Educadora financeira dá seis dicas de como viajar sem estourar o orçamento
Thaísa Durso, educadora financeira da Rico, compartilha suas dicas para viajar mesmo com o dólar alto
Viajar para o exterior é o desejo de muitos brasileiros, mas a alta do dólar nos últimos anos tem tornado essa realidade cada vez mais desafiadora. Para aqueles que já estão com a viagem marcada, as preocupações aumentam, pois os custos previstos — como hospedagem, alimentação e passeios — podem acabar pesando ainda mais no bolso.
Historicamente, o dólar tem demonstrado uma trajetória de alta em relação ao real. A taxa de câmbio nominal, que representa o valor de uma moeda em relação a outra sem considerar os efeitos da inflação, é um dado que pode ilustrar essa dinâmica. Por exemplo, de acordo com dados do Banco Central, a taxa de câmbio nominal era de R$ 1,86 em dezembro de 2011 e alcançou R$ 6,18 em dezembro de 2024. Essa elevação evidencia a valorização do dólar frente ao real ao longo dos anos.
Mas saiba que é possível amenizar a variação cambial com algumas estratégias e um planejamento financeiro robusto, e assim, contornar o problema. Confira a seguir as 6 dicas práticas da Thaísa Durso, educadora financeira da Rico, para driblar a alta do dólar.
Estratégias para mitigar o impacto da alta do dólar
1) Organize o orçamento da viagem
O primeiro passo para organizar sua viagem internacional, especialmente em tempos de alta do dólar, é revisar cuidadosamente o orçamento.
Separe suas despesas em categorias, como transporte, hospedagem, alimentação, passeios e compras. Identifique as prioridades e elimine ou substitua gastos que não são essenciais. Por exemplo, você pode optar por passeios gratuitos ou com descontos e explorar restaurantes menos turísticos, que oferecem boa comida a preços mais acessíveis.
Além disso, avalie o quanto você pode gastar na viagem. Estime os custos diários no destino, incluindo transporte, alimentação, passeios e compras. Esse cuidado ajuda a evitar surpresas e mantém o controle financeiro.
2) Antecipe despesas sempre que possível
Antecipar gastos pode ser outra estratégia inteligente. Comprar ingressos para atrações e reservar serviços com antecedência protege contra futuras oscilações cambiais e facilita o planejamento financeiro.
3) Use ferramenta de controle
Utilizar ferramentas como planilhas é essencial para manter o controle sobre suas despesas e garantir que o planejamento esteja alinhado com seus objetivos.
4) Diversifique os meios de pagamento
A escolha da melhor forma de pagamento depende de diversos fatores, incluindo o destino, o perfil do viajante e o orçamento disponível. Abaixo, a educadora analisou os prós e contras das 4 principais opções disponíveis:
Dinheiro em espécie: É uma das opções mais acessíveis e práticas para pequenos gastos diários, como transporte, alimentação e lembranças. Ele possui a vantagem de um IOF reduzido (1,1% atualmente), sendo a modalidade com a menor tributação na conversão de moeda. Porém, é necessário cautela devido ao risco de perda ou roubo. Para evitar problemas, leve apenas o necessário para despesas menores e distribua o valor em diferentes locais na bagagem e na carteira, respeitando as regras de transporte de valores do país.
Cartão pré-pago: É uma excelente ferramenta para quem deseja maior previsibilidade nos gastos, pois permite travar a cotação do dólar no momento da recarga. Além disso, é mais seguro que o dinheiro em espécie, já que pode ser bloqueado em caso de perda ou roubo. Contudo, é fundamental estar atento às taxas de recarga e saques, que podem variar conforme a instituição emissora, além do IOF de 4,38% vigente atualmente o que significa que uma compra de R$ 100 geraria uma taxa de R$ 4,38.
Cartão de crédito: Oferece praticidade e segurança, sendo indispensável para emergências ou compras pontuais durante a viagem. Entretanto, apresenta um IOF de 4,38% e o câmbio aplicado é o da data de processamento da compra, o que pode gerar valores inesperados devido às oscilações da moeda. Por isso, seu uso deve ser moderado. Alguns cartões oferecem benefícios como seguro-viagem e programas de recompensas, que podem agregar valor ao planejamento.
Conta global: Essa modalidade tem se destacado como uma alternativa prática e econômica para lidar com a alta do dólar. Trata-se de contas correntes que podem ser abertas ainda no Brasil. Geralmente, o processo é simples, pode ser realizado pelo celular e, dependendo da instituição escolhida, é gratuito.
Com um IOF reduzido (1,1%) nas transferências, as contas globais permitem converter reais para dólares ou outras moedas com taxas mais competitivas. Além disso, possibilitam realizar conversões de forma gradual, o que ajuda a suavizar os impactos das flutuações cambiais. O saldo em moeda estrangeira pode ser acessado por meio de um cartão vinculado à conta, sendo ideal para compras e saques no exterior. Entretanto, antes de optar por esse meio de pagamento é importante verificar as tarifas de manutenção ou transferência cobradas pela instituição.
Qual meio de pagamento escolher?
Entre os 4 meios de pagamento, o cartão pré-pago oferece maior controle financeiro ao travar a cotação no momento da recarga, enquanto o cartão de crédito é mais adequado para emergências ou compras pontuais, devido à sua praticidade, apesar da incerteza cambial. O dinheiro em espécie e contas globais têm a vantagem de garantir o câmbio no momento da compra, ao contrário do cartão de crédito, que depende da cotação no dia do processamento, adicionando incertezas.
Além disso, a troca em casas de câmbio reduz o IOF para 1,1%, representando uma economia em relação à alíquota de 4,38% aplicada aos cartões. Com o dólar em patamar elevado, adotar essa estratégia ajuda a equilibrar o orçamento durante a viagem.
A melhor abordagem é diversificar: leve uma pequena quantia em espécie para gastos menores, utilize o cartão pré-pago para despesas principais e mantenha o cartão de crédito como opção para imprevistos.
5) Compre dólar aos poucos
Agora vamos a uma dúvida comum entre os viajantes: é uma boa ideia comprar dólar mesmo em tempos de alta? Sim, a compra de moeda deve ser feita de forma gradual, aproveitando dias de cotações mais favoráveis. Essa estratégia ajuda a diluir o impacto das flutuações cambiais, construindo um preço médio mais vantajoso e reduzindo a exposição a picos de alta.
Aqui está uma simulação que ilustra a compra mensal de 200 dólares entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024. A simulação também calcula o preço médio ao longo do período, demonstrando os benefícios da disciplina nas compras mensais.
Para a simulação, a educadora considerou os seguintes pontos:
- Compra mensal fixa de 200 dólares.
- Cotações simuladas baseadas na cotação do dólar em cada um dos períodos.
- Cálculo do preço médio acumulado ao longo do tempo.
Mês | Cotação do Dólar | Valor Pago (R$) | Acumulado US$ | Acumulado R$ | Preço Médio (R$/ US$) |
Dez/2023 | 5,30 | 1.060,00 | 200 | 1.060,00 | 5,30 |
Jan/2024 | 5,35 | 1.070,00 | 400 | 2.130,00 | 5,33 |
Fev/2024 | 5,40 | 1.080,00 | 600 | 3.210,00 | 5,35 |
Mar/2024 | 5,50 | 1.100,00 | 800 | 4.310,00 | 5,39 |
Abr/2024 | 5,60 | 1.120,00 | 1.000 | 5.430,00 | 5,43 |
Mai/2024 | 5,55 | 1.110,00 | 1.200 | 6.540,00 | 5,45 |
Jun/2024 | 5,70 | 1.140,00 | 1.400 | 7.680,00 | 5,49 |
Jul/2024 | 5,65 | 1.130,00 | 1.600 | 8.810,00 | 5,51 |
Ago/2024 | 5,80 | 1.160,00 | 1.800 | 9.970,00 | 5,54 |
Set/2024 | 5,75 | 1.150,00 | 2.000 | 11.120,00 | 5,56 |
Out/2024 | 6,00 | 1.200,00 | 2.200 | 12.320,00 | 5,60 |
Nov/2024 | 6,10 | 1.220,00 | 2.400 | 13.540,00 | 5,65 |
Dez/2024 | 6,20 | 1.240,00 | 2.600 | 14.780,00 | 5,68 |
Resultado da simulação:
- Total em dólares acumulado: 2.600 dólares.
- Total pago em reais: R$ 14.780,00.
- Preço médio final: R$ 5,68 por dólar.
Nessa simulação, a conclusão é que o preço médio do dólar foi menor do que as cotações mais altas registradas no final do período. Isso ocorre porque o investidor aproveitou os meses iniciais, quando as cotações estavam mais baixas, diluindo o impacto das altas posteriores.
Dessa forma, a compra gradual de moeda estrangeira ao longo do tempo é uma estratégia eficaz para suavizar as oscilações do câmbio e evitar picos desfavoráveis, proporcionando maior controle sobre os custos. Além disso, essa abordagem protege o investidor de que sua viagem se torne inviável em caso de uma alta do dólar nas vésperas da viagem.
6) Invista até o grande dia
Investir o valor destinado à viagem em aplicações seguras e rentáveis é uma estratégia eficiente para proteger seu orçamento e maximizar seus recursos. O rendimento obtido pode ser usado para cobrir gastos imprevistos, como uma alta inesperada no dólar, despesas médicas ou até mesmo para complementar despesas com passeios, compras ou melhorias na hospedagem.
O Tesouro Selic, por exemplo, é uma opção de investimento em renda fixa considerada de baixo risco, ideal para objetivos de curto prazo. Ele oferece liquidez diária e acompanha a taxa básica de juros da economia (a Selic). De acordo com a projeção dos nossos especialistas, a Taxa Selic, atualmente em 12,25%, deve continuar oferecendo uma rentabilidade atrativa para quem investe em produtos atrelados a ela, com expectativa de alcançar 15,5% em 2025.
Para ilustrar, ao investir R$ 10.000,00 a uma taxa de 12,25% ao ano, equivalente a atual taxa Selic, o montante acumulado ao final de 12 meses seria de aproximadamente R$ 11.000,00 líquidos, ou seja, já considerando o desconto de impostos.
Essa rentabilidade representa quase 1% ao mês, um percentual muito atrativo quando pensamos em taxas de retorno de investimentos, ainda mais se levarmos em consideração que, investimentos da categoria renda fixa tem, por característica, menor risco, o que pode equilibrar os impactos da alta do dólar, proporcionando maior tranquilidade financeira e flexibilidade para sua viagem.