Artur Luiz Andrade   |   08/11/2009 14:02

Aluna do vestido curto é expulsa de curso de Turismo

Por essa ninguém esperava. Depois do tumulto ainda mal explicado envolvendo a estudante do curso de Turismo da Uniban (Universidade Bandeirante), Geisy Villa Nova Arruda, chamada de "puta" e "piranha" por inúmeros alunos, em vídeo que virou hit na internet, a universidade decidiu expulsá-la

Por essa ninguém esperava. Depois do tumulto ainda mal explicado envolvendo a estudante do curso de Turismo da Uniban (Universidade Bandeirante), Geisy Villa Nova Arruda, chamada de "puta" e "piranha" por inúmeros alunos, em vídeo que virou hit na internet, a universidade decidiu que ela provocou o tumulto, vestiu-se inadequadamente e por isso merece a expulsão de seu corpo discente. Tudo porque ela estava com um vestido tido como ousado. Será que os alunos sentiram-se mesmo ofendidos, ou a brincadeira (de mau gosto) cresceu desproporcionalmente, como em alguns trotes que passam dos limites? Quem se veste "inadequadamente" merece que punição? Se a pessoa se sente confortável e adequada ao grupo, este último pode reclamar?

A Uniban, em comunicado, diz que ouviu alunos e professores para tomar a decisão de expulsar Geisy. Se você é um deles deixe aqui seu depoimento. E os professores de turismo de outras faculdades, muitos deles próximos de nossa indústria, o que acham? É hora de se manifestar.

Alguns trechos do comunicado da Uniban, publicado em diversos jornais, são impressionantes:

"Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento".

"Foi constatado que a atitude provocativa da aluna buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar".

"A aluna demonstrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse e estava acompanhada de dois advogados e uma estagiária vinculados a uma rede de televisão", referindo-se ao dia em que foi dar seu depoimento na sindicância interna da Uniban.

O que estará por trás da decisão da Uniban? Preconceito? Falso moralismo? Pressão religiosa? Defesa da moral e dos bons costumes? Fatos ainda não divulgados, como flagrantes de atentado ao pudor por parte da aluna? Mensalidade atrasada? Talvez nunca saberemos. Mas um vestido causar tanto furor em pleno século 21 chega a ser assustador. E em uma universidade, onde a diversidade de trajes, tatuagens, piercings e outras manifestações de personalidade, opção sexual e até de protesto é uma das principais características, a falta de tolerância é mais absurda ainda.

Ou realmente há fatos que desconhecemos ainda ou a distância das faculdades com a realidade do País, em qualquer área, realmente não para de crescer. Não surpreende muitos alunos de turismo chegarem a nossa indústria iludidos, despreparados e com uma visão distorcida da realidade. Discutir um vestido (ainda de cor chamativa) parece ser mais importante.

O que podia ser uma brincadeira de mau gosto (como os trotes de tantas faculdades, muitas vezes passando dos limites) está se tornando uma discussão mais séria. E lamentável.

Estudantes e profissionais com roupas inadequadas para uma ou outra situação vemos todos os dias. No turismo, inclusive. Alguns viram folclóricos. Outros se tocam e se adequam ao padrão. Outros, porém, fazem questão de marcar sua personalidade. E há ainda as diferenças regionais. O trade do Rio de Janeiro é mais informal que o de São Paulo. Ir além disso é afundar no preconceito. Mesmo que a aluna fosse uma profissional do sexo, puta não pode estudar? Que o reitor da Uniban não faça uma pesquisa mais a fundo, nem resolva investigar o que seus alunos, professores e visitantes fazem entre quatro paredes. Quem vê roupa, nem sempre vê coração... E a Inquisição é para as aulas de história. E religião.

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