Mulheres lutam por representatividade e igualdade no Turismo
Lideranças femininas do Turismo pontuam a disparidade entre homens e mulheres no Trade

Um estudo realizado pela Pace Group e Hub Leaders em 2021 aponta os países da América Latina com a maior ausência de mulheres em cargos de lideranças em suas empresas. O Chile ficou em primeiro lugar atingindo a marca de 73%, em seguida, Argentina com 67%, México totalizando 65% e o Brasil registrando 60%.
Ainda que a pesquisa seja sobre a América Latina e atinja todos os setores econômicos, estudos nacionais como alguns dos comandados pela professora e pesquisadora da USP, além de presidente do conselho de Turismo da FecomércioSP, Mariana Aldrigui, mostram a mesma realidade na indústria do Turismo no Brasil.
“Há quase 100 anos falamos sobre o Turismo como uma potência econômica no Brasil e, ainda que tenhamos vivido uma explosão de cursos e a consequente qualificação na década de 1990, foi em 2014 que vivemos o melhor ano da história do setor” diz, complementando que “a expectativa era grande em 2019 e esperávamos um 2020 com muitas oportunidades e resultados, quando entramos em pandemia”.
O estudo liderado por Mariana Aldrigui indica que a maioria dos países que dependem do Turismo para preservar seus empregos, ficou em uma situação muito delicada. “No Brasil, ainda temos 40 mil vagas formais para serem recriadas a ponto de chegarmos aos patamares de 2019. E sabemos que a maioria dessas vagas serão priorizadas para homens, parte por demanda das empresas, parte por definição das próprias famílias”, pontua a pesquisadora.

Magda ainda questiona o fato de o Turismo possuir um enorme contingente de mulheres trabalhando, mas não ocupando espaços de decisão. “Como que o mercado tem um grande chão de fábrica de profissionais femininas e a maioria das lideranças é masculina? Não faz sentido. Significa que em algum ponto essas empresas adotam comportamentos machistas e isso não é mais admissível no mundo de hoje. Cabe a nós seres humanos, tanto homens como mulheres, ter um olhar mais apurado em relação as profissionais”, afirma.

AVIAÇÃO
A aviação é um outro setor que ao longo dos últimos anos nota-se um crescente número de mulheres em cargos como pilotos e mecânicos. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o número de mulheres com licença para voar como piloto comercial de avião subiu 64% de 2015 a 2018. Apesar do crescimento, as mulheres ainda são minoria na classe dos pilotos. Enquanto elas são 3% com licença para voar, eles somam 97%."É crucial que a alta liderança esteja engajada e que o propósito da empresa em avançar em diversidade e inclusão seja genuíno e cascateado em todos os níveis da organização, mantendo desta forma, um diálogo aberto sobre como podemos evoluir todos juntos; na maioria das situações, o líderes tem o poder da decisão, mas todos na empresa devem ter a oportunidade de desafiar o status quo", afirma a country manager da United Airlines, Jacqueline Conrado.

"Representatividade importa muito. Dificilmente somos algo ou almejamos ser alguém que não vemos. Representatividade nas áreas técnicas, por exemplo, é essencial. As mulheres podem e devem atuar onde quiserem: manutenção, tecnologia, planejamento de malha, revenue management. Aviação é um setor apaixonante, com diversas áreas complexas e interessantes onde, certamente, podemos ter mais representatividade feminina", diz Jacqueline.
No entanto, Jacqueline pontua que não basta ter mais oportunidades para mulheres no mercado, também é preciso obter condições salariais equiparadas. " A diferença salarial ainda é bastante presente. Mulheres, em geral, ganham cerca de 30% a menos que homens para desempenhar o mesmo papel e, quando fazemos esse recorte para mulheres negras, essa diferença aumenta para 47%. Isso é inadmissível. Oferecer oportunidades iguais e remuneração iguais são urgentes".
Para a executiva da United, está mais do que provado que, companhias com altos índices de diversidade em seu quadro de colaboradores, em todos os níveis, incluindo representatividade na alta liderança, tem melhores resultados financeiros se comparado com as que não tem, são mais inovadoras, tem maior índice de satisfação dos clientes, retenção de talentos e melhor reputação.
MULHERES NO MUNDO CORPORATIVO
Das 508 empresas listadas no banco de dados da BM&F Bovespa, 197 (38,7%) delas têm pelo menos uma mulher no conselho de administração e 165 (32,48%) possuem uma conselheira efetiva, de acordo com dados do IBGC — Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, divulgados no final de 2021. Em porcentagem, ainda que em crescimento, os números significam uma presença muito inferior à dos homens em cargos de decisão.A bandeira da equidade de gênero também foi uma prioridade no Fórum Econômico Mundial em 2018. Desde então, os dados são alarmantes e mostram, a partir de relatório divulgado em 2021, que serão necessários mais de 268 anos para que a disparidade de gênero seja completamente erradicada.

“É preciso que o mercado se conscientize desse gap que existe entre homens e mulheres para podermos atingir um equilíbrio. Precisamos trazer rodas de conversas, mostrar para as empresas que a equidade não pode ser mais um discurso vazio. Hoje a necessidade de inclusão está ali e não é mais uma opção, tem que ser praticada de forma verdadeira e consistente”, diz a diretora-executiva da Alagev, Giovana Jannuzzelli, apontando que um dos fatores que pode aumentar a liderança feminina é a mobilização do mercado.

Para ela, as mulheres precisam acreditar que podem e devem investir em especialização para ocupar e reivindicar seus próprios espaços. ”Aproveito o nosso dia para encorajar as mulheres e dizer que nossa curiosidade nata pode ajudar muitíssimo a estudar o futuro e trazer bons e grandes diferenciais para nosso setor”, finaliza.