-se de ter coragem de derrubar tudo e construir algo novo. Um conceito diferente de turismo que enxerga sua verdadeira importância na construção da marca de um país e das pessoas. Preso na sua verticalização o turismo tem dificuldades em adaptar-se aos novos hábitos de consumir, viver e viajar.