Rodrigo Vieira   |   18/09/2024 09:00
Atualizada em 18/09/2024 10:00

Superar pandemia é coisa do passado: Brasil precisa acelerar seu Turismo

Presidente e CEO do WTTC, Julia Simpson está no País pela primeira vez e deu entrevista ao Portal PANROTAS

Divulgação/WTTC
Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC, em entrevista exclusiva para a PANROTAS, em São Paulo
Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC, em entrevista exclusiva para a PANROTAS, em São Paulo

Superar os índices pré-pandemia já deixou de ser um desafio para a indústria de Turismo do Brasil. Esse obstáculo foi superado no ano passado, quando o setor bateu em 7% os números de 2019. Já em 2024, a estimativa é de um faturamento de US$ 169,3 bilhões, excedendo o período pré-pandemia em 9,5% e com alta de 2,3% ante 2023.

Sob esse ponto de vista, os resultados são positivos. Porém, na comparação com a média global, a indústria de Turismo do Brasil está abaixo do que pode oferecer para a economia nacional, sobretudo em virtude do potencial do País em termos de atrativos para férias com seus diversos produtos de natureza, aventura e cultura.

Essa é a análise que faz o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), órgão responsável pela consolidação dos números ao lado do instituto Oxford Economics. A presidente e CEO do WTTC, Julia Simpson, está no Brasil pela primeira vez e recebeu o Portal PANROTAS para um bate-papo.

A britânica participará da reunião do G20 sobre Turismo em Belém nesta semana e, em passagem por São Paulo, elencou alguns dos principais desafios enfrentados pela indústria nacional para colocar o País na mesma página dos índices globais.

Segundo os dados do WTTC, o setor de Viagens e Turismo mundial encerrará 2024 com faturamento de US$ 11 trilhões, representando 10% do PIB global. No Brasil, os US$ 169,3 bilhões de Viagens e Turismo representarão 7,8% do PIB nacional.

"O setor de Viagens e Turismo vai bem no Brasil, mas pode mais. Com todo o potencial turístico do País, com toda a oferta de natureza, aventura, gastronomia e essa famosa hospitalidade, era para o Brasil estar no mínimo alinhado com a proporção global, mas não está crescendo na mesma velocidade", afirma Julia Simpson. "Entender por que isso não está acontecendo e transmitir recomendações aos setores público e privado brasileiros é um dos motivos de nossa visita", completa.

De acordo com a presidente e CEO do WTTC, tal morosidade faz o Brasil perder olhares de importantes investidores internacionais. A vinda de navios de cruzeiro, a construção de parques, hotéis e resorts e a formatação de rotas das companhias aéreas para o País fica comprometido.

Em um prazo mais elástico, a velocidade de Viagens e Turismo do Brasil perto da média global é ainda mais lenta: em 2034, a indústria representaria 7,4% do PIB brasileiro; enquanto a média global seria de 11,4%.

"Globalmente, a previsão é de que Viagens e Turismo cresça 1,4 ponto percentual de 2024 a 2034, enquanto no Brasil vemos uma redução de 0,4 ponto percentual no mesmo período comparativo, de acordo com nossos estudos em parceria com Oxford Economics. Definitivamente, é um ritmo para o qual devemos olhar", pondera Julia Simpson.

No doméstico, o Brasil cumpre seu papel, já no inter...

Alexandre Macieira/Riotur
Brasil movimentou US$ 111,2 bilhões no ano passado (R$ 555,4 bilhões), superando em 9,9% os índices de 2019
Brasil movimentou US$ 111,2 bilhões no ano passado (R$ 555,4 bilhões), superando em 9,9% os índices de 2019

Em termos de faturamento doméstico, o Brasil movimentou US$ 111,2 bilhões no ano passado (R$ 555,4 bilhões), superando em 9,9% os índices de 2019. Contudo, tal cifra representa 94,3% dos gastos do setor no País, isto é, apenas 5,7% dos gastos foi de visitantes internacionais.

"Claro, o Brasil tem dimensão continental, é um país com um mercado doméstico incrivelmente forte, mas essa quantidade de gastos de visitantes estrangeiros é mínima. Aliás, a quantidade de chegadas estrangeiras no Brasil está muito aquém de seu potencial. Estamos falando de uma grande oportunidade quando falamos em impulsionar os gastos internacionais", avalia Julia.

Investimento em infraestrutura

E então, por que o Brasil não está atraindo mais estrangeiros com seus dólares, euros, ienes, libras, dólares canadenses?

"Falta de infraestrutura é uma das razões. O Brasil precisa investir em equipamentos que facilitem a visita do estrangeiro. Mais e melhores aeroportos, acesso a esses terminais, trens, ônibus, modais alternativos... mas não só transporte, como outras modernidades diretas e indiretas para o Turismo."

Facilitação dos vistos

Outro assunto que Julia Simpson levará à mesa do ministério do Turismo e da Embratur será a necessidade de facilitar a entrada de estrangeiros de mercados emissores potentes como os Estados Unidos.

"O WTTC tem cases e mais cases dos últimos anos mostrando o quanto a documentação impacta na visitação internacional e consequentemente no aumento do Turismo de um destino em potencial como o Brasil. O México se tornou um protagonista global quando facilitou seu sistema de vista para o mundo, por exemplo", ilustra a presidente e CEO do WTTC.

Promoção do Brasil no Exterior

Na visão da britânica, o Brasil não conseguirá se tornar relevante em competitividade de Turismo global se não reforçar seu investimento em promoção no Exterior. O que antes era uma briga entre poucos países, hoje se tornou uma batalha extremamente acirrada: a disputa pelo visitante francês, britânico, estadunidense, canadense, japonês, saudita e tantos outros de grandes mercados emissores.

"Há cada vez mais destinos disputando espaços de marketing extremamente valiosos para mostrar seus diferenciais. Onde está o Brasil neste cenário? O País definitivamente precisa investir mais e ser assertivo em suas escolhas, ter uma inteligência de mercado. Esse esforço para controlar a narrativa e captar a audiência não é um mero detalhe. Se as pessoas continuarem vendo o Brasil apenas pelos telejornais, elas vão naturalmente focar nos pontos negativos. E acredite, não é só o Brasil que emana notícias negativas lá fora. Todos os principais destinos têm seus problemas noticiados. A questão é controlar a narrativa e mostrar os aspectos positivos"

Julia Simpson, presidente e CEO do Conselho Mundial de Viagens e Turismo WTTC

Turismo como gerador de empregos no Brasil

Estima-se que o setor de viagens e Turismo encerrará 2024 com mais de oito milhões de empregos no Brasil, o que representa 8,1% dos postos de trabalho no País, nos cálculos do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) em parceria com Oxford Economics.

"Em 2023, a indústria também reforçou sua potência em geração de empregos no Brasil: foram criados 91 mil postos de trabalhos adicionais na comparação com 2019, fazendo o País terminar 2019 com 7,76 milhões de empregos para Viagens e Turismo", conclui.

IndicadorNúmero
Faturamento do Turismo do Brasil em 2024 (estimativa)US$ 169,3 bilhões
Crescimento de 2024 em relação a 2019 (estimativa)9,5%
Crescimento de 2024 em relação a 2023 (estimativa)2,3%
Contribuição do Turismo do Brasil ao PIB nacional em 2024 (estimativa)
7,8%
Faturamento do Turismo doméstico do Brasil em 2023US$ 111,2 bilhões (R$ 555,4 bilhões)
Crescimento em relação a 2019 (faturamento doméstico)9,9%
Percentual de gastos de visitantes domésticos
94,3%
Percentual de gastos de visitantes internacionais
5,7%
Previsão de contribuição ao PIB nacional em 20347,4%
Previsão de contribuição ao PIB global em 203411,4%
Crescimento global de Viagens e Turismo (2024-2034)+1,4 p.p.
Crescimento no Brasil de Viagens e Turismo (2024-2034)-0,4 p.p.
Empregos gerados pelo Turismo no Brasil em 2024 (estimativa)>8 milhões (8,1% dos postos de trabalho)
Empregos adicionais criados em 2023 em comparação a 201991 mil

Fonte: Conselho Mundial de Viagens e Turismo WTTC

Quer receber notícias como essa, além das mais lidas da semana e a Revista PANROTAS gratuitamente?
Entre em nosso grupo de WhatsApp.

Tópicos relacionados