Turismo brasileiro vai decolar em 2024? Veja tendências e desafios
Especialistas trazem dados e perspectivas para a aviação, hotelaria, agências e viagens corporativas
Como será o ano de 2024 para o setor de Turismo? Quais serão as tendências e desafios? Essas são algumas das questões que nortearam o debate realizado hoje (19) entre o coordenador do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze, e o sócio-diretor do BCG São Paulo, Leandro Paez, durante o evento virtual Café Sem Filtro, realizado pela FecomercioSP com apoio da PANROTAS.
De acordo com os especialistas, os números mostram um cenário positivo. O setor de Turismo deve encerrar o ano de 2023 com um faturamento de cerca de R$ 190 bilhões, o que representa alta de 11% em relação a 2022, de acordo com projeção feita pela FecomercioSP. Outro estudo da entidade mostra que mais de 60% dos consumidores têm a expectativa de aumentar seus gastos com viagens a lazer no próximo ano. No corporativo, esse número é superior a 40%.
“Isso mostra dois efeitos: uma maior intenção de fazer viagens, com gasto médio maior, e também uma expectativa inflacionária. As pessoas já viram um aumento de preços nessa categoria, esperam que o tíquete médio aumente, então já sabem que vão gastar mais. O consumidor se acostuma com alta nos preços”, explica Dietze.
E é aí que entra a pergunta:
Em 2024 haverá redução no preço das passagens aéreas?
“Para 2024 vemos que as companhias aéreas terão dificuldade para aumentar sua oferta de assentos, por causa de atrasos na entrega de aeronaves. Sendo assim, a capacidade aérea no Brasil não vai aumentar muito. As pessoas continuarão viajando, então imaginamos que seja um ano de crescimento moderado de demanda e manutenção de preços razoavelmente elevados”, destaca Paez, do BCG São Paulo.
“Já temos algumas medidas do governo para a redução dos preços das passagens, mas como o custo de combustível e câmbio continua elevado e teremos essa questão da restrição de capacidade, acreditamos que os preços ainda estejam altos”, afirma o especialista. O setor aéreo deve fechar o ano com 100 milhões de passageiros transportados no País em 2023, um salto de 10% versus 2022.
E como será 2024 para a hotelaria, agências de viagens e locadoras?
- Na hotelaria o cenário será semelhante ao das companhias aéreas, de acordo com Paez. "As taxas de ocupação devem aumentar ainda mais e é um bom momento para o setor pensar em aumento de capacidade. A hotelaria brasileira está estável em oferta de quartos desde 2019 e agora é o momento de ampliar esses números". Segundo ele, em 2023 a ocupação hoteleira no Brasil ficou acima de 60%, fator associado a uma diária média 30% maior que 2022;
- "A pandemia trouxe, para o setor de locação, um grande desafio para a compra de carros novos e usados, o que desestabilizou o negócio, mas agora há um equilíbrio e a volta da compra de veículos novos. Estamos chegando a patamares acima de 40 mil veículos na frota das principais locadoras. Também vimos no setor de locação um crescimento de 13% ao ano na diária média, de 2019 até agora, além de níveis de utilização da frota acima de 70% na maioria dos meses", destaca Paez.
- As agências de viagens, por sua vez, tiveram um 2023 muito bom em termos de demanda. "E vemos as agências de Turismo reabrindo lojas físicas e investindo nos canais digitais, o que mostra um futuro positivo".
Corporativo como grande motor do Turismo nacional
"Quando a mídia mostra as viagens, sempre destaca a praia, mas é importante lembrar que as viagens corporativas respondem por 60% do Turismo no Brasil, sendo um grande motor de crescimento do Turismo nacional", destaca Guilherme Dietze.
Segundo ele, o segmento de viagens corporativas ainda não voltou completamente, estando 20% abaixo dos números pré-pandemia. "Isso é reflexo de politicas de trabalho remoto e da menor necessidade de deslocar funcionários. Além disso, a elasticidade dos preços, que se tornam mais elevados na curta antecedência, faz com que algumas empresas repensam viagens de curto prazo e as substituam por videoconferências", afirma o coordenador do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
Shows e eventos impactam positivamente a economia
O investimento em eventos de grande porte tem impulsionado a economia do Brasil de forma significativa, resultando em um maior fluxo turístico "Em 2023 ficou muito claro o impacto dos grandes eventos e shows na economia do País. Houve o show do Coldplay em São Paulo, depois o festival The Town, seguido pelos shows da Taylor Swifit. Esses eventos movimentaram completamente a cadeia de Turismo e quanto mais eventos desse porte, melhor. Mas é preciso descentralizá-los para que haja mais movimentação de turistas por todo o País, considerando que esses eventos só acontecem em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro", considera Dietze.
Os entraves do Turismo no Brasil
Embora as perspectivas para o Turismo sejam boas, o setor ainda tem muitos entraves para resolver, de acordo com os especialistas que participaram do debate. Um deles é a chegada de estrangeiros ao País. O Brasil recebe 6 milhões de estrangeiros por ano, o que pode parecer um número alto, mas é baixo quando comparado a outros países, como o México, por exemplo, que recebe 40 milhões de turistas anualmente.
"Precisamos avançar nessa questão para gerar competitividade. É necessária a redução das amarras do Estado, da carga tributária, da taxa de juros e da burocracia no ambiente de vistos, para que possamos tornar o País cada vez mais adequado aos investimentos das empresas, gerando emprego e renda. Precisamos promover uma estrutura de Turismo mais adequada a brasileiros e estrangeiros", afirma o coordenador do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
A exigência de vistos é um entrave?
O Brasil voltará a exigir vistos de cidadãos da Austrália, Canadá e EUA em 2024 e, de acordo com Guilherme Dietze, a FecomercioSP não é a favor dessa medida. "Temos trabalhado para eliminar essa exigência de vistos, a Fecomercio quer a redução da burocracia. Países como o Chile, a Argentina e a Colômbia têm isenção de visto para norte-americanos e quando o Brasil coloca o eVisa por US$ 80, cria uma limitação e gera um custo a mais para os estrangeiros, que poderiam estar gastando esse valor em bares e hotéis, por exemplo. Vamos trabalhar para tirar essa barreira. Estudos da WTM mostram que redução de burocracia traz benefícios para o Turismo", destaca.
Disputa Galeão x Santos Dumont atrasa o desenvolvimento do setor
Outro ponto de destaque no debate de hoje foi a questão da infraestrutura dos aeroportos no Brasil. "Diante dessa questão do remanejamento dos voos entre o Aeroporto Santos Dumont e o Galeão, no Rio de Janeiro, as companhias aéreas são as que mais sofrem. Afinal, como essas empresas vão se adaptar da noite para o dia com sua malha aérea, diante de tantas mudanças nos aeroportos? Como vão se estruturar para atender o público de maneira eficiente? As companhias saem machucadas com toda essa insegurança, que atrapalha o desenvolvimento do Turismo nacional", aponta Dietze.
A questão também recai na estrutura insuficiente de muitos aeroportos no País. "No Nordeste, o aeroporto de Porto Seguro parece uma rodoviária, sem ar-condicionado, em uma região extremamente quente. Belém e Maranhão também têm aeroportos defasados, que perdem competitividade em relação a outros terminais no Brasil. È preciso dar oportunidade de investimento para as empresas, por meio de programas de concessões de aeroportos, passar para a iniciativa privada para trazer investimento".