Antonio R. Rocha   |   24/08/2016 16:16

Especialista fala sobre desafios do golfe no Brasil; confira

O português Jorge Santana da Silva, arquiteto de campos de golfe da empresa Golf Design, passa uns dias em Natal. Ao mesmo tempo em que vislumbra negócios, com base no potencial turístico e técnico (do ponto de vista aquífero) da região, ele lembra que falta

Antonio R. Rocha

O português Jorge Santana da Silva (foto), arquiteto de campos de golfe da empresa Golf Design, passa uns dias em Natal. Ao mesmo tempo em que vislumbra negócios, com base no potencial turístico e técnico (do ponto de vista aquífero) da região, ele lembra que falta muito ao Brasil - e sobretudo ao Nordeste - para atrair grandes empreendimentos turísticos nos quais os campos de golfe passem a ser inseridos.

Se sobram condições, diz ele, faltam acessos, infraestrutura, licenças ambientais e técnicos para dar continuidade aos projetos. Porém, após os Jogos Olímpicos, nos quais o golfe esteve inserido, Santana reacende a luz de otimismo e volta a olhar o Brasil como possível (porém difícil) negócio. Veja a entrevista exclusiva que concedeu ao Portal PANROTAS:

Portal PANROTAS: O Nordeste tem condições técnicas e mercadológicas de atrair campos de golfe?
Jorge Santana: Certamente tem excelentes condições técnicas para a construção de um campo de golfe. Os terrenos arenosos são ideais. Drenam muito bem. São a melhor estrutura de solo para os gramados. Além de terem uma característica paisagista natural de grande beleza, que se deve preservar, são fáceis de modelar nas zonas necessárias. O aquífero superior, em proximidade relativa do mar, permite fazer lagos unicamente escavando, sem maiores custos. Esta água serve para regar, sem necessidade de outros recursos hídricos.

PP: O que o golfe agregaria turisticamente ao Brasil?
JS: O golfe em muitos países é uma estrutura fundamental do turismo. Em Portugal, principalmente no Algarve, os campos de golfe têm grande afluência, especialmente durante as estações mais frias, em que os jogadores do Norte da Europa não podem jogar nos seus países. Nestas estações do ano os campos são altamente lucrativos, estão normalmente associados a hotéis e inseridos em resorts. No Brasil o turismo está vocacionado para outras e muitas atrações. A oferta de campos de golfe só elevaria o nível sócio-econômico médio do turista no Nordeste.

PP: Quantos campos você já implantou? Em quais países?
JS: Desde o início da minha carreira, com Robert Trent Jones Senior, com o qual me formei e fui integrado à sua equipe de projetistas de golfe, foram mais de duas centenas de projetos. São 35 anos nesta atividade que me apaixona. Ainda colaborei com outro grande arquiteto de campos de golfe, Cabell Robinson, e mais tarde fui convidado para trabalhar com dois grandes jogadores que iniciaram nesta atividade e contratam técnicos para produzir os projetos. Mas a vontade de trabalhar por minha conta foi mais forte. Tenho realizações em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Marrocos, Angola e Estados Unidos. No Brasil, minha maior possibilidade de implantação de um campo de golfe, atualmente, é no Vila Galé Cumbuco, no Ceará.

PP: A sua visita ao Brasil é de prospecção?
JS: Esta minha visita ao Brasil foi essencialmente para assistir aos Jogos Olímpicos, onde o golfe esteve pela primeira vez. Quis acompanhar este grande evento. O golfe esteve no mais alto nível internacional. Foi construído um novo campo para este propósito. Foi surpreendente a afluência de público no torneio masculino. No feminino também correu tudo muito bem. Estou convicto de que este foi um grande passo para que o golfe se desenvolva mais no Brasil.

PP: E a temporada em Natal? Possíveis negócios?
JS: Em Natal, tenho amizade e parceria com o consultor de investimentos Anderson Leony, que me convidou para passar uns dias aqui. Colaborei com ele no passado em estudos preliminares para resorts turísticos/residenciais com campos de golfe. Infelizmente nenhum deles se realizou. Na minha ótica, fruto da crise global mundial e especifica de alguns países. Penso que este período mais difícil está passando e que o investimento vai chegar. Estive em reuniões recentes que me indicam concretamente que os projetos vão acontecer.

PP: O Rio Grande do Norte nunca atraiu um resort de bandeira internacional. Como traria um campo de golfe?
JS: O Estado tem todas as condições. Estamos numa região com um clima maravilhoso para a prática do golfe. Natal é a cidade que melhor conheço no Brasil. Sempre defendi que se deveria construir um campo de golfe na proximidade do Centro, com infraestrutura integrante para todas a muitas unidades turísticas da cidade. Alguém tem dúvidas que com tanto turista europeu, sobretudo no verão, e sul-americanos no inverno, este campo de golfe teria muitos jogadores? E que este fato iria beneficiar muitíssimo a oferta turística? Nas escolas, a prática deste esporte, que muito educa o praticante, deveria ser incentivada e promovida.

PP: O golfe está em expansão?
JS: Neste momento a prática do golfe aumenta muito em toda a América do Sul. Estão sendo construídos campos que enriquecem o esporte e ao mesmo tempo empreendimentos associados, com grande visão dos investidores e a maior colaboração das entidades locais e nacionais. É isto que tem de ser feito no Brasil, no Nordeste. E vai acontecer, porque os investidores estão voltando. E também porque os responsáveis brasileiros entenderão que é necessário oferecer todos os incentivos ao seu alcance. Refiro-me concretamente ao licenciamento de projetos, adaptação de taxas e impostos, apoio na execução de acessos e infraestruturas, e mesmo na formação de técnicos que possam trabalhar nesta atividade. Tudo isto vai repercutir na economia local e nacional.

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