Filip Calixto   |   08/01/2025 11:04

Acolhimento e segurança são prioridade para viajantes da comunidade LGBTQIA+

Estudo conduzido por universidades brasileiras destaca demandas e comportamentos do público LGBTQIA+

Unsplash/Christian Lue
35,8% dos entrevistados afirmaram já ter viajado para participar de eventos LGBTQIA+, enquanto 33,3% nunca realizaram viagens com esse foco, mas demonstram interesse
35,8% dos entrevistados afirmaram já ter viajado para participar de eventos LGBTQIA+, enquanto 33,3% nunca realizaram viagens com esse foco, mas demonstram interesse

Um estudo inédito sobre o Turismo LGBTQIA+, realizado pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), revelou que 87,2% dos entrevistados consideram a segurança e o acolhimento fatores fundamentais na decisão dos destinos e dos meios de hospedagem escolhidos para suas viagens.

A pesquisa, encomendada pela IGLTA Foundation, também apontou que 85% atribuem essa mesma importância na hora de optar por atividades de entretenimento, como festas e espetáculos, e 84,7% para experiências gastronômicas.

O relatório analisou as respostas de 405 participantes, coletadas entre maio e agosto de 2024, e traçou um panorama das tendências de viagem e preferências do público LGBTQIA+. Entre os principais achados, destacam-se a relevância da filiação de estabelecimentos e destinos a organizações LGBTQIA+, a busca por ambientes seguros e a valorização de infraestrutura inclusiva.

Destinos e comportamentos de viagem

A pesquisa identificou que São Paulo e Rio de Janeiro são os destinos mais lembrados (Top of Mind) pelos turistas LGBTQIA+, especialmente por suas cenas culturais vibrantes e eventos abrangentes, como a Parada do Orgulho LGBT+. Internacionalmente, destinos como San Francisco, Mykonos e Ibiza também figuraram entre os mais citados.

Outros destinos brasileiros mencionados foram Recife, Belo Horizonte, Morro de São Paulo, Fernando de Noronha, Paraty, Bonito, Pipa, Gramado e Balneário Camboriú. Essa diversidade indica um equilíbrio entre locais urbanos, com estrutura e vida cultural, e opções voltadas ao turismo ecológico e de praia.

Em relação ao comportamento de viagem, 35,8% dos entrevistados afirmaram já ter viajado para participar de eventos LGBTQIA+, enquanto 33,3% nunca realizaram viagens com esse foco, mas demonstram interesse. Além disso, 69,1% acreditam que a Fundação IGLTA pode auxiliá-los em futuras viagens.

Segurança

Questões de segurança ainda exercem forte influência sobre as escolhas dos turistas dessa comunidade. Cerca de 45,2% afirmaram já ter evitado destinos por não se sentirem seguros, embora 57,3% relatem nunca terem sofrido discriminação em atrativos turísticos. No entanto, 23% dos entrevistados já vivenciaram situações discriminatórias em viagens.

A busca por ambientes seguros também se reflete na preferência por hospedagens em áreas identificadas como acolhedoras para a comunidade. Aproximadamente 80% dos participantes manifestaram essa preferência, destacando a importância de políticas inclusivas e estrutura adequada para receber o público LGBTQIA+.

Preferências e tendências de compra

O relatório apontou ainda que 45,4% dos viajantes preferem viajar sozinhos, 66,4% escolhem viajar com amigos e 57,8% em casal, com muitos indicando mais de uma opção. Quanto às hospedagens, 56,4% optam por meios formais, como hotéis e pousadas, enquanto 22% preferem se hospedar na casa de amigos ou parentes, e 20,3% utilizam plataformas como o Airbnb.

As redes sociais também foram destacadas como fonte essencial de informações sobre Turismo LGBTQIA+. O Instagram lidera a preferência (77%), seguido pelo YouTube (26,9%), Facebook (17,5%) e TikTok (15,6%). Na compra de viagens, 50,5% utilizam plataformas on-line diretamente com fornecedores, e 37,2% recorrem a agências físicas ou digitais.

Unsplash/Elizeu Dias
O Rio de Janeiro está entre os destinos mais lembrados (Top of Mind) pelos turistas LGBTQIA+
O Rio de Janeiro está entre os destinos mais lembrados (Top of Mind) pelos turistas LGBTQIA+

Oportunidades e desafios

Embora a pesquisa tenha revelado um público atento à inclusão e à segurança, também apontou divergências sobre a importância da filiação de destinos e hospedagens a organizações LGBTQIA+. Enquanto muitos entrevistados demonstraram inclinação moderada para essa escolha, uma parcela significativa expressou forte discordância.

De acordo com os pesquisadores, essa polarização indica oportunidades para ampliar campanhas de conscientização sobre os benefícios dessa filiação, reforçando as vantagens de ambientes seguros e inclusivos.

"O relatório destaca a necessidade de desenvolver estratégias que promovam a inclusão e o acolhimento, especialmente para aqueles que enfrentam múltiplas camadas de exclusão"

Pesquisadores Cesar Alves Ferragi (UFSCar) e Cassiana Panissa Gabrielli (UFPR)

Perfil dos participantes

A maior parte dos respondentes (30,1%) tem entre 35 e 44 anos, seguida pela faixa de 25 a 34 anos (28,1%). Cerca de 90% se identificaram como pessoas cisgênero, sendo 61,5% homens e 28,6% mulheres. Pessoas trans e não-binárias também participaram, representando, respectivamente, 2,9% e 1,7%.

O relatório completo está disponível AQUI.

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