Superar pandemia é coisa do passado: Brasil precisa acelerar seu Turismo
Presidente e CEO do WTTC, Julia Simpson está no País pela primeira vez e deu entrevista ao Portal PANROTAS
Superar os índices pré-pandemia já deixou de ser um desafio para a indústria de Turismo do Brasil. Esse obstáculo foi superado no ano passado, quando o setor bateu em 7% os números de 2019. Já em 2024, a estimativa é de um faturamento de US$ 169,3 bilhões, excedendo o período pré-pandemia em 9,5% e com alta de 2,3% ante 2023.
Sob esse ponto de vista, os resultados são positivos. Porém, na comparação com a média global, a indústria de Turismo do Brasil está abaixo do que pode oferecer para a economia nacional, sobretudo em virtude do potencial do País em termos de atrativos para férias com seus diversos produtos de natureza, aventura e cultura.
Essa é a análise que faz o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), órgão responsável pela consolidação dos números ao lado do instituto Oxford Economics. A presidente e CEO do WTTC, Julia Simpson, está no Brasil pela primeira vez e recebeu o Portal PANROTAS para um bate-papo.
A britânica participará da reunião do G20 sobre Turismo em Belém nesta semana e, em passagem por São Paulo, elencou alguns dos principais desafios enfrentados pela indústria nacional para colocar o País na mesma página dos índices globais.
Segundo os dados do WTTC, o setor de Viagens e Turismo mundial encerrará 2024 com faturamento de US$ 11 trilhões, representando 10% do PIB global. No Brasil, os US$ 169,3 bilhões de Viagens e Turismo representarão 7,8% do PIB nacional.
"O setor de Viagens e Turismo vai bem no Brasil, mas pode mais. Com todo o potencial turístico do País, com toda a oferta de natureza, aventura, gastronomia e essa famosa hospitalidade, era para o Brasil estar no mínimo alinhado com a proporção global, mas não está crescendo na mesma velocidade", afirma Julia Simpson. "Entender por que isso não está acontecendo e transmitir recomendações aos setores público e privado brasileiros é um dos motivos de nossa visita", completa.
De acordo com a presidente e CEO do WTTC, tal morosidade faz o Brasil perder olhares de importantes investidores internacionais. A vinda de navios de cruzeiro, a construção de parques, hotéis e resorts e a formatação de rotas das companhias aéreas para o País fica comprometido.
Em um prazo mais elástico, a velocidade de Viagens e Turismo do Brasil perto da média global é ainda mais lenta: em 2034, a indústria representaria 7,4% do PIB brasileiro; enquanto a média global seria de 11,4%.
"Globalmente, a previsão é de que Viagens e Turismo cresça 1,4 ponto percentual de 2024 a 2034, enquanto no Brasil vemos uma redução de 0,4 ponto percentual no mesmo período comparativo, de acordo com nossos estudos em parceria com Oxford Economics. Definitivamente, é um ritmo para o qual devemos olhar", pondera Julia Simpson.
No doméstico, o Brasil cumpre seu papel, já no inter...
Em termos de faturamento doméstico, o Brasil movimentou US$ 111,2 bilhões no ano passado (R$ 555,4 bilhões), superando em 9,9% os índices de 2019. Contudo, tal cifra representa 94,3% dos gastos do setor no País, isto é, apenas 5,7% dos gastos foi de visitantes internacionais.
"Claro, o Brasil tem dimensão continental, é um país com um mercado doméstico incrivelmente forte, mas essa quantidade de gastos de visitantes estrangeiros é mínima. Aliás, a quantidade de chegadas estrangeiras no Brasil está muito aquém de seu potencial. Estamos falando de uma grande oportunidade quando falamos em impulsionar os gastos internacionais", avalia Julia.
Investimento em infraestrutura
E então, por que o Brasil não está atraindo mais estrangeiros com seus dólares, euros, ienes, libras, dólares canadenses?
"Falta de infraestrutura é uma das razões. O Brasil precisa investir em equipamentos que facilitem a visita do estrangeiro. Mais e melhores aeroportos, acesso a esses terminais, trens, ônibus, modais alternativos... mas não só transporte, como outras modernidades diretas e indiretas para o Turismo."
Facilitação dos vistos
Outro assunto que Julia Simpson levará à mesa do ministério do Turismo e da Embratur será a necessidade de facilitar a entrada de estrangeiros de mercados emissores potentes como os Estados Unidos.
"O WTTC tem cases e mais cases dos últimos anos mostrando o quanto a documentação impacta na visitação internacional e consequentemente no aumento do Turismo de um destino em potencial como o Brasil. O México se tornou um protagonista global quando facilitou seu sistema de vista para o mundo, por exemplo", ilustra a presidente e CEO do WTTC.
Promoção do Brasil no Exterior
Na visão da britânica, o Brasil não conseguirá se tornar relevante em competitividade de Turismo global se não reforçar seu investimento em promoção no Exterior. O que antes era uma briga entre poucos países, hoje se tornou uma batalha extremamente acirrada: a disputa pelo visitante francês, britânico, estadunidense, canadense, japonês, saudita e tantos outros de grandes mercados emissores.
"Há cada vez mais destinos disputando espaços de marketing extremamente valiosos para mostrar seus diferenciais. Onde está o Brasil neste cenário? O País definitivamente precisa investir mais e ser assertivo em suas escolhas, ter uma inteligência de mercado. Esse esforço para controlar a narrativa e captar a audiência não é um mero detalhe. Se as pessoas continuarem vendo o Brasil apenas pelos telejornais, elas vão naturalmente focar nos pontos negativos. E acredite, não é só o Brasil que emana notícias negativas lá fora. Todos os principais destinos têm seus problemas noticiados. A questão é controlar a narrativa e mostrar os aspectos positivos"
Julia Simpson, presidente e CEO do Conselho Mundial de Viagens e Turismo WTTC
Turismo como gerador de empregos no Brasil
Estima-se que o setor de viagens e Turismo encerrará 2024 com mais de oito milhões de empregos no Brasil, o que representa 8,1% dos postos de trabalho no País, nos cálculos do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) em parceria com Oxford Economics.
"Em 2023, a indústria também reforçou sua potência em geração de empregos no Brasil: foram criados 91 mil postos de trabalhos adicionais na comparação com 2019, fazendo o País terminar 2019 com 7,76 milhões de empregos para Viagens e Turismo", conclui.
Indicador | Número |
---|---|
Faturamento do Turismo do Brasil em 2024 (estimativa) | US$ 169,3 bilhões |
Crescimento de 2024 em relação a 2019 (estimativa) | 9,5% |
Crescimento de 2024 em relação a 2023 (estimativa) | 2,3% |
Contribuição do Turismo do Brasil ao PIB nacional em 2024 (estimativa) | 7,8% |
Faturamento do Turismo doméstico do Brasil em 2023 | US$ 111,2 bilhões (R$ 555,4 bilhões) |
Crescimento em relação a 2019 (faturamento doméstico) | 9,9% |
Percentual de gastos de visitantes domésticos | 94,3% |
Percentual de gastos de visitantes internacionais | 5,7% |
Previsão de contribuição ao PIB nacional em 2034 | 7,4% |
Previsão de contribuição ao PIB global em 2034 | 11,4% |
Crescimento global de Viagens e Turismo (2024-2034) | +1,4 p.p. |
Crescimento no Brasil de Viagens e Turismo (2024-2034) | -0,4 p.p. |
Empregos gerados pelo Turismo no Brasil em 2024 (estimativa) | >8 milhões (8,1% dos postos de trabalho) |
Empregos adicionais criados em 2023 em comparação a 2019 | 91 mil |
Fonte: Conselho Mundial de Viagens e Turismo WTTC